Cerne de Ponta
Sem rodeios, indo direto ao Cerne. Assim se deu essa nova edição do evento carinhosamente batizado de Cerne Fodax (ainda em processo de tradicionalização, caro leitor, como reza o outrélio ao lado). Doze pedalantes escolhidos (ou seriam encolhidos, gélido leitor?) para cumprir o intimidador roteiro que após inúmeros altos e baixos, esquerdos e direitos, culminou no cerne de Ponta Grossa (os rumos da conversa e do caminho acaso lhe soam familiares, genealógico leitor?).
- Cerne Fodax
- Era uma vez um jovem conhecido por tutu. Tutu ansiava por voltar pedalando ao longínquo recôndito de sua infância, Castro. Um dia decidiu realizar esse sonho e procurou os amigos renatão e du para organizar uma grande expedição.
- Baitolagem de conto de fadas à parte¹, nada mais adequado a este fim do que um caminho retirante alternativo, de terra e com muita serra: a Estrada do Cerne. A dificuldade da expedição proposta tornou-se um mito resumido pela máxima do conhecedor de seus entremeios, du: "o cerne não é uma estrada, é um estado de espírito".
- A tropeira investida realizou-se, ganhando o carinhoso e justo apelido de "cerne fodax". Apesar dos traumas e medos, a ideia de uma futura reedição permaneceu latente.
- No ano seguinte, a 2ª edição foi proposta e executada² por também 12 discípulos. Aparentemente o Cerne Fodax tende a se firmar como peregrinação anual, com roteiros exclusivos que sigam o cerne das 3 leis primordiais:
- 1. Ultrapassar a marca de 100km de distância
- 2. Percorrer um trecho da PR090 - Estrada do Cerne
- 3. Abordar a faixa entre 600m e 700m de altitude
- Fontes quase-seguras afirmam ter visto rascunhos de roteiros para as edições 2011 e 2012, embora não passe de especulação.
(¹) Como toda atividade cicloturística, esta é uma obra de fricção.
(²) Você tem 2 minutos para achar o relato. Tempo!
Saída na madrugada, clima estável (cinza estável, monotônico leitor). Logo estávamos na famigerada Estrada do Cerne, alguns recordando e outros conhecendo seu peculiar terreno e belo traçado. Descidas e subidas sem fim cobravam ora atenção, ora fôlego. Do começo ao fim, vários subgrupos dos 12 pedalantes se formavam e dissociavam, revezando posições (ou não, caetânico leitor, ou não) e se reagrupando nos bares do caminho. Muitas subidas doídos, muitas paradas cansados, mas muitas risadas suados. E aí não se vê desgraça nenhuma, não, só se faz graça mesmo. Cicloturismo é assim: a arte de achar graça em tudo isso e ainda gostar.
Das graças que nos acometem pedalando, faltaram apenas as graças do du, que concebeu o roteiro mas não pode ir - mas ao menos deu o ar da graça no vídeo abaixo, dedicado à sua própria graça.
Passado muito pedal puxado por entre a bela e mutante (embora ocasionalmente cinza) paisagem do lenho (que circunda o cerne, fitológico leitor), fizemos uma breve pausa nas dolinas gêmeas (nem que fosse para saber o que é uma dolina, geológico leitor). Um susto no câmbio do Luiz, algum pedal corrido no plano e, finalmente, todos no centro de Ponta Grossa. No final, cansaço amenizado pelo retorno acomodado na van (mérito do Mildo, virgulíneo leitor), mesmo alguns babando e outros doendo, todos sorriam como crianças depois de um dia inteiro correndo no parque. Por certo achavam graça em tudo isso. E gostavam, ah, gostavam.

tudo preparado para a saída da havan, só que sem a van

será que saímos cedo? ainda nem se via direito

paradinha rápida só para encher o traseiro murcho do dagu (o pneu, o pneu!)

o clima não parecia muito promissor...

mas ainda assim o apostolado estava lá, sempre sorrindo!

um que murcha e o outro que fura? ah, tem a mão do dagu nesse furo!

a garrafa de líquido mijosterioso do mildão. e na bike há desivada!

o espírito da kombi branca interferiu e não apareceu todo mundo na foto

agora sim, cabeu, ou melhor, kombi todo mundo

todo mundo animadaço, né luizão? por quê? por quê?

pois é, o plano é esse. depois é só subida e descida

não disse? olha o que a subidinha deixa pra trás: nós mesmos!

opa, redenção na descida: quase nem vi o pedaleirão!

e o mr. heil? achando que está em casa! ou melhor: em sua própria rodovia!

apostolado reunido - jesus, descemos das alturas!

ah, desceram, é? então agora é hora de pagar os pecados...

espia só o grau do barro - e grudava, grudava!

o resultado no pneu do bisssxo: recapagem involuntária e pegajosa!

rindo porque o fotógrafo é o último? ainda tem mais 9 na frente de vocês!

alguém escorregou por essa estrada - e, por sinal, foi um morro!

sabe a expressão "não mora, se esconde"? acho que não é tão ruim assim...

isso aqui é o arcerne fodax? tô susse, me veja mais um - e sem gelo!

cara heil de frase típica: "vocês não têm amor à própria vida!"

a paisagem vez ou outra dava o ar de sua graça, ainda que acinzentado ar

parada para um pit-stop no boteco - essa rendeu. rendeu um vídeo!

senhores, recebam ponta grossa com imensa alegria!

é, dagu, cada um no seu ritmo - seja ao ritmo de sade ou lady gaga...

nessa altura o pedaleirão já previa o estrado, digo, estrago do cerne

vamos erguer a cabeça, galera! o resto do corpo e a bike também! sobe!

panorama de uma das descidas mais panorâmicas do cerne

diria como o mildo: vamos lá, sempre subindo! digo, sempre sorrindo!

aliás, sobre o maconhado do mildão: sempre sumindo! ô, gás!

continuamos atendendo às buscas por chevette verde limão sem muito sucesso

putz! não acredito que na foto 17 não saiu piada com o motorista de caminhão que leva pau!

sobre o céu, ainda nos cabe o consolo de não ter desabado!

mr. heil para pedaleiro: "eles não têm amor à minha própria vida!"

mais um boteco pra reunir os discípulos que pedalam - e por quê? por quê?

vamos pra onde mesmo? ah, sim: pra cima!

no fundo, à esquerda, a saída para a pedra grande, que não visitamos democraticamente

nem sempre é puro barro: às vezes a lamacenta lama assenta

planalto, afinal! tem até um pouco de luz no fim do horizonte

pedalando sob a névoa miúda de ponta grossa

não é da boca pra fora: esse sim é um pedaleiro de boca cheia!

isso aí é poça perto da lama movediça lá pra trás de ponta grossa!

panorama da dolina 1, entrada para o universo paralelo do elo perdido

o pessoal na beira da dolina só pensava naquilo: a van, eu quero a van...

panorama da boca da dolina 2, porta dos fundos do elo perdido

na borda da dolina, uma esperança de sol na paisagem pontagróssica

pedaleirão sempre de boca cheia - e o vurgo mirdo, sempre sorrindo

saindo das dolinas é só mais um passo até o pupo

pegando a plantação de aveia na frente e a, a, aveiera pegando no fundo

macaquinho do luiz em: triplo carpado front-side back-slide mortal autofágico

luiz monomarcha, escoltado, correndo contra o tempo e o clima

e o pôr-de-sol acha seu espaço na fina fresta entre chão e nuvem

um senhor pôr-de-sol, diaga-se de passagem, mesmo que por partes

e, com alguma sorte, ainda se vê uma lua cheia entre nuvens ralas

por fim, agradecimentos à Mirdotur, hágência que sade o que faz!
Expediente #
Roteiro e definições por Du, texto e vídeo por Lulis, esforço apostólico por 12 revezantes atletas fodax.
Pedalado por lulis, arce, daniel, fabio, fabricio, gassner, heil, luiz, marílio, mildo, renato, sartori.
Publicado em 8 set 2010.