Ponte dos Arcos

26 set 2009 1 dia 155 km

Nosso histórico não mente: as últimas expedições foram realmente amenas no quesito dificuldade. E justo por este ponto adotamos esta aventura à ponte - um projeto daqueles... ...daqueles de soltar desde as tiras até os pedais (passando pelas caixas de direção, central, toráxica e craniana). Sim, até a Ponte dos Arcos nós já fomos, mas a idéia agora era fazer um passeio chegando pelo avesso (ali por Porto Amazonas, velho conhecido), pedalando por estradinhas rurais e pelo tremido (e temido) trilho.

Sob a batuta do SuperTag LPPS, saimos de Curitiba para encontrar o Luiz 2 megapixels depois do pedágio. Passagem breve por São Luiz do Purunã, logo estávamos sobrevoando o Recanto dos Papagaios. Nós odois insistimos em fazer uma tradicional trilha adicional, leve. Dez minutos depois todos estávamos com formigas aos pés e mato ao pescoço, caçando um retorno à rodovia (que só se via muitos metros acima).

Nota do Du
Sabe como é, né? Eu não queria ir pela trilha tradicional para evitar travessia de rio, tinha essa mais curtinha que estava perto da BR... Havia muito o que pedalar, apenas segui o instinto de sobrevivência - assim como as formigas! (se bem que quem come formiga é tamanduá, e tecnicamente ali já era Porto Amazonas, voltar para Tamanduá só depois de cruzar a ponte...)

Resultado do instinto? Vinte minutos abrindo trilha barranco acima. Aos desprendimentos de terra seguiu-se o desprendimento do pedal do Mildão, que se jogou no chão mas não ficou esperneando (o pedal, não o Mildão). SuperTag assumiu a identidade TagBike e deu jeito, seguimos pedalando frouxo.

Porteiras, estradas de areia fofa, patinação em areia (sugestão para os shoppings de Curitiba no verão!) e finalmente chegamos aos trilhos que levam à ponte. Só tinha um caminho a trilhar: pedalar pelos trilhos. E fomos: trilhadalamos (tremendos trilhos!) de maneira tão sinérgica que até os braços ficaram dormentes. Até a ponte. Ponte dos Arcos. Estreita, larga e, o mais importante: ferroviária. Era a hora.

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Ponte dos Arcos
Com 585m de comprimento e 60m de altura, a Ponte dos Arcos provê ligação ferroviária entre Balsa Nova e Porto Amazonas (ou, em um âmbito maior, entre a capital e o oeste do estado do Paraná). Obra de engenharia singular, a ponte se ergue sobre o Rio dos Papagaios, próxima da confluência com o Rio Iguaçu, integrando a beleza rara do cenário local.

Acesso: Em São Luís do Purunã pergunte pela estrada do Tamanduá (acesso por túnel sob a BR-277). Siga-a até o trilho e, sem cruzá-lo, tome à direita. Pouco adiante já é possível avistar a ponte.
Fonte: Guia Caminhos de Balsa Nova.

Nós do odois já conhecíamos o lugar, confiávamos em esperar o trem passar para então atravessar a ponte com tranquilidade. Mas o restante do pessoal cansou de esperar e começou a atravessar. Pensamos, pensamos - e como os outros já se iam, oras, então vamos! Todos quase no final da ponte, exceto o odois, quando alguém gritou...

  • OOO TREEEEEEEEEEEEEEEEEM!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Não, um submarino. Claro que era o trem. O trem! Vindo rápido, e muito mais rápido do que esperávamos! Todos saíram da ponte salvos, salvo nós 3 do odois, ainda na metade da dita. Desespero, correria, dá tempo, não dá, aimeudeus, e agora - vai acabar o odois aqui?

  • REEEFÚUUGIOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Meio aos trancos, com medo em cada fio de cabelo (e de pneu), nos espalhamos nos refúgios a rezar, dependurando as bicicletas. Refúgios? Plataforminhas de concreto meio que pendendo para fora, vários ao longo da ponte, mas todos precários (você não lembra?). A composição com quase 100 vagões demorou a passar, e nesse tempo olhávamos a fresta entre a ponte e o refúgio oscilando... Muitas coisas passaram na cabeça dos três, inclusive muito milho e soja. Pra entender mesmo só vendo as fotos e o vídeo (só assim mesmo, não tente fazer isso em casa - afinal, o trem pode estragar o carpet!).

Como se não bastasse o susto (e que susto!), o trem parou mais à frente, 3 vagões ainda sobre a ponte. Bloqueados, de castigo, os 3 sobreviventes não podiam sair dali. Mais uns minutos de espera e, finalmente, estradas! Depois de tanta bagunça (e com muita fome) seguimos para uma pousada da região, devorando um sistema bruto de macarrão, arroz, feijão e lingüiça (com trema mesmo - de fome e de susto, ainda).

Depois do almoço mais um desafio: atravessar a região de Tamanduá em direção à Fazenda Thalia (lembra?), mas por dentro do Vale - ou seja, pelo Rio das Mortes. O grande barato do lugar era a estrada que passava por dentro do rio (e vice-versa), mas quebraram o encanto e construiram uma ponte no local (sem refúgio, mas passa carro). Sem molhar os pés (e pneus), ascendemos 200m (subidinha discreta, em patamares) até voltar ao pedágio.

Antes de descer a serra, uma passadinha no Cristo para conferir a plástica recente. Nosso Tag navegador, exausto, não conseguiu mais renderizar o passeio e acabou voltando no carro com o Luiz. Na escuressência do dia, trilhamos uma volta tranquila, só que com todos vivos. Fora a câmera do Lulis (a oficial do grupo (ex, agora)), que suicidou-se no alsfalto, triste perda. No mais, todos ainda trem mendo, mas vivos.

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Ciclorootismo
s.m. (gr. kyklos; en. roots) 1. Cicloturismo de raiz, feito na raça, puro e bruto¹, sem maquiagens e frescuras, sem exigências e preconceitos, com poucos e limitados recursos, mas bem humorado e companheiresco. 2. Cicloturismo de raiz de mandioca suja, mesmo.

(¹) Sistema bruto, mesmo.

ATRATIVOS curitiba, são luiz do purunã, porto amazonas, tamanduá

Mapa & Tracks

Vídeo

Expediente #

Texto e vídeo por Du, roteiro e filmagem do quase-desastre-de-trem por Leandro, outras filmagens por Thi, fotos e comentários por Lulis.

Pedalado por du, lulis, thiago, fabricio, gassner, leandro, luiz, mildo.

Publicado em 2 out 2009.