Pico Paraná
Quando o thi levantou o 3P (projeto pico paraná) nós sorrimos. Sim, porque só rindo de uma idéia assim: madrugar e pedalar mais de 50km até a base do Pico Paraná, caminhar por trilhas pesadas e escalar até o ponto mais alto da região sul, apreciar um pouquinho e, enfim, retornar pelos mesmos meios, tudo em apenas um dia. Para convencê-lo de que tratava-se de pura insanidade não nos restou outra alternativa senão realizar o projeto. Ele tinha razão - e nós também!
Partimos com atraso, uma constante no grupo (arce e thi são nossas constantes de histerese). A chuva fina não cessava, prejudicando as expectativas de montanhismo. Mesmo assim insistimos, apenas um objetivo em mente: chegar logo (corre gente, estamos atrasados!)! Como se não bastasse todo atraso evidente, ainda fomos ultrapassados pelos amigos que deveríamos aguardar na fazenda Pico Paraná...
- O Pico Paraná
- Para chegar ao PP deixe Curitiba pela BR116 (sentido São Paulo) e vire à direita ao lado da ponte do rio Tucum (entre o início da Graciosa e a represa do Capivari). Por estrada de terra (6km) chega-se à Fazenda Pico Paraná, início da trilha que leva ao topo. Na entrada, registre sua presença com o Dilson e aproveite para colher mais informações sobre o local. Uma taxa garante a manutenção da infraestrutura simples mas muito acolhedora - estacionamento, banheiro, luz elétrica e até camas para os mais fatigados...
- A trilha é "pesada", são cerca de 8 km até o cume do PP - é bom chegar cedo para não voltar no escuro... É possível acampar no trajeto (existem três locais utilizados com frequência pelos montanhistas) ou mesmo no cume, embora este não seja recomendado por ser muito exposto.
- Embrenhando-se pela Serra do Ibitiraquire, o caminho atravessa o Morro do Getulio (altitude 1.234m) antes de chegar ao cume do Pico Paraná (altitude 1.887m), o ponto mais alto do sul do Brasil. O paredão monolítico visto é composto pelo PP e por outras duas montanhas:o União e o Ibitirati.
- Um céu azul ajuda muito na montanha, prefira tempo frio por não favorecer a formação de nuvens. Nessa altitude o tempo é muito instável - lembre-se que você pode estar abaixo, acima ou no meio de uma nuvem! Embora não seja necessário equipamento profissional para escalada, previna-se com roupas para amenizar o frio e calçados para enfrentar a trilha densa e úmida.
Chegamos exaustos à sede da fazenda (estrada de saibro no pé da montanha não é fácil!), onde encontramos o restante dos expedicionários: a Amanda, praticamente uma guia de montanhismo para o odois (vide Alta Montanha); seus pais, que não nos deram o prazer de sua companhia pois galgariam o Caratuva; e o Luis Guilherme, amigo realmente interessado no cicloturismo - que não pedalou, mas continua prometendo.
Guardamos as bicicletas (você não achou que seriam levadas nas costas até o pico, achou?) e partimos, sob garoa, sem certeza de poder chegar ao topo e apreciar a vista. Poucas paradas pois o tempo era restrito, ninguém gostaria de voltar à noite... Caminhada em bom ritmo, muitos escorregões para desespero da Au!manda, alguns montanhistas retornando desanimados à amaldiçoar o tempo fechado, curvas multidirecionais (à esquerda, direita, acima, abaixo e combinações), nuvens onipresentes, paredões cravejados de escadinhas de ferro, brechas de céu, outras de sol, prosseguimos sempre em frente - salvo as curvas e os escorregões.
Pouco antes das 15h surge um impasse: alcançamos o horário limite para retornar pela trilha antes do anoitecer (pedalar no escuro já era certo), embora o pico despontasse pouco à frente (era o que se via quando as nuvens deixavam). Paramos, comemos e discutimos. Chegar tão perto do pico não é chegar ao pico, estávamos quase lá, mas não tinhamos certeza do tempo que levaria, e voltar pela trilha à noite seria loucura, não seria razoável. Adivinha!
Em 20 minutos estávamos no alto do PP e, ao contrário do que tudo indicava (enfrentamos até granizo), fomos presenteados com uma vista impecável por sobre o tapete das mesmas nuvens que há pouco limitavam nossa visão. Comemoramos a conquista e começamos à voltar pois, pra variar, estávamos atrasados... Na pressa parte do grupo se desviou da trilha, mas contornamos o problema cruzando a vegetação na base do "cadê vocêêês?", "aquiii!", "aondeeee?", "aquiiiiiiii!". Funciona.
Entre novos tombos na mesma velha trilha, a noite caía - e nós também. As nuvens tinham mais fôlego que nós, a chuva continuava forte enquanto o caminho era iluminado pela parca luz de algumas lantenas. As más condições impingiram um ritmo lento, chegamos à sede perto das oito da noite. Mas ainda não acabou: todos têm que voltar, alguns de bicicleta...
Todos em seus veículos, tivemos uma companhia providencial no trecho de saibro: o pai da Amanda nos escoltou, iluminando o caminho. Não que o dú tenha deixado de cair por isso... Chegada a BR116 agradecemos a ajuda, despedimo-nos e seguimos com uma lanterna de mão e algumas headlamps, nada que iluminasse com segurança o asfalto à noite. E chovendo. Bem, poderia ser pior: imagina se tivesse neblina! Tinha. Ah, tá! Só falta furar um pneu! Furou. Mas pelo menos não estávamos cansados e atrasados, não é mesmo?
Pessimismo à parte, à partir de Quatro Barras retomamos a iluminada Avenida Graciosa (estrada do Alfaville). Tão exaustos como nunca outrora - desgastados fisicamente, psicologicamente, oftalmologicamente e hidricamente - acabamos acabados o projeto 3p, agora cientes de que nunca mais faríamos uma loucura assim, pelo menos até a próxima viagem.
Expediente #
texto por Lulis e Amanda, fotos por Thi e Amanda
Pedalado por du, lulis, thiago, arce, amanda, luis.
Publicado em 15 jul 2005.