BR101.PR
Mais um grande projeto realizado: um passeio pelas entranhas da Serra do Mar no Paraná através do que deveria ser um trecho da legendária BR101!
Sair de Curitiba pela BR277 e chegar a Morretes já é costume. O grande desafio desta viagem foi percorrer o caminho entre Morretes e Garuva... Mas, existe isso? - você pergunta. Sim, existe! E é justamente parte do planejado trecho paranaense da BR101. Mas não se iluda, a "BR" ficou no projeto, o que o odois enfrentou foi muita terra, muito morro e muita água!
Depois de alguma comemoração em Garuva (conclusão do projeto BR101! odois em SC!) seguimos percorrendo boa parte do litoral paranaense. Paramos um dia em Ipanema (lapso no espaço-tempo!) e retornamos subindo a BR277, totalizando 3 cansativos mas gratificantes dias de pedalada!
- O trecho da BR101 no PR
- Se você não entendeu porque tanta festa em torno da BR101 a gente explica: A BR101 é uma rodovia federal longitudinal que deveria perimetrar o litoral brasileiro, interligando o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul num total de 4.553 km! Deveria porque, embora praticamente toda concluída, conta com alguns trechos em implantação, outros sobrepostos à rodovias estaduais e outros ainda em planejamento. O maior trecho não realizado é exatamente o contido em terras paranaenses, suprimido justamente por atravessar uma região de preservação da riquíssima - e cada vez mais rara - Mata Atlântica. O trajeto percorrido pelo odois corresponde ao 4º e maior trecho planejado da rodovia no Paraná, 60 km interligando a BR277 à BR376 pela Serra do Cubatão, atualmente uma estrada de saibro notoriamente irregular que margeia alguns vilarejos e muitas belezas naturais...
Acesso: Se você quiser fazer esse belíssimo trajeto nunca, e digo NUNCA mesmo, pergunte pela BR101. A entrada da estrada, para quem vem de Curitiba sentido Paranaguá, fica à direita da BR277, logo após a entrada secundária para Morretes. Caso precise de informações pergunte pela estrada que leva às localidades: Sambaqui, Limeira, Cubatão, Garuva. E, para evitar confusão, pergunte nessa ordem. Se você ainda não se achou, pergunte por Sambaqui. Se você está em Sambaqui, pergunte por Limeira, e não por Garuva, ou você corre o risco de não se encontrar - ou de não ser encontrado...
Primeiro dia da jornada ainda incerta mas já batizada, o projeto BR101. A decisão de executar o projeto foi tomada às pressas, um dia antes, no maior clima de "vamos fazer alguma coisa nesse feriado, pô!". Correria pra arranjar componentes dispostos a viajar e componentes para as bicicletas dos componentes dispostos a viajar (um pneu traseiro pro cheps e pedais mais largos pro lulis). Tudo resolvido, dormimos na casa do du e partimos cedo, sem saber precisar distâncias - mas anseando por Garuva ao fim do dia (há!).
Uma bela descida da serra pela BR277 - aliás, cada vez que descemos a serra nos convencemos de que a descida não é tão descida assim - encerrou-se em dúvidas depois de passarmos pelo quilômetro 22km da rodovia (nossa referência para a entrada da ainda suposta BR101). Sem muita certeza de onde entrar, pois a população local ignora o projeto da rodovia e perguntar por ela não ajudou muito, seguimos por um acesso de saibro à direita na esperança de acertar o caminho.
Erramos. Percorremos em 15km de subidas e descidas realmente acentuadas o que poderíamos ter feito em 2km de plano se acertássemos a entrada. Mas odois é isso aí, ninguém nega que, apesar de originar-se de um erro, a descida de morro até Sambaqui tenha sido um dos trechos mais adrenados do projeto!
Passamos por Sambaqui - se não tiver mantimentos compre aqui! (jingle fajuta, mas contém uma grande verdade) - e seguimos rumo à Limeira. O pai do chéps estava à caminho, de moto. Iria nos acompanhar, ou ao menos conversar um pouco, ou só passar por nós mesmo. Ficamos encantados com o rio que margeava a estrada, entrecruzando-a em vários pontos - digo, em várias pontes - provavelmente um dos afluentes do rio Cubatãozinho. Diversas chácaras à beira da estrada tinham acesso somente nos pontos em que o rio, largo porém raso, permitia a passagem de veículos por sobre o leito.
A beleza natural da região nos encantava - enquanto a população local nos intrigava. Amistosos transeuntes comprimentavam-nos admirados: "Vão para Limeira? Corajosos..." Não que isso desse medo, até animava o nosso espírito aventureiro, mas preocupava - o que estaria por vir?
Subida. E muita. Esse era o real motivo da admiração. Inicialmente entusiasmados, depois conformados, ou ainda exaustos, em certos momentos desesperados... subimos. Revezando bicicletas e mochilas (todo alforje tende a ficar em repouso, sempre no ponto de menor altitude) e, depois de muito suor ao sol do meio-dia, depois de muitas paradas em pequenas bicas, depois de muito empurrar as bicicletas rendidos pela resistência que o aclive e o terreno nos ofereciam, depois de tudo isso, continuamos subindo.
E então subimos mais um pouco e, quando acabou, nós descemos. E como. Não que tenha compensado a subida, mas foi um grande alívio. Vistas inesperadamente belas da cadeia montanhosa durante a descida da ladeira pedreira e, para finalizar a manhã, uma merecida parada em um riacho que nos havia sido indicado pela população. Água límpida, cristalina, geladinha...
E pedal, pedal, pois Garuva nos espera! Passamos em Limeira (passamos? nem vi...) e chegamos a uma travessia que nos obrigou a descer das bicicletas, novamente.
Descalços, por cerca de 50m, du e cheps cruzaram o leito do rio cubatãozinho - cuja profundidade não ultrapassava 20cm naquele ponto - carregando cautelosamente suas bicicletas. O lulis aguardaria o retorno deles para a travessia da bicicleta com o alforje. Ao terminar a travessia do rio o du e o cheps deparam-se com uma cena que os deixa indignados: O lulis! Do outro lado do rio! Lulis, bicicleta, alforje, tudo seco! Enquanto os dois passavam pelo rio alguns turistas frequentadores do local indicaram ao lulis uma ponte estreita um pouco acima, destinada a pedestres... como os dois já estavam no meio do rio, o lulis seguiu pela ponte, em silêncio, e fez a recepção surpresa na outra margem do rio! Como cerca de meia tarde já havia decorrido não ficamos tempo maior do que o necessário para secar os pés e voltar a pedalar (até esquecemos da foto...).
Tínhamos a ilusão de atingir Garuva antes de anoitecer, só ilusão mesmo. À cada 5km pedalados encontrávamos alguém que dizia que Garuva estava à uns 40km. Tínhamos a nítida impressão de que a cidade se locomovia em velocidade e sentido idênticos aos nossos. Passamos por Rasgadinho (?), chegamos à Rasgado (??) e concluímos que estas localidades são apenas materializações da clássica definição de lugar-nenhum, pois mais uma vez passamos e não vimos nada... Traumatizados depois dos exageros de subida, deparamo-nos com quê? Com quê?
Bananas! Bananas por todos os lados, bananais avançando por sobre nossas cabeças, bananas, bananas, bananas... (e eu que tinha lido alguma coisa sobre a extinção das bananas...) Depois de muito pedalar entre bananas cruzamos a incomum ponte sobre o rio cubatão (pelo menos tinha ponte, né?) já convencidos de que não chegaríamos à Garuva no mesmo dia... Informamo-nos e conseguimos, por uma módica quantia, pousar no vestiário do campo de futebol da região (o lulis sempre carrega a barraca à toa...). Tomamos um bom banho quente e jantamos macarronada na lanchonete anexa ao campo. Dormimos cedo, sobre um conjunto de lona+cobertor-do-lulis que não estava muito mais macio do que o próprio chão...

a descida da serra sempre proporciona belas paisagens...

nossa entrada para a br101 - a entrada errada, claro...

subindo subindo subindo para limeira, e subindo...

tinha que começar a descer um dia, né...

parada paradisíaca para um merecido almoço

mais um pano de fundo realmente relaxante...

e a beleza acolhedora do riacho onde almoçamos

compasso primitivo (cheps) - ou só um pedaço de guarda-chuva (du)

uma árvore solitária em outro cruzamento com um riacho límpido

o paredão das montanhas que nos separavam do mar

e o nosso caminho ao pé das montanhas que precedem o 1º planalto

rasgadinho... (?)...

beleza da vegetação às margens do afluente do cubatão

banana, banana, banana, banana, bananaaa...

atravessando o rio cubatão no fim da tarde...

e o poente selando a decisão de pousar por aqui
Pouco antes das 6 da manhã: todos de pé, tortos e dispostos a seguir tão breve quanto possível! Bicicletas e carga em ordem, alongamento e café da manhã às pressas (os mosquitos acordaram junto!). Partimo-nos rumo à Garuva. No caminho, bananas. Mais alguns belos trechos e bananas. Muitas bananas.
Depois de mais 30km em estrada de terra, pequenas localidades, belas paisagens e muito mais bananas, enfim, Garuva! Concluímos o trajeto através da BR101! Comemoramos na praça em frente à igreja com um segundo café da manhã e seguimos rumo à Guaratuba, agora pelo asfalto.
O acostamento ruim, quando existia, e o trânsito da volta do feriado contribuiram para deixar este trecho não tão agradável quanto a BR101, mas a quantidade de bananas diminuiu consideravelmente. O clima permaneceu o dia todo como começou: querendo chover...
Já em Guaratuba, após uma breve parada para visitar o Morro do Cristo (brejatuba), seguimos pela beira-mar até retomar o a estrada para o ferry-boat. odois em movimento e sem esforço! Mas só durante a travessia do ferry-boat, pois antes e depois, como não poderia deixar de ser, é só morro... Beira-mar em Caiobá, paradinha rápida no mirante da ponta das pedras e retomamos a rodovia sentido Praia de Leste.
O cheps reviveu a infância ao encontrar algumas casas de verões passados. O lulis bem que tentou, mas não chegou a tempo de encontrar a namorada. O du festejou com um e consolou o outro. Chegamos em Ipanema e, seguindo a tradição, fomos bem recebidos no apartamento da mãe do du e do lulis. Comemos muito bem e, acredite, dormimos melhor ainda....
Então você pergunta: Mas, e o pai do cheps? Diz a lenda que, ainda no primeiro dia de viagem, o motoqueiro misterioso passou o grupo de jovens ciclistas enquanto almoçavam às margens do riacho de águas límpidas. O cheps garante que ele foi. Eu tenho minhas dúvidas...

cubatão, nós dormimos aqui! bananas até na placa...

saímos cedo, vimos bananas de pijamas e baby-doll

belas paisagens entre os infindáveis bananais

garuva! odois em sc! e a futura(?) br101 ao fundo

em garuva, da direita pra esquerda: cheps, du, lulis e jesus, suponho

em guaratuba: morro do cristo (o q ele ta fazendo na foto ao lado?)

o mesmo trajeto da foto anterior, com o fotógrafo no outro extremo

ciclistas filosofando sobre a vida olhando o infinito mar azul

bicicletas fingindo que estão filosofando também...
Se, com alguma atenção, você percebeu que nós demos um pequeno salto do dia 07/09 (2º dia) para 09/09 (3º dia), você não está ficando louco e nem nós. O lapso do sumiço de um dia resulta da incorporação do espírito litorâneo - quase baiano - de fazer de tudo para não fazer nada... Então não o penúltimo dia não conta na viagem! ;)
Terceiro dia de viagem, ainda influenciados pelo dia-que-praticamente-não-exisitiu, partimos somente após o almoço. Enquanto nos foi possível (com algo de impossível também) trafegamos pela beira-mar, ou seja, de Ipanema à Praia de Leste. Depois seguimos para Curitiba pelas rodovias mais do que conhecidas, parando para descansar apenas nos dois postos de atendimento ao usuário da BR277 (nos limites da serra).