BR101.PR

6 a 8 set 2004 3 dias 304 km

Mais um grande projeto realizado: um passeio pelas entranhas da Serra do Mar no Paraná através do que deveria ser um trecho da legendária BR101!

Sair de Curitiba pela BR277 e chegar a Morretes já é costume. O grande desafio desta viagem foi percorrer o caminho entre Morretes e Garuva... Mas, existe isso? - você pergunta. Sim, existe! E é justamente parte do planejado trecho paranaense da BR101. Mas não se iluda, a "BR" ficou no projeto, o que o odois enfrentou foi muita terra, muito morro e muita água!

Depois de alguma comemoração em Garuva (conclusão do projeto BR101! odois em SC!) seguimos percorrendo boa parte do litoral paranaense. Paramos um dia em Ipanema (lapso no espaço-tempo!) e retornamos subindo a BR277, totalizando 3 cansativos mas gratificantes dias de pedalada!

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O trecho da BR101 no PR
Se você não entendeu porque tanta festa em torno da BR101 a gente explica: A BR101 é uma rodovia federal longitudinal que deveria perimetrar o litoral brasileiro, interligando o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul num total de 4.553 km! Deveria porque, embora praticamente toda concluída, conta com alguns trechos em implantação, outros sobrepostos à rodovias estaduais e outros ainda em planejamento. O maior trecho não realizado é exatamente o contido em terras paranaenses, suprimido justamente por atravessar uma região de preservação da riquíssima - e cada vez mais rara - Mata Atlântica. O trajeto percorrido pelo odois corresponde ao 4º e maior trecho planejado da rodovia no Paraná, 60 km interligando a BR277 à BR376 pela Serra do Cubatão, atualmente uma estrada de saibro notoriamente irregular que margeia alguns vilarejos e muitas belezas naturais...

Acesso: Se você quiser fazer esse belíssimo trajeto nunca, e digo NUNCA mesmo, pergunte pela BR101. A entrada da estrada, para quem vem de Curitiba sentido Paranaguá, fica à direita da BR277, logo após a entrada secundária para Morretes. Caso precise de informações pergunte pela estrada que leva às localidades: Sambaqui, Limeira, Cubatão, Garuva. E, para evitar confusão, pergunte nessa ordem. Se você ainda não se achou, pergunte por Sambaqui. Se você está em Sambaqui, pergunte por Limeira, e não por Garuva, ou você corre o risco de não se encontrar - ou de não ser encontrado...

Mapa & Tracks

1Onde fica BR101 que não existe? 1 dia 108 km
DIA 1 curitiba, estrada da limeira, cubatão

Primeiro dia da jornada ainda incerta mas já batizada, o projeto BR101. A decisão de executar o projeto foi tomada às pressas, um dia antes, no maior clima de "vamos fazer alguma coisa nesse feriado, pô!". Correria pra arranjar componentes dispostos a viajar e componentes para as bicicletas dos componentes dispostos a viajar (um pneu traseiro pro cheps e pedais mais largos pro lulis). Tudo resolvido, dormimos na casa do du e partimos cedo, sem saber precisar distâncias - mas anseando por Garuva ao fim do dia (há!).

Uma bela descida da serra pela BR277 - aliás, cada vez que descemos a serra nos convencemos de que a descida não é tão descida assim - encerrou-se em dúvidas depois de passarmos pelo quilômetro 22km da rodovia (nossa referência para a entrada da ainda suposta BR101). Sem muita certeza de onde entrar, pois a população local ignora o projeto da rodovia e perguntar por ela não ajudou muito, seguimos por um acesso de saibro à direita na esperança de acertar o caminho.

Erramos. Percorremos em 15km de subidas e descidas realmente acentuadas o que poderíamos ter feito em 2km de plano se acertássemos a entrada. Mas odois é isso aí, ninguém nega que, apesar de originar-se de um erro, a descida de morro até Sambaqui tenha sido um dos trechos mais adrenados do projeto!

Passamos por Sambaqui - se não tiver mantimentos compre aqui! (jingle fajuta, mas contém uma grande verdade) - e seguimos rumo à Limeira. O pai do chéps estava à caminho, de moto. Iria nos acompanhar, ou ao menos conversar um pouco, ou só passar por nós mesmo. Ficamos encantados com o rio que margeava a estrada, entrecruzando-a em vários pontos - digo, em várias pontes - provavelmente um dos afluentes do rio Cubatãozinho. Diversas chácaras à beira da estrada tinham acesso somente nos pontos em que o rio, largo porém raso, permitia a passagem de veículos por sobre o leito.

A beleza natural da região nos encantava - enquanto a população local nos intrigava. Amistosos transeuntes comprimentavam-nos admirados: "Vão para Limeira? Corajosos..." Não que isso desse medo, até animava o nosso espírito aventureiro, mas preocupava - o que estaria por vir?

Subida. E muita. Esse era o real motivo da admiração. Inicialmente entusiasmados, depois conformados, ou ainda exaustos, em certos momentos desesperados... subimos. Revezando bicicletas e mochilas (todo alforje tende a ficar em repouso, sempre no ponto de menor altitude) e, depois de muito suor ao sol do meio-dia, depois de muitas paradas em pequenas bicas, depois de muito empurrar as bicicletas rendidos pela resistência que o aclive e o terreno nos ofereciam, depois de tudo isso, continuamos subindo.

E então subimos mais um pouco e, quando acabou, nós descemos. E como. Não que tenha compensado a subida, mas foi um grande alívio. Vistas inesperadamente belas da cadeia montanhosa durante a descida da ladeira pedreira e, para finalizar a manhã, uma merecida parada em um riacho que nos havia sido indicado pela população. Água límpida, cristalina, geladinha...

E pedal, pedal, pois Garuva nos espera! Passamos em Limeira (passamos? nem vi...) e chegamos a uma travessia que nos obrigou a descer das bicicletas, novamente.

Descalços, por cerca de 50m, du e cheps cruzaram o leito do rio cubatãozinho - cuja profundidade não ultrapassava 20cm naquele ponto - carregando cautelosamente suas bicicletas. O lulis aguardaria o retorno deles para a travessia da bicicleta com o alforje. Ao terminar a travessia do rio o du e o cheps deparam-se com uma cena que os deixa indignados: O lulis! Do outro lado do rio! Lulis, bicicleta, alforje, tudo seco! Enquanto os dois passavam pelo rio alguns turistas frequentadores do local indicaram ao lulis uma ponte estreita um pouco acima, destinada a pedestres... como os dois já estavam no meio do rio, o lulis seguiu pela ponte, em silêncio, e fez a recepção surpresa na outra margem do rio! Como cerca de meia tarde já havia decorrido não ficamos tempo maior do que o necessário para secar os pés e voltar a pedalar (até esquecemos da foto...).

Tínhamos a ilusão de atingir Garuva antes de anoitecer, só ilusão mesmo. À cada 5km pedalados encontrávamos alguém que dizia que Garuva estava à uns 40km. Tínhamos a nítida impressão de que a cidade se locomovia em velocidade e sentido idênticos aos nossos. Passamos por Rasgadinho (?), chegamos à Rasgado (??) e concluímos que estas localidades são apenas materializações da clássica definição de lugar-nenhum, pois mais uma vez passamos e não vimos nada... Traumatizados depois dos exageros de subida, deparamo-nos com quê? Com quê?

Bananas! Bananas por todos os lados, bananais avançando por sobre nossas cabeças, bananas, bananas, bananas... (e eu que tinha lido alguma coisa sobre a extinção das bananas...) Depois de muito pedalar entre bananas cruzamos a incomum ponte sobre o rio cubatão (pelo menos tinha ponte, né?) já convencidos de que não chegaríamos à Garuva no mesmo dia... Informamo-nos e conseguimos, por uma módica quantia, pousar no vestiário do campo de futebol da região (o lulis sempre carrega a barraca à toa...). Tomamos um bom banho quente e jantamos macarronada na lanchonete anexa ao campo. Dormimos cedo, sobre um conjunto de lona+cobertor-do-lulis que não estava muito mais macio do que o próprio chão...

2Menos bananas, mais praias 1 dia 94 km
DIA 2 cubatão, garuva, guaratuba, caiobá, matinhos, pontal do paraná

Pouco antes das 6 da manhã: todos de pé, tortos e dispostos a seguir tão breve quanto possível! Bicicletas e carga em ordem, alongamento e café da manhã às pressas (os mosquitos acordaram junto!). Partimo-nos rumo à Garuva. No caminho, bananas. Mais alguns belos trechos e bananas. Muitas bananas.

Depois de mais 30km em estrada de terra, pequenas localidades, belas paisagens e muito mais bananas, enfim, Garuva! Concluímos o trajeto através da BR101! Comemoramos na praça em frente à igreja com um segundo café da manhã e seguimos rumo à Guaratuba, agora pelo asfalto.

O acostamento ruim, quando existia, e o trânsito da volta do feriado contribuiram para deixar este trecho não tão agradável quanto a BR101, mas a quantidade de bananas diminuiu consideravelmente. O clima permaneceu o dia todo como começou: querendo chover...

Já em Guaratuba, após uma breve parada para visitar o Morro do Cristo (brejatuba), seguimos pela beira-mar até retomar o a estrada para o ferry-boat. odois em movimento e sem esforço! Mas só durante a travessia do ferry-boat, pois antes e depois, como não poderia deixar de ser, é só morro... Beira-mar em Caiobá, paradinha rápida no mirante da ponta das pedras e retomamos a rodovia sentido Praia de Leste.

O cheps reviveu a infância ao encontrar algumas casas de verões passados. O lulis bem que tentou, mas não chegou a tempo de encontrar a namorada. O du festejou com um e consolou o outro. Chegamos em Ipanema e, seguindo a tradição, fomos bem recebidos no apartamento da mãe do du e do lulis. Comemos muito bem e, acredite, dormimos melhor ainda....

Então você pergunta: Mas, e o pai do cheps? Diz a lenda que, ainda no primeiro dia de viagem, o motoqueiro misterioso passou o grupo de jovens ciclistas enquanto almoçavam às margens do riacho de águas límpidas. O cheps garante que ele foi. Eu tenho minhas dúvidas...

3Sobe 1 dia 102 km
DIA 3 pontal do paraná, curitiba

Se, com alguma atenção, você percebeu que nós demos um pequeno salto do dia 07/09 (2º dia) para 09/09 (3º dia), você não está ficando louco e nem nós. O lapso do sumiço de um dia resulta da incorporação do espírito litorâneo - quase baiano - de fazer de tudo para não fazer nada... Então não o penúltimo dia não conta na viagem! ;)

Terceiro dia de viagem, ainda influenciados pelo dia-que-praticamente-não-exisitiu, partimos somente após o almoço. Enquanto nos foi possível (com algo de impossível também) trafegamos pela beira-mar, ou seja, de Ipanema à Praia de Leste. Depois seguimos para Curitiba pelas rodovias mais do que conhecidas, parando para descansar apenas nos dois postos de atendimento ao usuário da BR277 (nos limites da serra).

Expediente #

texto por Du e Lulis.

Pedalado por du, lulis, cheps.

Publicado em 9 set 2004.