Parque do Monge

25 e 26 mar 2005 2 dias 151 km

Temos que confessar, astutuo leitor, não é a nossa primeira incursão para Lapa. Já alçamos esse destino uma vez, antes mesmo do odois ser odois. No máximo um ó-um. Então, por quê esse repeteco?

Bem, primeiro porque é uma forma de homenagear os velhos tempos nessa nova fase - é melhor que um "vale a pena ver de novo", é praticamente o remake da novela do monge!. Segundo porque os componentes que não participaram da primeira edição também gostariam de conhecer a Lapa e o Parque do Monge. E também porque concordamos que o parque merecia um registro fotográfico mais digno...

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O Parque Estadual do Monge
O ponto principal da viagem é o Parque Estadual do Monge, região metropolitana da Lapa. O parque conta com estrutura de camping (adivinha onde o odois ficou), churrasqueiras, mirante, quadras esportivas e trilhas. O local foi criado em homenagem ao monge João Maria de Jesus, personagem místico de suma importância na Guerra do Contestado. Os antigos moradores contam que ele se abrigou na gruta durante a estadia na cidade, época em que teria curado enfermos e realizado milagres. Até hoje muitos fiéis vão à gruta beber a água santa do vertedouro próximo, alguns deixam fotos e acendem velas homenageando o religioso pelas graças alcançadas.

Cada viagem tem suas particularidades. Se na primeira versão a chuva atrapalhou, a fogueira mal acendeu e as fotos não são exatamente o que se espera de uma viagem à lapa, nesta nova lapada estávamos mais preparados, as poucas nuvens não fizeram frente ao fogareiro e as fotos enquadram uma amostra da beleza local. Em contrapartida o miojão e sopa não mudaram muito...

Duas viagens: ambas em dois dias e com um toque místico, mas esta certamente foi mais documentada - e mais venenosa... Entenda tudo nos detalhes diários ;)

Mapa & Tracks

1Cobras me mordam 1 dia 76 km
DIA 1 curitiba, lapa, parque do monge

Praticamente não-muito-atrasados-por-causa-do-thi-como-sempre saímos acompanhandos de um garoazinha chata. O tempo melhorou, esquentando aos poucos e, quase na hora do almoço, já estávamos com alguma insolação. Após uma pequena parada no SAU (Serviço de Atendimento ao Usuário - rodovia do xisto, recém pedagiada) para tomar o costumeiro cházinho/cafézinho, seguimos para o centro da Lapa com o objetivo de comprar mantimentos. Em função da proximidade da Páscoa compramos alguns chocolatinhos (inédito!) para comemorações posteriores.

Sem mais delongas no centro, seguimos para o Parque do Monge - mais 4km. Lá fizemos os devidos registros com a polícia florestal e partimos para o almoço, refeição realmente triste: miojo-sopão-escoado. De sobremesa, apesar de diversas manifestações do fenômeno supersônico, organizamos um passeio para conhecer o parque - afinal viajamos para conhecer, não para dormir...

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O Fenômeno Supersônico
Física, Medicina e Cicloturismo são ciências que gozam de relações bastante íntimas. Independente dessa promiscuidade, estudos conjutos têm revelado a multiplicação acelerada do chamado fenômeno supersônico no meio expedicionário. Acompanhe:
O Efeito Supersônico é resultado de distúrbios nas glândulas e nas pequênulas manifestações hormonais de pouso e re-pouso. Índices elevados e remissivos de travesseroma na corrente sanguínea afetam o sistema muito nervoso central, causando super super super-mas-muito-super-mesmo altas no nível sônico, inibindo a consciência e causando então a nominativa reação: o sono imediato. Classifica-se o coeficiente de aceleração sonífera, progressivamente, em: sonolento, sonorápido e supersônico.
Os supersonêcos, pessoas afetadas pelo fenômeno, estão sujeitas à manifestação de distorções guturais involuntárias - como no caso do Arce e do seu ronco supersonoro. Além dele, o thi completa o quadro de supersonêcos do odois, totalizando vinte por sessento de contágio no grupo.

Após uma breve passagem pelo mirante, seguimos às trilhas. Inicialmente existe calçamento - caminho à gruta que no passado abrigou o monge João Maria. Ali encontram-se fotos, velas, imagens de santos, placas de homenagem - enfim - artigos que deixam o ambiente um pouco denso, talvez por configurarem, além de agradecimentos pelas graças recebidas, súplicas de ajuda ao santo canonizado pela população.

Além do calçamento, caminhamos por cerca de uma hora explorando as reentrâncias entre os paredões do local. Na metade da tarde paramos para descansar em um dos últimos pontos em que se podia vislumbrar a cidade. Após muita conversa inútil e alguns ataques de formiga, tentamos voltar diretamente à estrada de acesso ao Parque (parelela às trilhas).

Utilizando-se do melhor senso "sem-noção", seguimos abrindo uma picada no mato para agilizar o acesso. Cinco minutos depois avistávamos a estrada - todos seguiam alegremente como teletubbies em colinas verdejantes, na direção de uma estátua próxima. A partir daí o dú começou a sentir um pequeno formigamento na perna. No melhor estilo "não deve ser nada / não é nada / realmente não deve ser mais que uma picada de abelha", ele prosseguiu com o grupo até não mais aguentar o formigamento. Só então os outros componentes perceberam que algo realmente sério estava acontecendo.

Duas pequenas marcas na perna do du sugeriam tratar-se de uma picada de cobra - a descuidada "picada aberta no meio do mato" ganhava agora duplo sentido. Pela primeira vez um componente passava por uma situação tão adversa. Caminhando precariamente até o posto da polícia florestal, recebemos do encarregado a notícia de que não havia muito o que fazer - no máximo chamar o siate, o que demoraria muito. Em comum acordo, thiago e du prosseguiram de bicicleta até o hospital da Lapa - com perna esquerda ou sem perna esquerda teríamos que chegar lá.

Nesse momento o cenário da viagem se divide em dois: o Hospital e o Acampamento.

No hospital, atendido rapidamente, entre injeções, soros e diferentes diagnósticos, o du (dupado) foi encaminhado para um quarto - seu pouso nesta noite. Seu último pedido - que dramático! - foi para que o thi voltasse ao acampamento pra não ter que dormir em uma cadeira de hospital.

No acampamento cheps e o arce passaram o restante da tarde conversando e fazendo café. Ao anoitecer jantaram mais um macarrão-contra-sopão. Cerca de 21h o thiago retorna - assustando eles por não o virem, assustado por fazer o trajeto sozinho à noite.

2Uns de bicicleta, outro de carro 1 dia 75 km
DIA 2 parque do monge, lapa, curitiba

Pela manhã, 8h, o grupo foi ao hospital mas não pode escapar das limitações do horário de visita. Após levantar acampamento, a bagagem do du (alforje, barraca, panela...) foi distribuída entre os componentes não violentados por cobras.

Confirmado o cartão vermelho do orientador espacial do grupo, o thi se encarregou de informar a família do rapaz enfermo (o lulis não poderia se deixar fora da viagem - até participação especial no resgate serve...). Em uma segunda tentativa de visita, agora bem sucedida, conscientizaram o du da dramática situação: teria de voltar de carro. Todos despedem-se do menino da cobra e, antes de seguir viagem, almoçam pizza (inédito em viagens!) e dormem supersônecos na praça central da cidade.

Retornando sobrecarregado, o grupo ainda encontrou na estrada a equipe de resgate que levaria o du (e o peso extra, ufa!) à Curitiba. Enfim voltam, sofrendo com o sol, intenso que estava.

Noite mal dormida, o consolo é despertar com café na cama. Nessa altura o du ainda tinha esperança de retornar com grupo - expectativas podadas pelo plantonista que afirmou que seriam necessários mais dois dias em observação. Como a volta da viagem estava marcada para o mesmo dia ainda pela manhã, talvez não desse tempo de pedalar...

Enfim a notícia de que, realmente, a única solução seria solicitar a transferência para Curitiba. O internamento na capital não foi preciso, talvez o total de injeções tenha superado qualquer necessidade observação: 10 picadas entre braço esquerdo, braço direito, perna e bunda - sem contar as da cobra!

No final todos chegaram bem, ou quase. É interessante observar que, pouco tempo depois da viagem, o du descobriu que os dois piores meses do ano no quesito "perigo de ataque de cobras" são abril e maio! Portanto, ao planejar passeios ou viagens para lugares em que este risco exista, evite esse período - o risco realmente existe, experiência própria!

Expediente #

texto por Du.

Pedalado por du, cheps, thiago, arce.

Publicado em 1 jul 2005.