Purunã e Tamanduá

7 a 9 set 2006 3 dias 194 km

Impossível imaginar indivíduos indecentes igualmente inseridos... (agora não consigo mais escrever tudo com i, mas continuemos) ...inseridos em um mesmo grupo, sem ter algum objetivo ou projeto grande em mente - ou em arquivo.

Na verdade, na verdade, eu quis dizer que ocorreu neste projeto uma crise similar à do projeto Ponta Grossa, ocasião em que não sabíamos exatamente o que fazer com três dias de feriado e, ainda por cima (ou por baixo), tínhamos que comemorar o aniversário do odois com estilo (não o carro, com uma bicicleta mesmo).

Nota do Editor
Ao contrário das amostras grátis encontradas nos recentes passeios Morro do Cristo e Serra dos Capados, esta viagem contém uma dose cavalar de Balsa Nova. Aprecie e cavalgue com moderação.

As expectativas para um projeto às pressas não eram das maiores, porém um objetivo foi traçado: Conhecer muitos (senão todos) os atrativos da região de Balsa Nova (principalmente os distritos de São Luíz do Purunã e Tamanduá) em uma expedição só. Entre os previstos estavam: Vila de São Luís do Purunã, Rio dos Papagaios, Corredeiras do Rio Tamanduá, Cachoeira do Bruel, Ponte dos Arcos, Rio das Mortes. É óbvio que alteramos uma série deles no decorrer da viagem (não alteramos no sentido de "AH! Transformamos o Rio das Mortes no Rio das Vidas", mas sim no sentido de visitarmos outros locais em detrimento de alguns destes).

Saiba mais sobre estes atrativos - localizados a apenas 40 km de Curitiba, no município de Balsa Nova - acessando o guia Caminhos de Balsa Nova, o qual utilizamos para traçar o passeio (exatamente isto que você leu, nós traçamos o passeio (com todo respeito, é claro)).

Confira as belíssimas fotos (olha, tem muitas delas...) e os demais detalhes desta viagem nos links diários.

Mapa & Tracks

Vídeo

1Rancho Ventania 1 dia 68 km
DIA 1 curitiba, são luíz do purunã, rio dos papagaios, rancho ventania

Gostaria primeiramente de desculpar-me pelos amigos e amigas que esquecerei de citar (e mandar beijo). Gostamos de todos mesmo assim! Digo isso porque, como já deve pertencer ao imaginário de vocês leitores, em uma viagem de bicicleta nós conhecemos realmente muitas figuras e personalidades...

Independente dessas questões, passei (eu, o du) os primeiros 20 minutos deste dia ligando para todas as possibilidades de camping no guia de Balsa Nova, não obtendo nada muito melhor do que preços altos e lugares deslocados. A melhor opção foi buscar na cara e na coragem, uma vez que o local para dormir não era tão prioritário quanto os atrativos.

Chegando ao centro de São Luís fomos perguntar na Casa da Cultura, uma "quase" central de atendimento ao turista, em que propriedades conseguiríamos montar barraca. Conversando com o pessoal dos empreendimentos em volta, descobrimos que o foco do turismo na região eram as cavalgadas e que as opções de hospedagem se restringiam às pousadas. Como isso não é muito do nosso feitio, a solução foi buscar na marra.

Subimos (altimetricamente falando) para a região dos grandes haras. Passando de um em um, inclusive nos abandonados, procurando um lugar para armar a barraca (literalmente), encontramos até um projeto de SPA Indiano (bem interessante por sinal, porém totalmente inacessível). As estradas da região são altamente pedaláveis, foi divertido passear procurando um lugar para ficar - ao contrário do que costuma acontecer. Com muito tempo sobrando e com tempo bom (este segundo tempo é aquele que chove sabe? Nos 48 do segundo tempo, entendeu?), chegamos até uma propriedade de um casal bem simpático, Ralf e Elvira: o "Rancho Ventania". Eles não dispunham de espaço para camping, e também estavam com os dois chalés disponíveis indisponíveis (parece complicado mas é assim mesmo, leia outra vez que você entende). Depois de uma negociação, privilegiados pela simpatia e prestatividade deles, conseguimos um espaço para montar a barraca (maiores descrições do Rancho no tópico abaixo (tópico de cavalo, não de capricórnio)). Largando todo o equipamento por ali mesmo, seguimos para o primeiro objetivo: o Rio dos Papagaios. Pedalando em uma agradabilíssima estrada de terra alternativa, logo atingimos o objetivo. Muitas piadas, escaladas, escorregadas e molhadas depois, estávamos novamente na fazenda.

Após um pôr do sol muito bacana, proporcionado pela singular beleza dos campos gerais (dá até vontade de escrever coisas bonitas mesmo), um nascer de lua ímpar e mais bacana ainda (grande bola amarela no horizonte), jantamos aproveitando o espaço agradável que o Ralf e a Elvira cederam para nós - o Fogo de Chão. Para deixar a noite mais alegre ainda comemos pinhão sapecado na brasa, cortesia do casal (tamanho é o zelo deles que chegam a estocar pinhão congelado, pode?). Na hora de dormir, surpresa melhor ainda: nos permitiram trocar a barraca por um grande colchão de casal e um sofá (sem sacanagem) em frente à uma lareira dentro da sala de jogos da propriedade (não que nós tenhamos negociado e permutado nossa barraca por um colchão e um sofá, nós apenas trocamos o local de repouso, realizando assim um legítimo "acantonamento" na sala de jogos). Foi uma das noites mais "miguxas" do grupo.

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Rancha Ventania
Os proprietários do Rancho Ventania, Ralf e Elvira, iniciaram o negócio trabalhando com a hospedagem de cavalos. Com o tempo acabaram aderindo à idéia de Pousada, incorporando inclusive um espaço destinado ao camping. O negócio acabou não se desenvolvendo, e o foco voltou ao a ser o haras, restando ainda dois chalés para hospedagem de visitantes. Existem ainda outros espaços que enriquecem o rancho, como o salão de jogos com lareira (para as noites frias de inverno) e o salão rústico denominado "Fogo de Chão", totalmente decorado à moda rural, onde são realizadas rodas de chimarrão e sapecadas (ou chapecadas) de pinhão.
O Rancho também é conhecido nas cercanias pelo restaurante - à noite visitantes e moradores da região se reunem para prestigiar as deliciosas e exclusivas pizzas típicas. É possível ainda alugar cavalos para conhecer as belezas da região, cavalgando guiados pelo próprio Ralf. Mais informações: (41)9994-1113. Acesso por estrada de terra na BR277, trevo de Palmeira-Irati, próximo ao posto da polícia rodoviária.
2Tamanduá e Ponte dos Arcos 1 dia 61 km
DIA 2 rancho ventania, são luíz do purunã, rio tamanduá, ponte dos arcos

Devidamente alimentados pós café da manhã, seguimos sentido centrinhho de São Luís do Purunã, agora pelo caminho mais curto (pois no dia anterior viemos nos perdendo...). Para a atravessar a BR277, uma trincheira que mais parece uma vala de esgoto reaproveitada - o importante é que bicicleta passa! :) Visitemos, então, os atrativos de Tamanduá!

Nota à SPAN
É importante ressaltar, para que não surjam interpretações equivocadas sobre os princípios morais do grupo: ao utilizarmos expressões como "visitamos os atrativos de tamanduá" estamos nos referindo unicamente à localidade. Jamais nos passou pela cabeça abandonar as bicicletas e utilizar os pobres animais como meio de locomoção.
Da mesma forma, leia-se com o devido cuidado expressões inocentes como "exploramos todos os buracos de tamanduá". Vale lembrar aos desavisados que captaram um terceiro ou quarto sentido deturpado da frase: tamanduá não é tatu (e a recíproca também é verdadeira).

Capela Nossa Senhora da Conceição de Tamanduá. Esse nome gigantesco não estava na lista e, se bem me lembro, também não foi visitado. Ah, sim! Paramos próximo a esse local para visitar o cemitério de Tamanduá (coisa do cheps e do arce, du e lulis ficaram do lado de fora). Eis que passa rapidamente ao nosso lado um carro da RPC - sabíamos que um dia eles iriam correr atrás de nós (brincadeira ou não, se você viu o vídeo da viagem você viu o Cheps e o Arce dando o ar de sua graça no ar =).

Ponte dos Arcos. A idéia foi pular direto até o atrativo mais longíquo e, depois, parar em cada um dos outros. Antes disso, o Arce ainda se deu ao direito de escalar um trem (não entendeu? denovo: veja o vídeo da viagem!) - ah, o trem estava quase parado (isso explica tudo). Continuando, grande foi nossa surpresa ao ver a notável obra de engenharia, muito distinta de outras atrações já vistas (mesmo em ambiente urbano). Uma imensa ponte férrea estruturada em arcos atravessa o Rio dos Papagaios, pouco antes deste chegar ao encontro do Rio Iguaçu. A vista de cima dela é muito interessante (é possível avistar a confluência mencionada), embora o local seja perigoso. Vale a pena atravessá-la e ver o estado em que estão os "abrigos" para pedestres (Paraná, ao que me consta).

Corredeiras do Rio Tamanduá. Já retornando descobrimos que esse atrativo só poderia ser acessado através da propriedade Pousada Cristal do Horizonte. O local é bem bacana e recebe vários visitantes, inclusive campistas estilo família. Chegamos na hora do almoço - deu tempo de provar uma lasca do churrasco de fogo de chão, que por sinal estava ótimo. Falando das corredeiras, o lugar é muito bacana para ficar brincando na água em dias quentes, e também oferece uma beleza cênica.

Outras tentativas que falharam. Ao chegar na cachoeira do Alemão descobrimos que para conhecê-la deveríamos pegar a chave (da porteira, não da cachoeira) e pagar uma quantia. Financeiramente desprovidos, abandonamos. A Cachoeira do Escorregão não encontramos, mas segundo o pessoal da região está fechada, em função de problemas com visitantes. O Rio das Mortes também não foi encontrado, por falta de sinalização ou talvez porque veio à vida e levantou do leito. Piadas sem graça à parte, esses ficaram de fora do roteiro.

Após conhecer estes atrativos, a idéia era voltar para o "acampamento-base" e sair em meio à noite caminhando para ver a Lua. Somente à título de complemento, durante o retorno encontramos algumas vacas (de fazenda, que dão leite... ah, deu pra entender, né?) passeando pela estrada. Ao nos ver, se assustaram (comum à maioria das vacas) e saíram correndo. As vaquinhas correndo e o odois atrás. Lá pelas tantas elas cansaram e invadiram uma propriedade, pulando no meio do arame farpado (enfim, triste né, as vacas até se machucam pra fugir de nós - imagine se fossem tamanduás!).

Logo após deixar as bikes na fazenda, nos arrumamos (resumido como tomar banho) e seguimos para a Ponta do Diogo, uma escarpa próxima ao rancho, para ver a prometida lua. A noite estava estrelada e o céu limpo, digna de uma vista excepcional, com direito à ver as luzes de Campo Largo no horizonte. Esta foi também a noite de saborear a tradicional (e excepcional!) pizza servida na propriedade. Com a aparência bagunçada (não saberia descrever de forma diferente), compartilhamos o ambiente agradável e a comensabilidade com vários moradores da região.

3Cavalos me mordam 1 dia 65 km
DIA 3 são luíz do purunã, estrada da faxina, campo largo, curitiba

Tudo pronto para o retorno da viagem comemorativa de 3 anos (iii) de odois (ii). Despedidas à parte, ainda arriscamos chegar perto dos cavalos que moram no haras. Foi no mínimo engraçado, principalmente porque fomos saudados com um bom dia fecal. Com uma chuva no lombo (no lombinho do ciclista, não no do cavalo) partimos do Rancho Ventania.

A idéia inicial era fazer o trajeto via BR277, exatamente como havíamos chegado na ida. A Elvira nos sugeriu o fazer via estrada da faxina, uma alternativa para descida da Serra de São Luis do Purunã. Sugestão aceita, demoramos mais uma hora até encontrar a entrada correta. E o pior, nem era a estrada correta! De toda forma, a dica e o erro foram sem dúvida válidos, a estrada por que descemos a serra é muito divertida para ser pedalada (de carro deve dar um trabalhão), passando em meio a vegetação que faz questão de atingir os ciclistas algumas vezes.

Incluímos inclusive indícios (iii... olha o i aí) fortes do traçado realizado no nosso mapa. De qualquer forma, vale uma dica: a estrada (ela e mais algumas) inicia ao lado de uma loja de chocolates no centro da vila de São Luís do Purunã. Os habitantes da região podem informar melhor. Agora, cuidado ao tentar se aventurar por lá. Existem incontáveis estradinhas e ramais de terra na região, perder-se certamente não é difícil - mas que é divertido, ah é =)

Expediente #

texto e dados por Du, fotos, comentários e interferências por Lulis.

Pedalado por du, lulis, cheps, arce.

Publicado em 3 ago 2007.