NSrª das Pedras e Alagados
O explorador que recorre (ou repedala) às regiões próximas de casa encara uma grande verdade: pode repetir o quanto quiser, sempre encontrará algo novo. De fato, em nosso caos caso a região de Ponta Grossa se enquadra muito bem: grandes e bons projetos já rolaram
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, sempre deixando lacunas e arestas.
Nessa rodada decidimos preencher lacunas e revisitar lugares que merecem ser revistos, uma coqueluche de porteiras e paisagens incríveis. Muita água banhando rios e cachoeiras, caindo dos céus e encharcando o solo, traçando o seu próprio caminho - e, porque não dizer, delineando o nosso caminho também.
Assim foi mais um carnaval do odois. Não foi isolado, pois a noite na Mariquinha fez questão de nos lembrar da festa. Não foi pomposo, como revela a noite sob a cobertura do boteco em Biscaia. Mas, sem dúvida, não foi um carnaval convencional. E a escolha valeu cada aresta aparada.
Capítulos
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1Transporteira 1 dia 114 kmDIA 1 curitiba, cercado, nossa senhora das pedras, itaiacoca, passo do pupo
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2Água por todos os lados 1 dia 29 kmDIA 2 cachoeira da mariquinha, poço das andorinhas, passo do pupo, biscaia
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3No caminho do trem 1 dia 73 kmDIA 3 usina são jorge, represa dos alagados, ponta grossa
Nossa fé nos caminhos que levam às entranhas dos Campos Gerais é uma ladainha ciclística. E entre tantas rezas, reza a lenda que uma relíquia perdida se esconde entre o Cercado de Palmeira e Itaiacoca de Ponta Grossa: um trajeto interfazendas que corta o alto da serra e atinge o Buraco do Padre pelas costas (com todo respeito, claro).
Partimos pela Rodovia do Café de manhã, pedal-ante-pedal. Nas estradas de terra areia, nossas desajeitadas areiaplanagens denunciavam a proximidade dos Campos Gerais. Antes que tivesse início o festejo carnavo-religioso local, acercamo-nos da região de N. Sra. das Pedras em busca da lendária imagem da Santa esculpida no paredão e no imaginário do povo. Entre o visível e o invisível, levantamos o ciclo às pressas na ânsia de apostolar o cicloporteirismo.
- Cicloporteirismo
- Modalidade de corrida equestre dotada de obstáculos, pormaisque estes normalmente utilizem bicicletas.
Nenhum de nós conhecia o trajeto prometido. E, embora o GPS profetizasse o caminho, havia tensão na expectativa de tantas porteiras a transpor. Não que abrir e fechar porteiras apresente alguma dificuldade intelectual: se tá fechada abre e fecha; se tá aberta, tá aberta, oras!
- Editor II: Afirmação questionável!
- Editor I: Hã?
- II: E se a porteira estiver em um estado intermediário? Por exemplo, 70% fechada (30% aberta para otimistas)?
- I: Sempre levamos um transferidor para, nestas ocasiões, posicionar a porteira no ângulo original.
- II: E o vetor resultante do somatório complexo de porteiras fechadas (-) e abertas (+)?
- I: Permutação derivativa de um mol de 9 porteiras bivalentes em sistema fechado: menos com menos dá mais; mais com menos dá menos; com dois menos dá mais ou menos... humn...
- II: Difícil?
- Editor III, sobre uma porteira: E a dificuldade político-territorial de uma potencial porteira trancada (-)² não é agravante?
- Editores I e II, sobre as bikes: - É. Pedalemos.
Independente da polarização, a travessia é um dos caminhos mais bonitos da região. Pouco movimento, passagens em florestas, córregos pelo caminho (literalmente) e, como tudo tem seu ônus, trechos da semi-impedalável areia fofa. Com o sol largando os bets (e o cheps), encontramos o familiar caminho para a Cachoeira da Mariquinha: a tal travessia atravessava mesmo! Chegando ao pacífico refúgio de acampamento, descobrimos que por ali o sossego ditava notas:
- Eu quero tchu! Eu quero tchá!
- Nossa! Nossa! Assim você me mata!
Mariquinha, ó, mariquinha! Tu, outrora tão bucólica, entregava-se ao carnaval. Sorte nossa acampar mais longe, ao lado da sede da fazenda, acompanhados do sossego e dos cachorros locais. E se nessa altura nossa fome de jantar era grande, a dos cachorros era canina (pergunte praquele que ficou com macarrão até a orelha (e pro que comeu o macarrão de orelha (e pro que assistiu a cena de orelha em pé))). Mas agora apaga a luz e desliga o som que amanhã tem mais caminho novo a explorar, pormaisque sem porteira (+|-).
- Nossa Senhora das Pedras
- No município de Palmeira, próximo à divisa com Campo Largo, encontra-se N. Sra. das Pedras - uma pequena localidade onde, reza a lenda, pode-se ver a imagem da santa nas reentrâncias de um paredão de pedra. Defronte ao paredão ergue-se a modesta capela de N. Sra. das Neves, em cuja honra celebra-se um popular festejo no início do mês de agosto. O local conta com infraestrutura de banheiros e churrasqueiras próximos à capela. Por uma trilha é possível chegar à base do paredão, local propício para prática de rapel, caminhada e, claro, contemplação. Da região é possível vislumbrar o declive entre o segundo e primeiro planaltos paranaenses.
Acesso: Pela BR376, sentindo Curitiba - Ponta Grossa, 4,5km após a praça de pedágio de Witmarsum, saindo à direita na estrada de terra emoldurada por grandes pinheiros enfileirados. São 6km por este caminho, sempre pela via principal, até a porteira de acesso ao local, indicada por placas.
- Travessia Cercado - Passo do Pupo
- Partindo da localidade de Cercado, município de Palmeira, é possível percorrer caminhos por entre fazendas até as proximidades de Passo do Pupo, já em Ponta Grossa. O caminho corta o alto da Serra de Itaiacoca, possibilitando a contemplação daquele que é considerado o valor cênico do município: a paisagem em perspectivas de longa distância. São cerca de 30km por pavimento estritamente cicloturístico/equestre, com direito a paradas nas piscinas naturais dos belos riachos afluentes do Rio Tibagi. Não há nenhuma infraestrutura em todo o percurso.
Acesso: Se pretende percorrer este caminho tenha consciência que atravessará propriedades particulares, tendo obrigação de se manter nas vias traçadas, abrindo e fechando todas as porteiras pelas quais passar (são pelo menos 10). Dada a ausência de orientações e as frequentes conversões e mudanças de sentido, recomenda-se o uso de um GPS. Consulte o traçado no mapa desta viagem.
Fonte: Plano Diretor de Ponta Grossa.
Pense, airoso leitor, num dia encalhado. Coloque um iceberg no meio e divida. Com 55km esperados divididos pelo fator intemperístico, totalizamos 27,5km sofridos (e bem sofridos, metade à deriva). As metas da manhã eram tranquilas, as da tarde maisoumenos. Nem deu tempo de chegar nas da tarde.
Além do caminho das velhas e conhecidas Maricas I e II, partimos na caça à III. Mas o caminho aberto do GEarth se despautorou em um matagal ad batendum no peitum - cancelando a terceira queda em 3, 2... (hum, mariquinhas!) Pulos n'água, voltamos ao acampamento pra reiniciar a saga, sóquecom a bicicleta.
No meio da vida e do dia, sol pegando, iniciamos a caça à Dolina (pormaisque um dolinho fosse mais jogo). Nosso roteirista tinha certeza de que era só atravessar a plantação de soja para chegar direto na... na..., pera aí pessoal, não é por aqui de jeito nenhum! Não se pode culpá-lo ou atirá-lo ao buraco, setentriônico leitor - a descrição do acesso, na coluna ao lado, dá uma ideia da fase de RPG que passamos. Mas é bonita, imponente e non mainstream (não o roteirista, a dolina).
Início da tarde: o único ciclo que parecia estar 100% era o da água. Evaporação bombando. Para aliviar nos encostamos na vila de Passo do Pupo: sombra, pão com salame, refri, geladinho... compras (e contas) a revisar para não errar no logradouro. No caminho da Marica, a barraca do Sr. Teodoro estava em dia de movimento animado:
- Quanto custa o quilo da uva?
- Quatro real.
- Então me vê duas cerveja!
E olha que a uva estava valendo mais a pena do que a cerveja. A tia, com a caixa de uva na mão, especulava:
- Escuite o chêro!
E pelo cheiro era chuva da boa. Ou se vai logo, ou não se vai mais. Meio da tarde e partimos: cem metros e a chuva caiu sem dó. Precipitação bombando. Até as 18h. O roteirista reiterava: os planos de seguir até Biscaia (+15km leste) e explorar o caminho desconhecido até Alagados (+20km norte) não cheiravam mais tão bem.
Felizmente nem tudo que cheira mal é caganeira, chegamos rapidamente na Vila de Biscaia. Já era fim de tarde e as primeiras informações diziam que não existia tal caminho até Alagados. Custávamos a aceitar. Sem muito a fazer, armamos a barraca e preparamos o jantar graças à preciosa colaboração do pessoal do Bar do Formiga.
No bar, a prosa correu solta noite adentro. O senhor gago, emocionado, recordava da dava a vida boa no Amapá pá. O dono do bar (seu Formiga?), sorridente, contava os bons anos de Mato Grosso. O jovem motoqueiro, acompanhando o carteado jogado aos gritos, reavivava a alegre infância na fazenda do avô. Lá pelas tantas, a escola Unidos das Reminiscências encerrou o desfile com a apresentação de fotos:
- Foto: típicas imagens de grandes caminhões atolados até a janela
- Um odois: Que atoleiro, hein?! Fotos lá do Mato Grosso?
- Jovem motoqueiro: Não, não, é aqui pra cima, mesmo. Um caminho que vai lá pra Represa dos Alagados.
Caminho descartado (-).
- Cachoeira da Mariquinha
- Para mais informações sobre a Cachoeira da Mariquinha siga esta pista.
- Poço das Andorinhas
- O Poço das Andorinhas é uma dolina com 48m de profundidade que apresenta resquícios de mata nativa no seu interior. Parte do complexo "Furnas", é uma das 11 formações deste tipo na região de Ponta Grossa, assim como o Buraco do Padre e as Furnas de Vila Velha. Não existe infraestrutura no local.
Acesso: Saindo de Ponta Grossa pela Rodovia do Talco, siga até a localidade de Passo do Pupo. Tome o acesso de terra à direita (PR090 - Est. do Cerne). Após 1,3 km entre à direita (Fazenda Tayna). Após 2,5km há uma porteira de acesso à dolina à direita da estrada (sem indicações). Atravesse (a pé), siga 50m à frente, mais 50m à esquerda, atravessando cerca e varando mato até o Poço das Andorinhas 43e(cuidado pra não cair!). Localização precisa no mapa.
Fonte: Prefeitura de Ponta Grossa
Fotos não mentem. Não muito, Mas jogar transporteira deluxe e banho de chuva tycoon já não estava mais nos planos. Repensado o roteiro, pedalamos (e despedalamos) sentido centro de Ponta Grossa. O tempo deu uma brecha e o ânimo aventureiro ressurgiu. Retumbávamos à caminho do segundo grande objetivo da expedição (objetivo que o titulado leitor certamente não ignora, poupando-nos de estender o texto ao colocar mais uma vírgula e o nome do local).
Nem mesmo essa piada ruim de revisor frustrado seria capaz de contextualizar a inversão de valores desse dia. A represa era sim o objetivo, mas o verdadeiro atrativo foi o caminho para chegar a ela. Estradas tranquilas em um cenário forrado de belos chapadões de pedra (literalmente, de forma alguma nos referimos aos foliões da Mariquinha), campos, cânions, rios, canais, pontes... Um caminho que vale muito a pena ser conhecido e que fez valer a viagem, a chuva, o desvio e a Unidos das Reminiscências noite adentro.
Passada a ciclocontemplação da região, a tal Represa dos Alagados estava próxima. Atribulações ao passar pontilhão e pedalar nos trilhos (pormaisque conheçamos piores), e na hora de chegar na água... havia uma Marina no caminho. Depois um condomínio. Aí uma casa. Outra, outra. O trilho. Outra. Parece que aqui, ou você tem uma propriedade pra ver a água, ou te resta um barranquinho (+|-) numa brecha entre um muro e outro. E foi o que restou, sem marchinha nem serpentina. Acúmulo bombando.
Desta vez, tudo que era pra ser feito acabava no bagageiro da Princesa. No fim, os sacros caminhos que nos levaram (e nos devolveram), as imersões nas Mariquinhas e a boa companhia garantiram uma autêntica folia. Carnaval cicloterapêutico (+).
- Estrada da Usina São Jorge
- Serpenteando entre ferrovias e grandes rios, a estrada fornece acesso às duas usinas hidrelétricas da região oeste de Ponta Grossa. O caminho percorre as encostas dos Cânions dos Rios Pitangui e São Jorge, uma paisagem singular formada por grandes lajes de pedra. Dos 10km da estrada, apenas os primeiros 5km são de acesso livre (Est. Sebastião Bastos), sendo necessária autorização da Copel para prosseguir. A partir daí a via fica muito mais interessante e bucólica, ressaltando o contraste entre as belezas naturais da região e as obras de engenharia da ferrovia e das usinas. A estrada acaba no portão da Sanepar, já nas margens da Represa dos Alagados. Daqui, apenas cicloturistas e caminhantes conseguem prosseguir, atravessando o pontilhão do trilho e tomando uma trilha até a vila de Alagados.
Acesso: Em Ponta Grossa, siga pela Av. Gen. Carlos Cavalcanti em direção ao Campus Uvaranas da UEPG. Na rótula de acesso, siga em direção à Represa de Alagados. Após 2km há outra rótula, siga à direita, atravesse a ponte sob o rio verde e logo em seguida entre à esquerda, sentido Usina Pitangui.
Fonte: Plano Diretor de Ponta Grossa.
- Represa dos Alagados
- O represamento do Rio Pitangui, na década de 1940, deu origem à Represa dos Alagados. Desde então a represa provê à região de Ponta Grossa importantes recursos para geração de energia (Usinas de Pitangui e São Jorge), captação de água e visitação turística. Às suas margens estão os Iate Clubes de Ponta Grossa e de Carambeí, além de várias residências particulares. Atividades como pesca, windsurfe, remo e natação integram-se ao cotidiano da área de preservação ambiental da represa.
Acesso: Siga em Ponta Grossa pela Av. Gen. Carlos Cavalcanti, em direção ao Campus Uvaranas da UEPG. Na rótula de acesso siga a sinalização para chegar à Represa, cerca de 15km adiante.
Serviços #
Lanchonete Bar Mercearia Camping Sebastião. (42)9158-3131 / 3236-3550. Alagados, Ponta Grossa - PR.
Expediente #
Texto e comentários por du e lulis, fotos e vídeo por lulis, roteiro por du com insights de Dom Rafael.
Pedalado por du, lulis, cheps.
Publicado em 11 jul 2013.