Corvo Branco e Rio do Rastro
Houve um tempo em que a tradicional celebração itinerante anual do odois correu risco de extinção. Depois da última fartura turística, caminhos divergentes ameaçavam a execução da famigerada "viagem de verão". Mas é da confusão que brotam as boas ideias:
- Pessoal, vou pra um retiro budista em Viamão, lá pras bandas de Porto Alegre. Alguém topa ir pedalando?
A ideia parecia muito boa, talvez por falta de outras melhores. O peculiar convite partia do Lulis que, antes mesmo de ganhar adeptos, ganhou a justa alcunha de "monge". Depois de sucessivas propostas e ajustes de agenda e roteiro, quatro bicigrinos partiriam de Joinville em configuração inédita. Não que peregrinar de bicicleta bicicgrinar seja novidade, como bem sabe o fiel leitor. O inédito da viagem era o noviço novato João, tio do Lulis (do Du, também). Heil e Thiago completavam a equipe (o Du, não).
Inédito também seria o roteiro conciso: com cisão no meio da viagem. A primeira etapa abarcaria a subida de duas serras catarinenses: as belas e sinuosas Serra do Corvo Branco e Serra do Rio do Rastro. Todos quatro, pedalando. Ou quase. Na segunda metade, o famigerado "monge" seguiria solo por solo gaúcho, peregrinando até seu destino original. Mas o perfil da expedição não era bem esse.
O perfil, barométrico leitor, era esse: _/\/\/\/\/\/\/\_. Um legítimo "dente de serra". E assim foi na altimetria, no clima, no pedal e no banquinho da bicicleta. Duas, quatro, oito ou mais serras relevantes, de alto a baixo. O que motiva cicloturistas a encarar esse tipo de perrengue? O que busca um monge peregrino em um retiro de meditação? Qual o sentido da rotação do pneu vida? Pra entender, dramínico leitor, só acompanhando os altos e baixos do caminho até o fim da viagem.
Capítulos
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1Entrando no Clima 2 dias 217 kmDIAS 1 e 2 joinville, brusque, santa paulina, angelina
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2Serra do Corvo Branco 2 dias 136 kmDIAS 3 e 4 rancho queimado, santa rosa de lima, aiurê, serra do corvo branco
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3Serra do Rio do Rastro 2 dias 113 kmDIAS 5 e 6 são ludgero, guatá, serra do rio do rastro, bom jardim da serra
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4Peregrinação Solo a Viamão 5 dias 350 kmDIAS 7 a 11 silveira, cambará do sul, três coroas, khadro ling, taquara, viamão, cebb caminho do meio
Dia de finalmente botar o pneu na estrada. Não é exagero dizer que uma alegria quase infantil (talvez mais infantil que nossas piadas infames) rege e move esses inícios de viagem. Move mais que a própria bicicleta.
Da estrada, naquilo que nos toca, aproveitávamos o acostamento. Em ritmo planície, o primeiro dia foi sem dúvida o mais suave, apesar de registrar a maior quilometragem. Prova de que distância e dificuldade não são assim, parentes tão próximos. Essa suavidade inicial caiu bem tanto para os mais vividos (como o João), quanto para os novatos (como o João, também). Ganhamos tempo e espaço para acomodar bagagens, acostumar o corpo e aquietar um pouco a mente. Caiu tão bem quanto o cair do dia, quando fomos muito bem recebidos na chácara do Seu Aníbal Heil, primo do Mister (estes sim, claramente próximos). Nem a chance de fazer o jantar tivemos: Mr. Aníbal já nos aguardava com uma galinhada pra-lá-de-caipira num fogão à-toda-lenha. Sob uma bela lua quase-cheia, entramos na noite amena e proseada, repleta de causos e coisas antigas.
No segundo dia, as serras já davam as caras. Bastante caras as subidas, diga-se de passagem. A primeira serrinha nos desceu em terreno santo: Santa Paulina ou, como diria o outro (o João, também), Madre Paulina. A paz do santuário, imerso na natureza, ressoa com a mensagem universal de amor e compaixão deixada (e vivida) por Madre Paulina. O espírito peregrino da viagem se mostrava vivo no caminho.
- Santuário Santa Paulina
- Localizado em Nova Trento (SC), o complexo religioso dedicado a Santa Paulina recebe a visita de mais de 70 mil peregrinos por mês. Madre Paulina (1865-1942), como ainda é chamada por muitos, foi beatificada pela igreja católica em 1991, recebendo o título de santa. Imigrante italiana, dedicou sua vida ao cuidado ao próximo, fé e caridade. No local onde se ergue o santuário em seu nome, fundou em 1890 a Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, instituição que continua seu trabalho, conduzindo inúmeras obras de caridade.
- Na parte alta do parque ecológico se destaca o templo, com a característica escadaria e passarela de acesso para os romeiros. As capelas, a casa das irmãs, o museu e até uma réplica do casebre onde Madre Paulina inicia sua obra fazem parte dos ambientes que contam a história da santa. O complexo conta com vasta infraestrutura, incluindo restaurante, hotel, amplo estacionamento, bondinho, teleférico.
Fontes: Santuário Santa Paulina, Portal de Turismo de Nova Trento.
Depois da (longa) parada contemplativa no santuário, passamos por São João Batista por um motivo óbvio:
- Era caminho
- Fazer trocadilhos com o João Batista, o Cicloturista Otimista
- Todos motivos óbvios acima
Enquanto o humor tomava conta, as estradas tomavam forma. A partir dali, o dia seguiu margeado por rios: rio do braço, rio tijucas, rio do engano, rio garcia. Todos riam do João, também (o João, também). Otimismo à parte, o sol quente nos obrigou uma longa pesque-pausa: 3 horas de acampamento de almoço. A tradição do acampamoço parece que veio pra ficar (o João, também).
- Acampamoço
- Tradição milenar, embora redesnudada em idos cíclicos recentes, o acampamoço (do inglês, foodtruck) é uma extensão espacial da lacuna temporal precisamente delimitada pelo hispânico costume da siesta.
- Popularmente conhecido como "acampamento de almoço", o evento requer calor escaldante próximo ao meio dia e um abrigo isento da incidência direta de raios solares. Além de tempo (uma porção generosa) e cicloturistas em expedição (opcional). Preenchidos os requisitos, basta distribuir espacialmente o material carregado, como roupas secas e molhadas, equipamento de comida e dormida, móveis coloniais, bicicletas, tobatas1 e cicloturistas secos e molhados.
- Em suma: tá quente na hora do almoço? Relaxa e acampa, moço!
1 Só que sem a tobata.
Na tarde curta, as estradas ribeirinhas nos brindavam com pinguelas convidativas que o Thiago ensaiava pedalar. Sim, sim, o João também. Mas foram duas pesadas subidas de serra que nos convidaram a pedalar noite adentro. A lua cheia, radiante, chegou antes de nós ao hotel em Angelina. Eram 22h quando pagávamos o longo descanso do acampamoço, jantando exaustos. Melhor dormir, pois as grandes serras ainda estavam por começar!

peregrinos partindo: mister heil, monje lulis, tio joão e thiago mesmo

leia-se na camiseta do joão "cuidado: cicloturista em treinamento!"

thiago mesmo, disfarçado de dentista

mr. heil, o único oriental da trupe

lulis, o noviço proponente e vice-navegador (navegador reserva, visse?)

reflexão: quando se viaja em grupo, a distância diminui

- você anda tão distante, thi!

- não dê muitas bolas para essas bobagens, mr

thilosofando no "côco da luiza", parada clássica do saudoso padre valdo

paradinha pra siesta no fundo do poço posto

uma pequena rodovia para um grande cicloturista (merecido e justo)

chegando em brusque, parece que já estava tudo acordado

acolhimento carinhoso do mr aníbal - sim, mr: primo do mr heil!

correção: acolhimento caloroso

não, thiago, não estamos falando disso, sossega aí!

joão montanha, mergulhando nas lembranças da colônha

mr primo e mr primo: tão próximos que até se vêem coraçõezinhos no ar

a lua, companheira de viagem, ainda não estava cheia (nem das piadinhas)

o bigodinho de andorinha amanheceu de bom humor!

no funk dessa viagem / cicloviagem direitinha! / olha o look desse bonde / esse é bonde da santinha

um consolo pra quem flor reclamar do bonde dos comentários sem graça

diante do convento, em coro: "senhor, perdoai estes comentários infames!"

oops, tri-errata: esse é bondinho / esse é bondinho / esse é o bondinho da santinha!

bondes à parte, há que subir uma grande escadaria até o imponente santuário de santa paulina

mas tem estradinha de acesso =) uuuuuh, achou mesmo que a gente ia pentalando na escatínia? ca paz

imagem de santa paulina, já desgastada de tanto estender a mão aos romeiros

paradinha pro acampamento de almoço, aquele novo clássico!

almoço uma ova

inception flowers

pera, pera, pera: quem foi mesmo que ganhou o apelido de monge nessa viagem?

ah, tá, tinha esquecido que rasputin era um monge!

o início de um namoro que do qual ainda não sabemos o fim...

- ôÔô, joão, como diria o outro: não me olha assim, hã?!

das serras, a menor. dos mares, nada sabíamos a essa distância

lá vai o rio que acompanha a estrada que acompanha o ciclista. ou vice-versa

o noviço-elétrico joão barone, sempre rindo das piadas que lhe botam sobrenome

hoje é dia de rock dust, bebê!

cockpit do piloto da kate, co-navegador: bonito, falta aprender a usar

do bar, telhas. dos bares, o menor

mr: o iluminado!

cansados no fim do dia? e se eu disser que ainda nem chegamos ao fim?

das árves, a muuuuior. mesmo que pareça um bonsai gigante

joão gamela: não podia ver uma pinguela que montava nela!

joão eleutério também sabe a hora de ser sério

rasputhi, demonstrando russas tendências em prol da corrida espacial

- fiquem brincando que eu vou, tenho mais uma serrinha pra subir ainda hoje

e ainda era hoje e ainda havia serra quando a lua subiu plena, toda cheia

angelina: isso são horas de chegar em casa???
Durante o café da manhã farto, acordamos. O acordo foi de aproveitar bem os cafés, pois nada se sabia sobre os almoços. Às vésperas de conhecer o Corvo Branco, mais um belo par de pernas trio de serras nos esperava. O dia seguiu com leves paradas para apreciar rios caudalosos, refrigerantes puros e locais santos (as fotos confirmam, o João também). Às margens do rio braço do norte, companheiro de estrada, curtimos outro acampamoço - desta vez, com tempo e comida comedidos.
Após a breve passagem por Anitápolis, críamos ter avistado o corvo branco (a serra, no caso), mas perdemos de vista o Thiago. Fomos achá-lo 10km (e uma serra) depois, jogado num bar, bebendo. O Thiago, não o corvo. Bebendo guaraná, é verdade, mas isso não amenizou a fúria preocupação. O instinto (e o estatuto) maternal do odois rege que sempre mantenhamos contato, cuidando uns dos outros. Carinhosamente (ou quase), o Thi foi lembrado (e o João, também).
Entrecortando o pitoresco caminho rio do meio, seguimos por estradinhas já mais agradáveis (e calmos). Ao fim do dia, encaramos uma subida praticamente inimpurrável até a pousada em Santa Rosa de Lima, onde repousamos na até-então-inédita modalidade pouso pizza.
- Pouso Pizza
- Modalidade de pouso em que o total de cicloturistas, normalmente em pedaços, são servidos em dois sabores de acomodação: meia-napousada e meia-nabarraca.
O dia do corvo amanheceu bonito, com promessa de poucos quilômetros. E se primeiro dia da viagem foi longo e suave, milimétrico leitor, já deves mensurar: "com baixas quilometragens vem grandes dificuldades". Precisamente. Muito sobe-e-desce por estradas de terra, com direito a atalhos em estradas abandonadas e tratoradas. Entre o intenso calor e a poeira da estrada em obras, o percurso até o pastel-da-tarde na pequena Aiurê nos consumiu sem dó.
O plano era seguir morro acima, mais 5km até a pousada. Ali poderíamos deixar a carga e, aliviados do peso, subiríamos de ataque a parte difícil da serra do corvo branco. Mas o difícil não estava por vir: ele já nos acompanhava desde cedo. Seguimos, cada vez mais exaustos, num só pensamento: chegar na pousada. O corvo que esperasse outro dia ou outra expedição. Em dado momento, o abençoado navegador anunciou:
- ÔôÔ, rapazes, o ponto no GPS diz que a pousada é bem aqui, hã?!
Olha pra um lado, olha pro outro. Nada. Segue um pouco, nada. Será mais adiante? Ou passamos do ponto? Existe pousada além da vida? No meio do nada (da serra, na verdade), estávamos desolados. A esta altura, acampar na beira da estrada parecia razoável. Sentar no meio dela e chorar, também. Decidimos seguir mais um pouco. A dúvida da existência (da pousada) perdurou por 20km psicológicos até acharmos o verdadeiro local. Na verdade, foram menos de 2km. Mas qual é a verdade nessa hora?
Eram 16h quando, aliviados, jogamos água no rosto e o corpo na terra. Com a energia equilibrada, recobramos o ânimo e decidimos prosseguir com o plano, mesmo no limite do horário e das forças. Todos, menos o Mister, que preferiu ficar e recobrar forças para o restante da viagem.
Contrariando o forte vento e a chuva iminente, subimos o corvo branco. A beleza do local é tocante, impossível não sentir-se pequeno em meio à imensidão das montanhas. Na íngreme transposição da escarpa conhecemos uma estrada incrível, embora abandonada (interditada, também). Ainda assim, a paisagem do entorno compensava todo e qualquer deslize até ali.
Voltamos observando a coluna d'água de um temporal não muito distante. Havíamos realizado muito desde o ponto em que nos dávamos por vencidos, algumas horas atrás. Ainda havia outra grande serra a vencer, ainda havia muito chão por percorrer. Na pousada, Mister nos aguardava para um farto jantar e outro pouso pizza. Brincadeiras amareladas à parte, celebramos e repousamos todos juntos, felizes como quem sabe que não há nada para realizar.
- Serra do Corvo Branco
- Ao sul de Santa Catarina, delimitando fronteiras entre os municípios de Urubici e Grão Pará, encontra-se a bela Serra do Corvo Branco. Seu nome, corvo branco, vem da denominação popular dada a uma bela ave encontrada na região, de branca plumagem e detalhes coloridos: o Urubu-rei. A serra é parte da ampla Serra Geral, já explorada por aqui.
- Cortando a serra com um traçado ousado e de sucessivas curvas acentuadas, a SC-439 é uma das ligações pioneiras entre o litoral e o planalto catarinense. No alto da serra encontra-se o maior corte rodoviário trincheiro do país, com 90m de altura. Nas laterais do corte se distinguem o úmido paredão norte e o seco paredão sul, resultado da interrupção do fluxo de água do Aquífero Guarani no trecho escavado.
Fontes: Prefeitura de Urubici, sinalização rodoviária e turística local.
Atenção! Se pretende conhecer a Serra do Corvo Branco, rodoviário leitor, verifique antecipadamente as condições da SC-439. Quando desta expedição, havia trechos em obras e/ou interditados para passagem de veículos.

comece bem o seu dia com sucrilhos serrinhas!

quando o lugar perfeito pra um acampamoço erra o horário, a gente sorri e segue

tentativa do mr em reproduzir o famoso même das travoltas do travolta

8! 8! 8 molhadinho!

mais uma serra como essa e a gente quebra o pau com o roteirista

não adianta reclamar, melhor agraceder: de acidentado, só o terreno

a passagem por rancho queimado tinha um objetivo claro...

...revelar a pureza do nosso roteirista e navegador!

pura sacanagem, porque os planos eram todos inclinados

ao menos, as vezes era pra baixo - apreguê-lhe fogo na banguela!

pois é, aqui tá todo mundo com cara de travolta confuso

pronto, agora achamos lugar pra se escorar no acampamoço! o joão também

na localidade de rio dos pinheiros, a bela capela de são pedro e são paulo

como é que o cicloturista faz na subida íngreme? atravessa a rua


na gruta de são benedito, secava-se joão cardoso, o ciclista hiperidroso (o mr, também)

repousa joão ramone, o ciclista que não aguenta mais trocadilhos com sobrenome

o recanto era perfeito pra um acampamoço, só que no horário errado, outra vez

são benedito, o próprio

a passagem por anitápolis foi rápida, ninguém queria chegar de noite

sim, o caminho era pela pior subida da foto anterior, sem dúvida

falando em subida, foi nessa hora que o menino thiago subiu e sumiu

ôÔô, meninos, tem previsão de serra mais à frente, hã?

silvio santos corvo branco vem aí, olê, olê, olá!

pra quem duvidava das descidas, olha que bonito

fundo na busca pelo thiago desaparecido

thiago achado, o roteirista concede estradinhas cativantes ao entardecer

não sem boas subidas de pedra solta (êÊêu prefiro socada, hã?!)

capela de santa catarina, em santa rosa de lima, santa catarina (e o joão, também)

rosa na capela de santa catarina, em santa rosa de lima, santa catarina

o interior da capela. ao alto: "santa catarina, rogae por..."

"...nós!"

rosa em flor em santa rosa de... ah, você já entendeu!

pinguelas são coisa do passado, né, joão?

finalmente, paragens mais planas

só que não

isso é cara de subida com 20% de inclinação, mr?

isso mesmo: praticamente inimpurrável!

a lua, já um pouquiiinho menos que cheia - pode comparar com a foto 47!

e amanhece bonito! bom dia, sol!

olha o pessoal desbarracado! bom dia heil! joão maria, também, bom dia!

tênis é uma coisa que se amarra em galinheiro

leda e o valnério, da pousada doce encanto. e o joão, também

fiajá de piciclêta? má, eu mandava í carpi um lote, hôme!

trincheira de boi! é algum tipo de vacoduto isso?

bah! que coisa linda! onde tu comprou essa toalha, joão batalha?

como é mesmo que chama o nome disso?

- chama serra

desconfio que essa serra do corvo branco é uma dessas quebradas aí!

brilhando lááátrás do milho, a antena do cindacta, no morro da igreja (na foto 97, também)

- meninos, tenho uma coisa pra confessar

(joão eleutério, o ciclista que achou que o assunto era sério)

- certeza que é sacanagem, só pode

- não, não me venha com mimimi, mimimister!

mr: então, tem uma decidinha aí, mas depois nós vamos levar fumo!!!

falando em levar fumo... alguém viu a tobatinha levada na foto anterior?

joão barranco, o ciclista que aponta a bicicleta na direção do corvo branco

pelo perfil da montanha adiante, joão roberto estava certo! (mais que a estrada)

em aiurê, a estátua de aiurê, pormaisque aiurê, mesmo, fosse a irmã do aiurê

a SC-370, a própria do corvo branco, tremia em obras (e nós, também)

nem a vista consolava o fato deseperador: não achávamos a pousada marcada no gps!

enfim, a pousada! a pousada existe!

e os sem noção corajosos, contra cansaço garoa e vento, insistiram no corvo

panorama da grande muralha: a serra do corvo branco

um panorama mais amplo, com o joão (e o joão, também)

a estrada é cada vez menos amistosa

mas segue de promissora beleza

diz-se que quem sobe até aqui ganha um prêmio

panorama da subida, olhando pra trás: quem prometia era a chuva

o ato de pedalar chaveava entre "improvável" e "impossível"

realmente, não estava lá em perfeitas condições de trânsito

e pensar que aquela torre da foto 118 era só máscara

o final é essa loucura: daqui se vê seis lances de escadas estradas

panorama da parte passada do corvinho, tranquila até

ponto alto da estrada: cada um com sua bike na mão, pra não sair voando

na volta dá pra ter noção do tamanho do rasgo que a estrada exigiu

descer é fácil (embora os freios discordem), difícil é entender a estrada

- ninguém me entende! (BRANCO, serra do corvo)
Depois da puxada subida do corvo (ou quase), a manhã foi de merecidos declives. O dia previa uma voltinha em direção à planície, retornando à base das serras para, no dia seguinte, galgar a aguardada subida final. O almoço em São Ludgero contou com uma inesperada entrevista para jornal e rádio locais. Na matéria, algumas peculiaridades e deslizes deram o ar da graça (e do João, também), e o famigerado deboche virou expressão obrigatória dali pra frente:
- Ô Mister, famigerado "Mister Heil"!
- Diga lá, ôÔô, seu monje, popular "Lulis"!
- Sabe onde anda o novato João, popular "Bikeloti"?
- Ôô, como diria o outro, tá lá adiante o famigerado "bike-a-lot"!
Finda a pausa gastro-jornalística, retomamos a rotina de serrinhas. A famigerada questão retórica "quem foi que fez esse roteiro?" era acatada com bom humor pelo paciente Mister, que costurava: "eu fiz sob encomenda de um certo monje, hã!". Nas introspectivas subidas, o dilema ganhou versos:
- Trova Altimétrica
- Mr. Heil,
meu bom velhote,
Planejador de tréck e róte,
Mais uma serra pela qual tu opte,
Mais uma fria em que tu nos bote,
Nós, um Marquardt e dois Michelotte,
De merda, cheio, te regalamos um pote,
E te mandamos carpir um lote!
Uma serrinha de meia-tarde depois, paramos para conhecer o Museu ao Ar Livre, popular "Museu" da pequena Orleans. O espaço conserva viva a memória dos imigrantes que colonizaram a região. Envolvidos (à contragosto) por uma intermitente chuva fina e pelo trânsito intenso da rodovia, chegamos à pousada em Guatá na iminência da noite.
A chuva ainda caia quando amanheceu, mas não caia em bom dia: era dia da aguardada subida da Serra do Rio do Rastro. Para nossa sorte, a chuva logo cedeu e o clima seguiu ameno, quase frio. Na verdade, o clima oscilava: entre alegre e saudoso, curtíamos o último dia da viagem em equipe.
A estrada da serra é quase uma passarela: curvas cuidadosamente esculpidas nas encostas, pavimento bem conservado e aclividade bem comportada. Não que o desnível seja leve ou breve, mas é perfeitamente pedalável. Subimos toda serra carregados e montados, ao contrário do corvo branco. Em bicicleta, o ritmo característico normalmente nos permite uma visão mais atenta aos detalhes. Nessa manhã inteira (e intensa) de subida, pudemos apreciar a beleza natural da serra com percepção caramújica. No trajeto da popular "estrada em caracol", fomos nós os famigerados caracóis.
- Serra do Rio do Rastro
- Estabelecendo a divisa entre os municípios de Lauro Müller e Bom Jardim da Serra, encontramos a bela Serra do Rio do Rastro. Assim como o Corvo Branco e Aparados da Serra, a formação faz parte da vasta Serra Geral que separa o planalto sulista da planície litorânea.
- Cortando sinuosamente a Serra do Rio do Rastro, a rodovia SC-390 é considerada uma das mais belas e desafiadoras estradas do Brasil. Além de importante ramal de ligação rodoviária, a estrada é um dos principais atrativos turísticos de Santa Catarina. Seu trecho de serra, queridinho dos clubes de motociclismo, se estende por 6,6 km. Além de vários pontos de visada e quedas d'água no caminho, há um mirante estratégico no ponto mais alto da estrada, a 1.460m de altitude. O local conta com estacionamento, lanchonete e sanitários - além, claro, de uma vista espetacular da serra.
Fontes: Prefeitura de Lauro Müller, Wikipedia, sinalização rodoviária local.
No alto da serra, uma pausa no mirante para contemplar o que passou. O registro ficou na memória (principalmente para o mister, que teve sua câmera "sumida" por ali). Celebramos com um farto almoço no centro de Bom Jardim da Serra, em clima de comemoração e despedida. Pouco adiante, nos achegamos na fazenda do popular Wilson, companheiro de outrora. Lá desmontamos boa parte (75%) do circo(turismo) da viagem. O Thiago voltaria de ônibus ainda no meio da tarde. O João, também. O famigerado Mr. Heil aproveitaria a companhia dos amigos serranos, estendendo a estadia até o dia seguinte. O Lulis, também, embora ainda estivesse no meio da sua viagem peregrina. Mas isso é história para o próximo capítulo.

que dizer do amanhecer? prometia

parado, o thiago é um grande cicloturista (o joão, também)

vamos aonde flores

pensar que ainda ontem julgávamos a pousada mal localizada...

joão vicente, o ciclista que sabe de nada, inocente!

hora de deixar a pousada rio do túnel (e toda farta comida) pra trás

falando em "pra trás", tivemos que pegar o contorno da grande aiurê

de volta à foto 106 - mas logo ali, naquela névoa, já tem trecho inédito

em ilha grande, o gassner nilton nos salvou com uma abençoada dose de água gelada

caiu bem um asfaltinho margeando o rio pequeno até braço do norte

hora do show com jota custódio, da rádio vale verde, e luiz antônio e thaíse vieira, do jornal braço do norte

- pode ser aquela "hora do soninho"?

o "famigerado mister" e suas sugestões inusitadas contra flatulência indesejada

joão joão, o ciclista que dizia "no meu não, no meu não!"

valeu, são ludgero! por todo almoço / entrevista / soninho / risadas!

na pequena orleans, uma parada para conhecer o museu ao ar livre princesa isabel

visitando as réplicas das casas coloniais, nos acompanhava um cão guia fiel

no interior da humilde capela, simplicidade, silêncio e santidade

a paciência do nosso guia, aguardando o rendez-vous dos turistas

como já sabiam os colonizadores e imigrantes, há que se saudar a mandioca

realmente engenhosa a engrenagem

o fim da rosca, mesmo, foi quando a chuva começou lá fora

cerca dali

to sentindo falta de um pouco de movimento

não por isso: partiu subir o rio do rastro?

ocupávamos o tempo no museu-oficina enquanto a chuva não desistia

deu tempo até de tirar foto... du, faltou você nessa viagem!

meia-chuva, meia-calabresa, ainda tinha chão até guatá

quase no fim do dia ou no começo do temporal? rolou medinho do escuro

começa o dia de subir o rio do rastro, mas com um panorama matinal em clima duvidoso

duvidoso mesmo é esse gps à prova dágua, mr

primeiro a gente ensaia as curvas no quase-plano. se a névoa deixar

pelo panorama do corte lá no fundo, vai ser um tremendo zig-zag

cada um sobe como pode

viu a estrada cortando a montanha no fundo da foto 159? olha, mãe, estamos aqui!

meio que parece que o clima tá esquentando, não?

- tem certeza de que tá vendo bem?

olha, uma curva fechada! (rrrrepita essa oração umas 30 vezes)

tá bonito, todo mundo montadinho, cada vez mais alto!

pausinha para o descanso dos cinco. cinco? ah, sim: prazer, dênis da itajubike

bora seguir essa subida em ritmo alucinante!

- aaaah, eu nessas curvas, sua subida danadinha!

finalmente, hora da neblina permitir entender o traçado do caminho passado

ou não, mas hein?

segue, pessoal, sempre pra cima

a serra do rio do rastro vista do alto do mirante mais alto: um panorama

uma última foto, por favor, dona serra! pra posteridade

joão do thi, o famigerado ciclista quati

uma última foto da trupe (e da máquina fotográfica do mr, também)

em terra de serra, quem tem um plano acha que é descida!

mister, tem certeza de que a estrada é por aqui?

opa, isso aqui a gente já tinha visto no museu ontem! mandioca?

thi, não é bem essa a máscara do batman, tá mais pra mulher-gato barbada

fim da viagem da turma, recebidos por nossos anfitriões anastácio e wilson (lembra?)
Sob densa névoa, amanhece o sétimo dia. Na bruma, a viagem se redefine: os fiéis escudeiros retornam a seus refúgios, enquanto "monge Lulis" segue solitário seu caminho peregrino. Paisagens medievais à parte, os dias seguintes caminhariam pedalariam na direção do intento original da viagem: alcançar o centro budista em Viamão para o retiro de verão.
- Remendo constitucional
- Reza o estatuto do odois que "são publicáveis apenas as aventuras integradas por dois ou mais componentes do grupo". A presente viagem claramente não é solo, mas é. Mas não é. Assim, dada a nebulosidade deste aspecto furado da expedição, a existência deste capítulo é uma concessão generosa do conselhoo. Ou não.
A primeira lição da viagem solo custou caro ao monge: 12km desviados indevidamente. Perdido pelo caminho de "Capão Rico", Lulis fazia jus à meritória posição de vice-navegador. Como diria o Mister, não se deixa uma criança sozinha nem por uma manhã. Depois de mais de duas horas nos rastros do google maps (#neverforget, Sr. Google), a viagem enfim retomou o rumo do caminho do meio. No atraso e na chuva, o sucesso dos hits motivacionais "Ritmo de Várzea 14h30" e "Parada Silveira 19h" demonstraram como a alegria realmente mora nas pequenas vilas coisas.
As localidades de Várzea e Silveira você encontra no mapa da expedição. No google, talvez. Lembrando que na aventura de hoje aprendemos a não confiar cegamente nos caminhos que o google indica, amiguinhos.
Em São José dos Ausentes, esteve apenas o Lulis (inevitável trocaudilho). Como companhia, apenas sua inseparável bicicleta - a popular Kate. As provisões cedidas pelo amigo Wilson e pelos companheiros de viagem forraram tanto o estômago quanto o alforje direito. Nos dias seguintes, sol quente e chuva forte se revezaram pelos belos caminhos da região serrana do Rio Grande do Sul - alguns inéditos, outros velhos conhecidos.
Uma cicloviagem assim pode carregar muita bagagem semelhança com a experiência meditativa. Longe das atividades e obrigações a que costumamos atender responsivamente, somos convidados a praticar a presença a todo momento. A sós com nossa própria mente, aprendemos a observar o ruído constante dos pensamentos que habitualmente nos tomam. Ao transitar sem urgências por amplos espaços e belas paisagens naturais, a sabedoria sutil das coisas simples torna-se mais visível. E com a mesma liberdade que navegamos por estes espaços, podemos contemplar o espaço que se abre em nossa própria mente. E nessa liberdade os insights podem surgir até mesmo sob o atento olhar de uma desconfiada vaca:
Quando viajamos de bike, estamos fora da cerca. Não é um passo melhor ou mais nobre, é apenas diferente. E é justo esse contraste que nos desperta atenção, nos facilita o presente. Como num retiro.
Mas, mesmo em um retiro, as vacas seguem comendo e as cuecas continuam não se lavando sozinhas. Tudo no mundo continua operando - salvo, claro, quando algo deixa de operar. Como o trocador da Kate, popular "macaquinho", que nas quebradas da última (e bela!) descida de serra, jogou-se dramaticamente nos raios da roda da vida bike, como quem diz:
- Vai lá, zé incensinho, medita agora!
O incidente aconteceu em Rodeio Bonito, a uns 100km do fim da viagem. Naquele momento, assim como a chuva, este fim parecia se precipitar. Passadas duas horas de cirurgia, um delicado enjambre precário procedimento mecânico permitiu a continuidade da viagem. Das nove marchas traseiras, nosso macaquinho heroico finalmente estava apto a excursionar por três coroas.
Depois de somente 2km de pedal exitante, Kate se recuperava estacionada nas terras do Khadro Ling - segundo a vizinhança, o popular "lá nos budas". No meio da serra gaúcha, o complexo é um refúgio vivo das tradições do budismo tibetano. Exóticas aos olhos ocidentais, as imagens e construções impressionam pelo porte, cores vibrantes e riqueza de detalhes. Formas e sensações à parte, tudo ali parece permeado por um aspecto sutil inexprimível, algo que só a presença parece capaz de explicar.
- Templo Budista Khadro Ling
- Situado no município de Três Coroas, em meio à serra gaúcha, o Khadro Ling é um centro de estudo e prática do budismo tibetano. Fundado em 1995 pelo mestre tibetano Chagdud Tulku Rinpoche, o complexo abriga templos e monumentos que retratam a expressão artística da cultura tibetana.
- No espaço são organizados eventos como retiros e cerimônias budistas, frequentemente conduzidos por lamas e mestres do Budismo Vajraiana. Práticas de meditação abertas ao público também são ofertadas. Para mais informações sobre o Khadro Ling, consulte o vídeo explicativo.
- A arte tradicional e a beleza natural do entorno fizeram do local um atrativo turístico da região, embora não tenha sido construído com esse intento. A estrutura é aberta a visitação pública em dias e horários específicos (verifique a agenda com antecedência). Não há hospedagem ou refeitório abertos ao público.
Fontes: Chagdud Gompa Brasil, Khadro Ling.
O solo é gaúcho, é búdico, mas ainda havia caminho a percorrer. A viagem seguiu mais um dia em baixa rotação, regado a inspeções frequentes no famigerado macaquinho manco. Nada mais coerente do que peregrinar na base da fé. As rodovias gaúchas se mostravam pouco amistosas para cicloturistas, com seus famigerados meio-(quase-nenhum)-acostamentos. Mas, assim como na época do tropeirismo, todos os caminhos levam a Viamão. Passados onze dias no banquinho, nosso peregrino finalmente apeava no destino de seu retiro de verão, a sede do CEBB - popular, ora vejam, Caminho do Meio.
- CEBB - Centro de Estudos Budistas Bodisatva
- O Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) foi criado em 1986, em Porto Alegre, pelo então professor universitário e praticante de Zen Budismo, Alfredo Aveline. Uma década depois, Aveline foi ordenado lama da linhagem Nyingma de budismo tibetano, passando a atender pelo nome Lama Padma Samten.
- Em 1997 a sede do CEBB foi transferida para Viamão (RS), onde funciona até hoje o CEBB Caminho do Meio. O CEBB tem participado da organização e recepção de grandes mestres budistas no Brasil, como o XIV Dalai Lama, Chagdud Tulku Rinpoche, Moriyama Roshi, Sakya Trizin e Lama Allan Wallace. Atualmente o CEBB oferece práticas de meditação, cursos e estudos regulares em mais de trinta sedes por todo país, além dos inúmeros grupos de estudo independentes. Alguns são centros rurais, aldeias que abrigam o sonho da terra pura com visões orgânicas de educação, arquitetura, sustentabilidade, alimentação, saúde, relacionamento e convívio. Retiros de 10 dias, como os retiros de Verão e de Inverno, são tradicionalmente conduzidos pelo Lama Samten no CEBB Caminho do Meio, em Viamão.
Fontes: CEBB.
Chegar ao Caminho do Meio não foi o fim da peregrinação: foi o reconhecimento do meio do caminho. Sobre estes trinta dias de retiro (auto-surgidos dos dez inicialmente planejados), nada mais justo que deixar o próprio "monge" (que, de monge, nada tem) comentar:
Quem toma "retiro" por "descanso" se ilude. Foram dias de intensa atividade, tanto interior quanto exterior. O acolhimento carinhoso da comunidade (a popular sanga); o convívio intenso entre práticas, sorrisos, conflitos e aprendizados; a proximidade inspiradora (e por vezes inesperada) dos ensinamentos e mestres de diferentes tradições, como Lama Samten, Monja Coen, Lama Alan Wallace e Monja Isshin: todos presentes incomensuráveis nestes abençoados dias de retiro.
Em retiro, quanto mais se seguem os dias, mais se entende que não há fim. Assim, tampouco há retiro e, talvez, nem mesmo caminho. Da mesma forma que cada pôr-de-sol somente delineia o pretenso fim de algo que não cessa. Não cessa nem em sua essência primordial, nem no espaço da mente de quem contempla. Assim, segue a busca dos cicloturistas, dos peregrinos, dos retirantes, dos meditantes. Muito mais que isso, assim segue o caminhar da preciosa existência de cada um. Uma viagem sem fim (assim como este último parágrafo, filosófico leitor).
Hein? A volta? Ah, a volta não importa. Melhor respirar fundo, relaxar e seguir em frente ;)

viagem solo, estrada vazia e neblina - releitura pictográfica do famigerado hit "garoa e solidão"

e agora, por onde? ainda bem que sobrou um quase-experiente navegador com GPS

- mas o google tinha me garantido que era por aqui!

teria o pau nascido vergado (e nunca se endireitaria), ou o fogo o vergara?

e agora, dom quixote, por onde?

reencontrando o rumo, um lembrete: não confie no caminho que se diz rico

não desanime, caro navegador: todas as quedas tem seu lado bom!

não adiantou cruzar o limite: em terras gaúchas, a chuva também caia

dona jucemara, da pousada e restaurante de tropeiro (mas atende ciclistas, também)

ah, o sol! obrigado pela companhia

a lua dos primeiros dias, já menos cheia, também foi companheira

ah, os pampas gaúchos! (embora a região do pampa ainda estivesse longe às pampas)

- quando viajamos de bike, estamos fora da cerca

dejavú de estrada! tá faltando um pontinho vermelho, ôôô, tá não?

adivinha? hora do acampamoço, com direito a refresca-pés!!!

parece que definir o almoço também era assunto entre a libélula e a aranha mascarada

acampamoço que se preze tem que ter varal cheio

quando não há nada no caminho, o caminho é tudo

na verdade, tudo é caminho. daí como faz pra achar a bica dágua?

pense aí com seus botões, enquanto ao sol secam as botinhas

- procure a umidade na estrada, disse o soturno pato mascarado

(a solidão do camping faz parecer natural falar com os outros animais)

- animais que falam, essa é boa!

mais um dia, peregrino, por estradas novas e vazias

só, pero no mucho: kate viu, kate vê

o tempo estava tão feio que tinha até nuvem fugindo do temporal

lulis achou ofensivo. a carga é dele, ele carrega como bem entender

caiu a chuva, foge pro mato!

o melhor abrigo é aquele disponível na hora da necessidade

seu mário, ciclista experiente, ensinou como ir de são francisco de paula até "os budas"

RS-020, é por aqui mesmo que vamos descer a serra mais uma vez

apesar de apertada, é bonitinha a danada da estrada, tchê!

pelas estradinhas de rodeio bonito, a busca era por abrigo perto "dos budas"

e os quintais da região faziam crer que era o caminho correto

e as bandeirolas de oração, acenando por todos os cantos, também

abrigo da manhã chuvosa na pousada, quase cheia com a alegre família da beatriz

com chuva leve, despedida da pousada refúgio do pomar com lia e renato

5 minutos de chuva, terra e subida são um estouro! fratura no braço do pobre macaquinho

apenas sorria e acene, rapaz! sorria e acene! (foto por beatriz xavier)

2h de cirurgia, a kate já tinha condições de rodar. condições, não confiança

no caminho do khadro ling, o famigerado simbolismo tibetano ganha força

junto com a delicada natureza do local

na secretaria do centro budista, onami e gustavo recebem os visitantes (mesmo os molhados e sujos)

as estupas, estruturas que abrigam textos sagrados do budismo

detalhes repletos de significado ornamentam as estupas. aqui, pétalas de lótus e a roda da vida

estátua de guru rimpoche, o mestre que levou o budismo da índia ao tibet no séc VIII

buda akshobia, estátua esculpida por chagdud rimpoche, fundador deste e outros centros chagdud gompa

ao fundo, o templo, construído segundo os moldes da arquitetura sagrada tibetana

detalhe do ornamento no telhado do templo

estátua de tara, representação do aspecto feminino de buda

outra imagem de tara no jardim das 21 taras, atrás do templo

detalhe de uma das rodas de oração do templo

em meio à nevoa, se entrevê o templo da terra pura de guru rimpoche

neste espaço sagrado estão abrigadas as cinzas do fundador do centro, chagdud tulku rimpoche

guru rimpoche, em meio a imagens, símbolos e cores características do budismo tibetano

segundo a tradição, as imagens são constantes lembretes das qualidades a cultivar

abrindo cedo o último dia de viagem, um trecho menos tibetano e mais gaudério

o sol parecia pelear pra dar as caras

ainda era dia de comer e conversar com os habitantes das margens da estrada

pedra gris assim, recortadinha, aviva as memórias de outros templos e peregrinações

parada pra beliscar as últimas castanhas, sob o olhar tranquilo do famigerado itacolomi

o morro itacolomi, patrimônio cultural gaúcho, uma espécie de anhangava de lá

paradas sistemáticas eram feitas para conferir se tudo seguia bem com o pobre macaquinho

lulis, gilberto e paulo: todos partilham o mesmo caminho, cada um no seu caminhão

800km esperando pra fazer a piada do "finalmente, vi a mão!"

chegar no CEBB caminho do meio não é o fim da peregrinação, ainda é o caminho

ao lado do templo do centro de estudos budistas, em viamão, lulis e kate sorriem (foto por isis jaeger)

nada melhor que a metáfora do pôr-do-sol para ilustrar o fim de uma viagem que não acaba

por todos os lados do centro budista, bandeirolas ao vento estendem bençãos a todos

tigelas de água cuidadosamente oferecidas no altar do templo

uma das imagens de buda recém chegada ao templo de viamão

encontro de sangas nas terras do via zen, também em viamão, com monja coen e lama padma samtem

nosso peregrino com lama samten, nas bençãos do retiro de verão (foto por audrey ruggiero pilli)

e, ainda retirante no cebb viamão, recebendo as bençãos do lama alan wallace

entre apelidos, o "monge lulis" acabou como "rapaz do rec/play" (arte por daniel gisé)

um mês de retiro, impossível não adotar irmãos de sanga como os famigerados voluntários "dez-necessários" (ou quase)

último dia da prorrogação, já em porto alegre, com monja isshin, na sanga soto zen budista águas da compaixão

zé benetti e moema, guias companheiros na passagem panificada em porto alegre, véspera do retorno (sim, de ônibus)
Serviços #
Pesque-Pague Trainotti (48)3265-7187. facebook. Colônia de Dentro, São João Batista - SC.
Hotel Sens. Mariana. (48)3274-1105 / 8444-5473, link. Rua Leoberto Leal, 149 - Angelina - SC.
Pousada Doce Encanto. Leda, Valnério. (48)9909-4138 / 9637-7842, link, facebook, pousadadoceencanto@gmail.com. Rio dos Índios, Santa Rosa de Lima - SC.
Pousada Rio Túnel. Mara. (48)9600-6798 / 3652-0075, facebook. Aiurê, Grão Pará - SC.
Museu ao Ar Livre Princesa Isabel. (48)3466-0011 / 3466-5611, museuaoarlivre@unibave.net. link, facebook. Rua Pe. João Leonir Dall'Alba, 441 - Orleans - SC.
Pousada Coan. Tom. (48)3464-7204, pousadacoan@hotmail.com. Rua Chapecó, Rodovia SC-390, 31. Guatá, Lauro Müller - SC.
Restaurante Califórnia Grill. (49)3232-0234 / 9181-4565. Rua Venâncio Borges de Carvalho, 581 - Bom Jardim da Serra - SC.
Pousada e Restaurante de Tropeiro. Jucemara. (54)3883-1030. Rua Moisés Salib, 811, Vila Silveira - São José dos Ausentes - RS.
Pousada e Camping Pindorama. (54)3251-1225, link. R. João Francisco Ritter, s/n - Cambará do Sul - RS.
Refúgio do Pomar Hostel. Renato. (51)9975-6463 / 9880-6282, link, refugiodopomarhostel@gmail.com. Est. do Laticínio, 1330, Rodeio Bonito - Três Coroas - RS.
Templo Khadro Ling. (51)3546-8201 / 9694-7299, link. Estrada Linha Águas Brancas, 1211 - Três Coroas - RS.
Hotel do Vale. (51)3541-1484 / 9734-1517. Av. Sebastião Amoretti, 3247 - Taquara - RS.
Centro de Estudos Budistas Bodisatva - CEBB Caminho do Meio. (51)3485-5159, viamao@cebb.org.br, link. Estrada Caminho do Meio, 2600 - Viamão - RS.
Expediente #
Textualização e imaginário por Lulis, roteiro por Heil e Lulis.
Pedalado por lulis, thiago, heil, joão.
Publicado em 15 dez 2017.