Serra Sete Rios
Se tiver que cair em batalha, gravitante leitor, que seja com honra e glamour. Que seja por uma valente roda que parte, uma experiente corrente que rompe, um companheiro quadro que trinca. Uma queda digna, no calor de uma grande aventura. Mas, como diria o outro, melhor mesmo é prevenir:
- Pneus calibrados e em bom estado - checked
- Transmissão regulada e lubrificada - checked
- Documentos pessoais, dinheiro, cartão, vacina de febre amarela - checked
- Pastilhas de freio, pastilhas de garganta, pastilhas de purificação de água - checked
- Óleo fortificante, amaciante, hidratante e alinhante para barba - checked
- Rosca da abraçadeira de canote da bicicleta do du - failed
Sim. A vergonha, enrubescido leitor, de nem mesmo dar o pontapé inicial de uma ansiada expedição full-day. A decepção manifestada numa mera rosca da abraçadeira de canote espanada. A aventura prometida parecia acabar antes do início. A indignação, assim como a rosca, não tinha fim.
Mas o brasileiro é carnavalesco criativo e não desiste nunca. E foi mashupiando um apoio de pézinho, uma abraçadeira sobressalente e um suporte provisório de caramanhola que contornamos a inesperada quase-queda. Animados com a gambiarra solução, saímos da bela Witmarsum com a esperança de, além de chegar cedo, conseguir manter o banco do du nas alturas.
- Vocês voltam que horas? - disse a dona do café colonial, onde deixamos o carro.
- Até as 16h, com certeza. Voltaremos para o café.
E olhe que o famigerado João Batista, o ciclista otimista, nem estava presente.
Cruzamos o planaltão em busca de uma vaga e bela lembrança, a localidade de Cercado. Uma bela região, às margens da escarpa, com vista para vastidão do vale esculpido pelo Rio Açungui. Conhecíamos apenas até a bordinha - e dali pra frente o desafio aumenta muito. Como deve pressentir, etimológico leitor, o termo guarani açungui significa muita serra, vale, sobe, desce, sol, calor, sobe, desce, sobe, sobe, sobe aqui.
Foi uma bonita queda - de relevo. E outras de água, que valem cada pingo de suor e chuva. A sinuosa Serra Sete Rios tem esse nome (guess why) por cortar sete rios. É o que dizem. Com o calor que fazia, pudemos aproveitar a água gelada para uma resfriada. O difícil mesmo é conseguir sair de lá depois. Não só porque é bonito e refrescante, mas pela montanha russa rural dos caminhos dali.
Passados muitos relevantes cortes interioranos, cruzamos a fundoválica Itaimbezinho ouvindo estrondosos trovões ao fundo. Depois de margear a conhecida jazida da Itambé, passamos o resto do tempo escalando estradas até Witmarsum.
Já eram 19h passadas quando adentramos o estacionamento do café - pela lateral, afinal já estava fechado. Os citadinos bebiam as últimas gotas de um barril de chopp, cambaleando sob a última luz acessa no raio de 1km. E no conto do "claro que vamos chegar cedo", mais uma vez, parece que caímos. Na próxima, melhor cada um lembrar de vistoriar sua rosca.

primeira tentativa de conserto: um pedaço do pézinho

ahá, foram de carro!

ahá, foram pedalar no asfalto!

ahá, ahgora sim!

acaso seria esse, o tal cercado?

maior pinta de ponta grossa essa região

tem até as típicas areiaplanagens

as formações rochosa do cercado, cercadas

o grande mirante nas bordas do cercado

um dia vou conhecer essa serra baixa, proferimos no passado

falar só por falar é fácil

e encarar essa descida aí? é de pensar duas vezes né geraldo?

logo se vê que o negócio aqui são veículos alternativos

é um tal de roça-os-matos

e leva tronco

e pau nas máquina

e água, muita água. e rio. sete, dizque

parece que descemos bastante mesmo

pelo menos em um dos sete a gente ia entrar

pelas barbas da aranha

que geraldo foi esse

não publicar esta foto

que tal aproveitar que é meio dia e começar a subir?

o zangaDuHipsterNoel já dando sinais de desespero

- e daqui pra frente vai ter tudo assim

- mentira, só vai ter subida, vamo dar a meia volta

mas já não tem mais volta. vai ter que trocar a braçadeira do gás

e a subida, de entortar barbudo

de empurrar barbudo e barba feita

de fotógrafo ficar pra trás pra respirar

finalmente uma descidona

que vai levar a perda de todos os créditos de altitude...

pra começar mais uma subida, até a jazida da itambé, que já é láá embaixo

é de rodar as tamancas e taquinhas

daqui pra frente é só asfalto, a gente já chega

no alto de outra subida...

outra não, a mesma, sempre a mesma

acho que n vo chegar pro almoco, desc amor, bjs

não dá pra esquecer que tem mais essa subida

e quase chegando lá é só... subir. e depois cair. no sono
Expediente #
Texto, comentários e fotos por Du e Lulis, braçadeira improvisada por Geraldo.
Pedalado por du, lulis, geraldo.
Publicado em 15 ago 2018.