Marquês de Abrantes
Para tangibilizar os agentes motivadores desta misteriosa e intrigante expedição, nobilíssimo leitor, nos vemos na obrigação de recorrer a um breve resgate histórico de titulação:
- Marquês de Abrantes
- É um título nobiliárquico criado por D. João V em 1718 a favor D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Meneses, este que fora ainda 3º Marquês de Fontes e 7º Conde de Penaguião. A ele foi dado o título após receber, como doação, a vila de Abrantes e todas as suas jurisdições.
- Até 1917 foram sete sucessores de D. Rodrigo, detentores deste marquesado. A então vila tornou-se uma cidade, a atual Abrantes, na região central de Portugal.
Acesso: não pareceu uma pessoa acessível.
Neste momento você, fidalgo leitor, se reacomoda na cadeira e, tomado por uma tempestade sináptica, tenta entender como tão manuficiente contexto poder-se-ia introduzir nesta cicloturística expedição. Até onde lhe alcançam os olhos, não se observam indícios de viagem internacional. Tivéramos a ousadia de viajar ao velho continente? Enveredaríamos arteriosamente na contramão de nossas veias colonizadoras? Ou se trata tão somente de pretexto para usufruir da imagem de um homem de discreto sorriso, profuso cabelo e excêntrico bigode?
- Pelas ceroulas do condado, prolixos expedicionários!!! Onde raios estiveram vocês além do ca-ducado de vossa própria mente?
Inquisitivo leitor, não estamos aqui para enganá-lo. Em verdade, embarcamos nesta viagem com tanta compreensão quanto a sua acerca do nobre tema. Só sabíamos que nada sabíamos, e da mesma forma convidamo-lo a seguir conosco.
A feitura teve início no emblemático vislumbre de um OSNI. Logo percebemos que não era o OSNI, mas sim o Adriano - prontamente promovido a Marquês de Xavantes dado seu vasto e exótico cabelame. Não por menos, Du recebeu a alcunha de Marquês de Abrantes, dado o análogo bigode abarbado. Adiante, João Batista, o cicloturista otimista, assumiria o papel de profeta do impossível, crendo fielmente que chegaríamos a algum lugar - e cedo. Por fim, o Marquês de Roça-os-vales, famigerado Lulis, apregoava a certeza de que avançaríamos noite adentro: Aposto-lo, Thiago!
- OSNI
- Acrônimo imperfeito para a expressão Objeto Ciclístico Não Identificado ¹, que significa exatamente o que aparenta significar.
¹ Se me perguntarem, digo que não conheço.
Deveras reunidos, tomamos o rumo de São Paulo. Na mesma manhã, um profundo talho no pneu do M.es de Xavantes nos rendeu. Como prova de amizade, o compadecido M.es de Abrantes deu legítimo crédito ao confrade: cedera um seu mastercárdico cartão para inserir em seu inoportuno rasgo (rasgo do pneu, seguramente). As ganas de um farto almoço, aliadas à bela paragem que se avistava ao longe, lograram preservar o ânimo do grupo.
Já era iniciada a tarde quando os cinco deixam a rodovia principal e se puseram a caminho de...
- Marquês de Abrantes?
Sim, tempestuoso e impaciente leitor. Não estamos despendendo vossa preciosa existência com gratuitas piadas de barba, cabelo e bigode. De fato, estávamos no rumo de Marquês de Abrantes! Vívidos, animados, cabeludos e até um pouco úmidos, cultivávamos um objetivo concreto: chegar a Marquês de Abrantes.
- Ainda hoje! (completaria João Batista)
Não tão rápido. Primeiramente, vamos aceitar que não usamos de qualquer condução, abdução ou intoxicação para viajar à longínqua cidade portuguesa. Rumávamos, sim, a uma colônia homônima, situada no território de Tunas do Paraná. A BR116, embora extensa, não previa contratos de concessão além-mar (na época).
- Ora, pombas! Mas que raios havia nessa tal Marquês de Abrantes?!
Devagar, ansiolítico leitor, devagar. Assim como íamos nós. A expedição se mostrava um empreendimento muito custoso. Conhecíamos de outrora o relevo da região, mas sempre há cartas na franzida manga do Valete da Ribeira. Os vales sinuosos não davam trégua, tampouco a chuva fraca e persistente. Nesta batalha rendia-se apenas o mastercárdico cartão que, em frangalhos e descrédito, demandava a redução da marcha de avanço do M.es de Xavantes e seus correligionários.
O sol já se pusera quando alcançamos uma topografia mais amena, ampliando a cadência e o desenrolar das distâncias. Adentramos a já conhecida Tunas do Paraná com céu escuro, buscando apressados uma acessível estalagem para o nosso acalento. Apartamos num simpático hotel que logramos apelidar de Bom Descansso, donde saímos apenas para uma merecida recompensa pelo dia de tão exaustivos avanços: pizza.
Acerque-se das fotos e deixe-se levar pelos contos do dia, menestrélico leitor. Enquanto isso, repousam os homens de cabelos e bigodes excêntricos.
- Mas, e Marquês de Abrantes? Conheceram?
Onde?

que circo foi esse?

- ééé... bebendo água!? bebida!? mamadeira!? encher a cara!? dá uma pista!

- opa, confundi, a gente tá jogando stop

- i want to play a game

joão eleutério, o ciclista sério, prefere jogar não pode rir

m.es de abrantes e m.es de xavantes. tinta e óleo, 1743

m.es de roça-os-vales, del principado hispânico de pocatellas

posicionamento de marca: nas costas

das pontes que passamos, essa seguramente foi a gangorra mais segura

represa que inunda as antigas terras do capitão vari

todo mundo enrolando na foto

parece que alguém não quer ser reconhecido por aqui

mais terras da família vari: o morro do cap. vari grande

saindo do asfalto com joão valente, o ciclista sorridente

aqui vai começando uma subida...

...que só termina em marquês de abrantes!

alô? com quem? joão ibrahim? é o ciclista que acabou de passar por mim

tem gente que leva essa coisa de trocadilho ruim a sério

só tô vendo vocês enrolarem

melhor vocês marcarem o ritmo antes que o andré marques

não riu porquê? não tá curtindo essa malhação?

- tem de morango, beijinho e brigadeiro. é pra minha formatura

finalmente, o thiago. de perto parece mais molhado

avanço dos marqueses, ligeira vantagem para abrantes

repare que sempre tem uma flor que abr'antes

não é uma imagem de apelo sexual, embora o dia esteja de f#d@r

finalmente! a primeira fotografia em marquês de abrantes

visão longínqua do belvedere de marquês de abrantes

já se afastando com veemência de marquês de abrantes

um quase-incidente causado por freiada brusca e excesso de carga frontal
Despertamos após um revitalizante bomdescansso no hotel. Diferente das cortes de outrora, tínhamos fácil acesso à internet, mas dificuldades com a senha do WiFi (sim, investigativo leitor: daí o apelido carinhoso do hotel). O tempo lá fora não era dos melhores, mas a sensação de dever cumprido já estava em nossas alforjas.
Tomamos o desjejum com o simpático Seu Carssudo, esposo da proprietária do hotel, dono do bar, lanchonete, restaurante e contador de histórias:
- Mas me contem, turma: 'cês vieram de bicicleta por M-a-r-q-u-ê-s de Abrantes, foi?
- Sim
- Mas pra quê, zomes?
- ...
- Tá loco! Sabe que lá é tanto barranco, mas tanto, que a turmada plantava os pinus atirando à flechada pra baixo do vale?!
Grande Carssudo, grande reflexão. Tão lúcido, tão pedagógico. Regozijando-nos com tais palavras de sabedoria, concedemos mais algum crédito - não a ele, mas ao pneu do M.es de Xavantes. O crédito de outrora já se esfarelara como areia no deserto.
Tardiamente, tomamos o rumo de casa pela tão sinuosa estrada da ribeira. Não são poucas as lembranças que temos dali. Se você é nosso leitor desde o tempo do odois império, sabe que nossa segunda viagem oficial passou por ali, há mais de uma dezena de anos. E, mais uma vez, retornamos singrando sorridentes esse belo traçado omnidirecionalmente curvilíneo.
- Mas, e Marquês de Abrantes? O que é Marquês de Abrantes? O que tem lá, que história toda foi essa? Passaram lá, afinal?
Não tinha nada demais.

nem amanheceu e o pneu do xavantes já tava passando cartão

em ação, joão evangelista, o ciclista metereologista

o bomdescansso pode ser da tia mari, mas quem toca o restaurante é o carçudo

os campinhos nesta foto têm cheiro de cafés da manhã dos bem passados

ééé, megulhador!? bailarina!? super-herói!? ah, já sei: abdução de osni!

- péra que o thiago ainda tá brincando de esconde-esconde

31 do thiago que tá dentro da casinha azul!

acho que ainda tem mais gente brincando de esconde-esconde

só a subida que não tá brincadeira. partiu mais uma de stop?

- sorteia só um, thiago, não pode olhar!

não falei que tinha outro escondido? 31 do mr heil atrás da bike!

ah, era o só o thiago aposto

uma rara foto do pictógrafo, do principado de pocatellas, conhecido como...

...m.es de roça-os-vales ou, em dias de crise, m.es de roça-as-valetas

esse jogo, de mostrar fotos do fotógrafo, se chama revelação

pra não deixar dúvida de que o jogo da estrada é subir, ó lá em baixo!

até onde a vista alcançar contemplar-se-ão, pois, os vales por nós roçados!

vencendo o último jogo, o jogo do ciclista jogado no chão, enquadra-se o joão