Paso Vergara
Sonho é uma coisa fácil: só precisa de alguém disposto a sonhar. A parte difícil é fazer dele realidade. Aqui, no odois, estas duas facetas costumam ser alvo do nosso incansável sonhador, Mr. Heil. E justo por culpa e mérito do nosso paladino abigodado que embarcamos numa fria bela cruzada onírica: atravessar a cordilheira dos Andes pedalando!
Capitaneados pelo Mister, embarcamos num sonho isolado e montanhoso entre a Argentina e o Chile. Entre hermanos e araucanos, entre Andes e pedales, dedicamos sete dias a cruzar o inóspito Paso Vergara - "El Planchón".
- Paso Vergara (El Planchón)
- Paso é um termo usual para as passagens entre grandes montanhas e cadeias como os Andes. O Paso Vergara cruza a fronteira entre a Argentina e o Chile, a cerca de 400km ao Sul de Mendoza (AR) e 200km de Santiago (CL).
- O extremo argentino fica na localidade de Las Loicas (Departamento de Malargüe, Provincia de Mendoza), de onde se pode seguir também para o Paso Pehuenche. O chileno fica no pueblo de Los Queñes, na comuna de Romeral (Provincia de Curicó, Región de Maule). No trajeto de 160km entre estes pontos não há qualquer vila ou comércio, apenas alguns moradores sazonais.
- Na parte mais alta, entre as aduanas, o Paso fica fechado de maio a outubro, dadas as severas condições com o acúmulo de neve no caminho. O clima é seco e o trajeto todo de pedra (rípio).
- O topo do Paso fica aos pés do complexo vulcânico Planchón (4034m) - Peteroa (4095m), gigantes que podem ser vistos por dezenas de quilômetros. No ápice do traçado há um largo pântano, de onde começam a correr dois rios, um para cada nação: Rio Los Ciegos na Argentina, Rio de Vergara no Chile.
- Nos dois lados da cordilheira há paisagens incríveis e inóspitas. Stephen Fabes (Cyclingthe6), cicloturista de carreira, não nos deixa mentir ao ter citado o Vergara como o seu favorito.
- Mais informações sobre as condições de passagem podem ser obtidas com a Gendarmeria Nacional (Argentina) ou com o Servicio Nacional de Aduanas (Chile).
É... sete dias, concentrado leitor, sete. Vamos lá, foquemos apenas na parte boa. Desde subir na bicicleta e conhecer lugares incríveis, até descer dela e dar-se por satisfeito. Não vamos nos ater aos trâmites e traumas aero-rodoviários, minimização de bagagem, farol quebrado, roda torta, embala-desembala bike, cartão não-tão-internacional, arranca-rabo com motorista de ônibus... Não vamos sequer mencionar, amnésico leitor, pois da parte boa já há muito que contar. Sete dias, sete tá de bom tamanho.
Tá certo que assim você vai perder cenas fortes boas, como aquela do Mister comprando suprimentos de viagem no Vea de Mendoza, com 10% de desconto-pra-melhor-idade. Mas não perca o sono por esses trocados, peixeurbânico leitor, os passos importantes da realização desse sonho estão todos aqui, nus e (alguns) crus.
Paisagens incríveis, montanhas emblemáticas, acampamentos aleatórios, ventos uivantes, empurramentos épicos, solzão escaldante, sombras refrescantes... Bem, sombra não vai ter, não. Nem em sonho. Mas, de resto, a parte boa é pura realidade!
Capítulos
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1La ruta 40 1 dia 88 kmDIA 1 argentina, malargüe, bardas blancas
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2Início do Paso Vergara 1 dia 41 kmDIA 2 las loicas, invernada del viejo, mallines colgados
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3Las Tapaderas e Valle Noble 1 dia 41 kmDIA 3 mallines colgados, las tapaderas, rio montañes, risco negro, valle noble
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4O! Paso Vergara 1 dia 41 kmDIA 4 valle noble, termas del azufre, gendarmeria nacional, chile
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5La Cuesta Vergara 1 dia 53 kmDIA 5 cuesta vergara, aduana chilena, las jaulas, los queñes
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6La autopista del Maipo y Rancagua 1 dia 124 kmDIA 6 los queñes, autopista del maipo, san fernando, pelequén, rancagua
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7Santiago de Chile 1 dia 90 kmDIA 7 rancagua, santiago
A melhor forma de realizar um sonho é dar um passo de cada vez. E o primeiro passo da nossa viagem começa em Malargüe, território argentino, num famigerado dia-de-tudo-novo. Dia de adaptação, de entender os costumes do povo, do sol e do vento nessa latitude. Mas, principalmente, dia de subir numa bicicleta e pedalar, coisa que tava demorando a gente adora.
O primeiro dia de viagem já era o último de civilização. Malargamos da pequena cidade rumo ao sul, esperando saborear um dia leve, asfaltado, com apenas uma serrinha no meio. Nada demais para nosso paladar, sommeliers de pirambeiras no Brasil. Subimos a "cuesta del chihuido" tranquilos e logo degustávamos uma infindável descida compensadora.
Tudo indicava um dia tranquilo. Até acabar a descida e, com ela, o asfalto. Num trecho em obras nos deparamos com os primeiros indícios de areiaplanagem, um velho conhecido sistema anti-deslocamento. Nada como um pouco de patinação na areia pra refrescar. Logo aportamos em Bardas Blancas, a penúltima nota de civilização.
Enquanto uns descansam, outros trabalham. Nós com as bardas de molho e a mosquitarada mandando ver. O sol também não dava trégua: pro almoço, seis batatas da perna assadas. Um colega francês, o “dedo”, completou a mesa parada.
O editor achou incoerente interromper uma viagem internacional pra falar sobre o dedo, um francês meio peruano que estava há um ano na estrada e ainda pretendia seguir por mais 4 anos, viajando de carona dando com o “dedo” no acostamento. Por isso não iremos falar sobre ele.
Pela estrada, agora novamente asfaltada, iniciamos a lenta subida pelo Rio Grande. Calma, gaudério leitor, continuávamos em terras argentinas. Esse é apenas o rio que vai nos acompanhar por boa margem do Paso. Nessa mesma hora fomos apresentados a outro fiel companheiro: o vento contra. Contra não, carente. Um vento fresco, que insistia em se exibir e chamar nossa atenção.
Pegados ao vento, avançamos pouco e começamos o jogo do acampa-ou-não-acampa-logo. Tentamos a velha tática de parar numa venda pra cogitar um cercadinho pra acampar. Sem sucesso. Apelamos para o clássico acampamento ao lado da polícia, que lá atende por Gendarmeria Nacional. Sujeitos à autorização do chefe do posto, que só chegaria mais tarde, fizemos uma parada estratégica no Rio Potimalal. Ali testamos o fogareiro e o chuveiro portátil, ali tomamos o primeiro banho andino. Longas pausas revitalizadoras se mostravam boas companheiras, também.
Já era tarde e, como seu lobo não vinha, pegamos a ruta novamente. Logo encontramos outra obra na estrada, alguns operários encerrando o turno. Conversa aqui e ali, ninguém se responsabiliza mas alguns sugerem: adiante tem uma casa quase abandonada. Já sem opção, decidimos que seria lá mesmo. Apesar do receio de que alguém chegasse, passamos o primeiro pouso bem abrigados. O vento dormiu ali, também. Mas passou a noite toda se mexendo.

arrá! mas, não foram pedalando?! pegas no pulo, quase voando pra santiago

vossa majestade, o heil! animação na espera dos súditos, rodoviariando em mendoza

especulando: como seria pedalar do 2º andar? busando pra malargüe (malar-gú-ê)

enfim, partida! agora sim, chega de propulsão não-animal: melargueee!

nós vamos pra cá, pessoal. só contornar o pequenino cerro ali à esquerda

selfie pra trás na frente do espelho. peraí, hein?!!

ôÔô, rapazes, isso não tá me cheirando bem...

taí o malcheiro! melhor passar rápido pelo morrinho macabro

tudo bem que o acostamento é bruto, mas precisava enfiar a placa no meio dele?

iarruúl, "V" de vergaraaaaa!

não. paso vergara é só depois de bardas blancas... (uns 35km depois, por sinal)

quê? que asfaltitude é essa? ó a paralelovia todinha de terra aí, cicloturistas!

no fundo, o cerro el sosneado. pertim, pertim: 100km atrás e 3000m acima

calma, que o socorro tá chegando pra tirar você daí, du!

e essa aqui é a parte da viagem que tem trânsito. calcule!

el departamento de señales advierte-se-lo: señalización solo fuera de los bordes

não por nada, pessoal, mas recomendo aproveitar toda sombra enquanto houver!

essas montanhas não lembram o arce, assim com a espinha à mostra?

cruzando o rio maquimalal. aqui na argentina é o rio que passa sobre a ponte. mas só quando tá afim

até que não é ruim. na rússia, o rio passa por cima de VOCÊ!!!

mr heil é... mario mutis, multinstrumentista de los jaivas. mais de 50 anos de música chilena!

du é... zéu britto, figura mitológica da nova MPB (música popular baiana)

lulis é... bono, a última bolacha do pacote de óculos de cores duvidosas

lembram da espinha exposta da foto 18? ééé, foi osso!

difícil ler a placa, né? diz: RN40 (vermelho): pedalea, cabrón!

pequeno panorama da cuesta del chihuido. bah, e como custou!

olha o nível da subida! praticamente em curvas de nível

daí sobe, daí ali, onde o mundo acaba, você vira à esquerda

ops, direita

que seja, parece que o mundo faz a curva aqui. e olhe que ele é todo curvo!

hum... aquela montanha da foto 5, finalmente vista de outro ângulo

já não tinha avisado? olha aí o mr se escondendo na sombra da própria sombra

flagra de ultrapassagem perigosa. no caso, perigoso é pedalar no acostamento tirando foto

aproveitando um pouco da vegetação local, algo raro durante a travessia do paso vindouro

vindouro não é o nome do paso, não, o paso é vergara!

rapaz, flagra só essas curvas!

ééé... não tá alfafácil pra ninguém!

dominando o cenário com seu penteado exótico, o cerro palao mahuida

opa, cessou o asfalto? cabalisticamente, aqui na foto 39 deixamos a ruta 40

definitivamente, deixamos pra trás a ruta 40 e o amor próprio

ah, em obras! de certo pra corrigir falhas como placas no meio da rodovia

sério: não te impressiona o topete dessas montanhas argentinas?

adivinha, tchê! bah, bah, esse aqui é o rio grande, bagual!

e o fim da ponte sobre o rio grande. quando é grande passa por baixo da ponte, mesmo

é isso aí: bardas blancas! e é meio que só isso aí, mesmo

paradinha pra dar de comer pros ciclistas e pros tábanos (mutucas que hablan español)

prôfe, isso aqui me esclareceu todas as dúvidas da 4a série sobre placas tectônicas

ah, folgados, de volta às rodovias? essa a RP145, por sinal

folgado??? você não tem noção do quão contra tá o vento por aqui!

tem uma placa lá na frente que diz "bienvenido a la fotografía cincuenta"

acostamento aqui serve pra ancorar quando para, senão o vento leva de ré!

mais alguém aí percebeu que os contatos da montanha tão meio oxidados?

e aí ela disse: sempre tem as sombras das pedras, né? huahuahua

valorizando o que se tem de mais precioso: sombra, água, amizade, protetor solar e bigode limpo

lê-se: almacén. entenda-se: sólo se abre cuando queremos

sorpresa! olha quem pintou por aqui!

qualquer aglomeração de verdes aqui é bom sinal, sinal de que vai ter um pouco de sombra

vô? num vô. vô? ôôô, "vô" não, gurizada, olha o respeito!

destaque pra roupa de mergulho do mr assistindo a demonstração dos golfinhos albinos

lê-se: rio potimalal. entenda-se: vão demorar muito aí na água?

raro repouso arborizado pros cavalos

opa, agora sim: cavalos pedindo pouso en la gendarmeria arrrentina

e o amistoso resultado do pedido foi, é, bom... tá claro aí, no soltar das tiras

olhando pra trás, tá lá o cerro palao mahuida. nem se mexeu

e o asfalto? acabou de novo. só não acabou a esperança de achar um pouso!

chega logo, vergara, que esse trânsito tá muito avacalhado!

bah, boas chances de parar aqui: grandes chances de ter sombra a noite toda!

daí você olha pra trás e pergunta: vale?

tá meio-abandonado, meio-que-não, mas a esta altura da lua... acho que vale

os vizinhos foram espiar, assim, meio desconfiados da visita. tudo cabrêro

taí, o refúgio da noite. bem protegido, embora o vento não tenha ligado muito pra isso

daí o replay da foto 68, só que anoitecendo, confirma: ô, se vale!
Cinco da manhã e o Mister já estava de bigode em pé. Aproveitando o companheiro vento assim, quietinho, tão recolhido quanto o humor matinal do Du, vestimos as armaduras e picamos a mula. Só mais alguns quilômetros de asfalto e estaríamos oficialmente no Paso Vergara. Sem volta.
Logo atingimos Las Loicas, último vilarejo do caminho. Ali ficava também o último comércio previsto para os quatro dias seguintes. A senhora que nos vendeu água torceu o nariz com a notícia de que faríamos El Planchón (passito vergara, para os íntimos). Achou que era pouca água, talvez pouca comida e até pouco ciclista. Nós? Achamos uma loucura.
Sem poupar piadas com o nome pitoresco, cruzamos a ponte que encerra Las Loicas. Paso Vergara, aqui estamos. Fomos recebidos pelo rípio, um pavimento que seria outro obstáculo companheiro inseparável. A ilusão de avançar vários quilômetros por dia foi, literalmente, afundando. Percebemos de loonge, pelo espelho, que o Lulis seria o mais prejudicado. Não raramente ficava 100% encalhado no areião. O Du seguia melhor, afundômetro no moderado. O Mister, letrado do caminho, avançava bem com pneus largos e com cravos (nos pneus, epidérmico leitor, cravos nos pneus).
Neste segundo dia começamos a entender melhor a dinâmica do clima local. Ao contrário da confusão climática da nossa terra natal, as coisas no Vergara têm hora pra acontecer (ao menos nessa época do ano). Nossa rotina de viagem logo foi adaptada:
Rotina climática (ou: como a inveja pode matar um curitibano)
- Manhãs de tempo fresco e sem vento, perdurando até as 14h.
- Sol a pino das 14h as 16h, ideal para um acampamento de almoço.
- Luta contra o vento até as 18h.
O acampamento de almoço logo virou o queridinho. Repetindo a agenda do dia anterior, às três da tarde estávamos tomando banho de rio, lavando roupa, cozinhando e tirando uma soneca à espera do sol abrandar. Com clima seco e sol forte, dava tempo de secar bem (roupas, toalhas e ciclistas).
Mais uma vez, a tarde apertou. Nossa previsão era acampamento selvagem nesse trecho, por falta de opção. E que falta! Raramente víamos sequer uma árvore. Já bem cansados e doloridos, esperávamos encontrar qualquer barranco pra nos encostar. Nos animamos com um milagroso amontoadinho de árvores ao longe: Há vida lá! Melhor que isso. Acredite se quiser, sãotoméico leitor, era um camping. Um camping não documentado. Tão inesperado nessa hora que os ciclistas praticamente pararam de funcionar. Mas o camping, sim, estava funcionando.
Fechamos o dia com um senhor alívio para o senhor e os senhorzinhos. O onírico lugar, Mallines Colgados, ficou coroado como um oásis. Jantemo, tomemo banho gelado e se estiquemo.

depois de tanto vale-ou-não-vale de ontem, o dia nasceu bonito pra valer

bonito e cedo, segundo o fuso confuso do mr, que sentou o pau às 5h!

senhores, heil arthur!

é, vendo daqui camelot não era lá essas coisas...

atenção pro nível de dificuldade medido nos sulcos de pneus

me veja dois, sem gelo, pra viagem

aqui não tinha mais sulco, o asfalto já tinha tomado...

...conta

porção de rio grande acompanha estrada prensada e paisagem andina, senhores

sempre deixando a opção de afundar no "acostamento crocante" pros corajosos

bem, nem sempre. tem lá seus cercadinhos

a grande camelot! separando o rio grande do rio chico

ó lá, láá na montanha da direita: tem uma estradinha encravada, lá, viu?

e agora? viu? mas é só uma, prestenção. então, vamos passar por lá

traduzindo do espanhol: "os destemidos"

de passagem por las loicas, cujo objetivo era gauchescamente apenas um:

atravessar o rio chico (é, aqui não é o rio grande). que volta pra chegar nessa ponte!

e agora sim, inegavelmente: bienvenidos a el paso vergara!!!

lembra da estradinha da foto 86? tâmo nela, olhando pra dasdonde tiramos a foto

Mr Heil, interpretando Graham Chapman interpretando o Artur, o rei dos bretões

aqui se vê bem a estrada pordondeviemos. ao lado o rio chico, pouco antes de desembocar no rio grande

kate estava começando a entender que não tinha vindo com calçados adequados

ao fundo, o cerro bella vista sugere: melhor vocês seguirem a placa...

aí olha pra trás e vê que tem montanha pra tanto lado que já bate o desespero...

do alto da conquista, nosso roteador proclama firme e solene: "aff, mal começou"

e, no fundo, essa bela vista é o mesmo vale do rio grande por donde venimos

mr heil numa rara demonstração espontânea de alegria e júbilo "à lá du"

a cavalaria. bom, fossem cavalos, cavalaríamos

dá pra trocar o comentário da foto 99 por "mamão, ameixa"? gosto dessa parte do vídeo...

queriam andes, é? agora aguenta, turmada!

lebram das piadas sobre sulcos lá pela foto 77? deprecadas.

o lado argentino do paso é marcado por belas formações como esta. só que diferentes

começávamos a encontrar consolo em achar um regato arroyo volta e meia

olha pra trás, estrada em que afundávamos, aos pés de camelot

olha pra frente, estrada que afundaremos...

opa, cuidado aí! droga, afundou demais

a partir daqui virou lei: a ordem dos pedalantes é inversamente proporcional à largura dos pneus

o mr parecia ter 20 anos a menos do que os mais afundados do grupo

às vezes até que fluia bem. vooooa, borboletinha!

- aí o lulis disse: não, esse pneu vai bem em todo terreno... hahahaha

mas convenhamos, acidentes de terreno à parte, os acidentes geográficos eram fantásticos

- ôÔô, lulis, vai demorar muito?

- vou, né. pelo jeito não tô com outra perspectiva melhor até o fim da viagem

ao fundo, um fragmento da gigantesca meseta del pueblo

árvores! começávamos a aprender que árvores = água = sombra = paradinha, pelamor

pensa naquelas cristas de montanhas do dia anterior misturadas com leito de rio

sombraaa! paradinha semi-acampada pra almoçar na invernada del viejo

as formações são lindas, mas sombra e riacho a essa altura eram mais interessantes

é não é que o acampamento de almoço era um quase completo, mesmo, queridinho?

na incerteza do que viria, como no dia anterior, melhor garantir o banho, mesmo prematuro

caramba, essas formações são mesmo impressionantes

todo mundo torcendo pra areia branca ser neve. mas era só areia, mesmo

- ei, alguém viu minhas caramanholas?

- eu vi, ficaram lá na foto 120!

bah, e esse panorama do meio do paredão? dá pra ver os tortinho ali?

é, os miniatura não chegam nem aos pés dos paredões, mesmo

mas não era bom desmontar o acampamento pra continuar a viagem?

os paredões da meseta ficaram pra trás, mas quem resiste mais uma espiada?

ah, claro. nesse empurra empurra é fácil arranjar tempo pra olhar pra trás

lulis pneu-fino chorando: me dá uma mãozinha pra sair desse pationorama!

pessoal (al, aal, aaaal...), péra eu (eu, eeu, eeeeu...)!

engraçado que quanto mais difícil de pedalar, mais foto sai, né, seu lulis?

- não, tô cansado não, foi só uma paradinha pra tirar foto...

ai minha nossinhora dazareia finaquiafunda!

árvore, gente, árvore! tá na hora de parar e pedir penico!

mas e não é que tinha penico mesmo? aí, na sombra dos mallines colgados

não é piada, não, é um camping surpresa mesmo! camping los mallines, señores!

mais uma noite na estrada, mais uma com os vizinhos de bode

isso aí o mr, que é astrósofo, disse que é um satélite. piorquiémêmo
Mais um dia que concorre ao troféu inóspito. Acordamos na expectativa de um dos maiores desafios da viagem: o arrasta-carga-pela-duna. Pelo menos a noite foi bem agradável (menos pro Lulis, que na expectativa do agradável acabou passando frio). Mr. Heil, sempre muito sincero, amanheceu confessando um pequeno lapso logístico:
- Ô ô ô, rapazes! Achei que tinha esquecido a toalha em Joinville, aí acabei comprando uma toalhinha em Malargüe. Acredita que achei minha toalha e mais uma aqui escondida? Tô com três toalhas!
Para quem estava pesando equipamento, tirando cabo de freio reserva pra reduzir de bagagem, logo vimos que aquela seria a máxima da viagem. Imperdoado, o feito ganhou até canção (e selo) em homenagem. Cantem com a gente!
Três Toalhas (melodia: Pe. Marcelo)
Mr. Heil tem três toalhas / Três toalhas ele tem
Uma é de Joinville / Outra também
E a outraelecomprouemmalargueporqueachouquenãotinhatrazidonenhuma! (very fast)
Três repetições depois, o velhinho saturou e sumiu na frente. Ponto para o exercício motivacional, mais-do-que-necessário para quem estava prestes a dar de cara com as temidas dunas, Las Tapaderas.
E foi tapa pra todo lado. Dois sofridos quilômetros empurrados. Você quer brincar na neve? Que nada, Frozen, você quer brincar na areia! (alguns leitores pais/mães acabam de sorrir) Depois das ditas dunas, voltar à trepedição com média de 9km/h era uma benção.
Dali em diante, nenhuma sombra a vista, nem a prazo. Deu 11h e decidimos: na próxima sombra, paramos. E assim foi, três horas depois encostávamos as bicicletas numa protocaverna com meia-sombra. Sombra essa que já tinha hora pra acabar, estrangulando nosso acampamento de almoço. Sem sombra de dúvida (ou de árvore, ou de rocha grande, ou de qualquer coisa), esse foi o dia assombroso mais não-sombreado da viagem.
Findo o descanso, tínhamos um objetivo: chegar ao puesto DNIT DNV, no Valle Noble. Lá encontraríamos uma garagem compatível com o acantonamento pretendido. Avistá-lo foi uma coisa, chegar lá com vento contra e sol à pino foi outra. Custou longos 5km em 50 minutos. Quase aportando, encontramos uma manada de ciclistas (isso mesmo!) vindo em direção contrária, algo mais inesperado que camping surpresa ou Mr. Heil com três toalhas.
O editor propõem um veto à história dos 10 ciclistas que tinham um corsa no lugar dos alforjes (levando infraestrutura de camping, comida e apoio) e um guia que questionava se faltava muito para (!) Malargüe!!! Haja vista tamanha irresponsabilidade, o editor sugere algo na linha "E o dia terminou bem, sem sombra de vivalma.".
E o dia terminou bem, sem qualquer sombra de vivalma nas redondezas do belo e paradisíaco Valle Noble. Bonito, muito bonito mesmo, o lugar! Espia as foto!

longa (e diversificada) a fila do eco-penico solar

ok, pessoal, achei o sol. descongelem e vamos em frente!

só impressão ou tá todo mundo com seu saco vermelho cheio?

achei que ia ser pior quando disseram "vai ter que cruzar o rio"!

los mallines, que son colgados, colgaditos ellos son...

a essa altura, toda conversa saía no ritmo do hit "as 3 toalhas do mr"

mais uma vez! mr heil, tem 3 toalhas, 3 toalhas ele teeem...

uma édjoinvíli, otratambéin...

- cês vão vê as três toalha, bando de muleque...

do inglês, body: corpos

provavelmente tem alguns aqui, sob as fofíssimas dunas

"las tapaderas", terreno que redefiniu nossos conceitos de afundamento offroad

pára, pára, pára! eu quéééro ibágens! onde estão os corpos?

de maneira geral, ficaram pra trás do esperado...

do espanhol: não seja tapado de tentar passar de bike

não dá vontade de morder? não? é, pra mim também não

bora alcançar o mr bigtires. afinal, é ele quem tem as três...

maizumavêz! misterrêio, tem trêstoalhaa, trêstoalha êeletêêin!

esse já era o N-ésimo arroyo e eles ainda botavam "Aº" na placa

quem foi que mandou colocar todas as sombras lá do outro lado do rio grande?

o panorama das estradas arenosas não parecia que ia dar trégua tão cedo

puesto casas de cristan. tava mais longe do que parece. tocâmo adiante

mas pense num "adiante" que não tinha o que adiantar, ia ser devagar, mesmo...

- me veja uma montanha cor-de-pele. - pele de gente ou de elefante, señor? - os dois

ê, vila velha! se demorar mais de 10s pra ver a pomba, perdeu

isso aí. perdeu, tem que empurrar

panoramas à parte, reinava a pequeneza dos passantes frente aos gigantes

nesse trecho de pista dupla o pessoal prefere usar mais a mão inglesa, mesmo

misterrêio pegando água no arroyo el yeso (mas ele pode se molhaaar, sabe porquê?)

lulis, a ponte. a ponte. aponte essa câmera pra lá que eu to cansado de foto

uma saída pro puesto dueña ângela - mas tava longe demais pra arriscar uma sombra

ao fundo, lá no último plano, o nosso objetivo do dia (não o cume!)

(treêstoalhas ele teeeem) - não adianta, o subconsciente continua cantando

do espanhol: primeiro os troncos

olha, pra quem tinha medo de passar sede, o panorama tava até que bom

mas, ah! los chivos (cabritinhos) finalmente encaram o bode véio do odois!

com todo o respeito ao mister, cabra macho e toalhudo

esse imenso bloco rochoso aí é o risco negro

do espanhol: picão preto

(já achou que era bobagem, né?!)

bah, viemos láaá detrás? tipo, da foto 179?

não importa mais de onde viemos, mas sim, se pra onde vamos vai ter sombra!

mais uma sombra perfeita... do outro lado do rio. vamos ter que molhar os três? e pra secar?

ufa, nem precisou cantar. achamos uma baita sombra cavernosa pra siesta do dia

e era sombra mesmo, não é montagem no photoshop gimp!

uns candango se escondendo do sol, outros pegando uma cor (várias cores, até)

- oi?

panorama visto da nossa alcova temporária

ó lá, gente, o primeiro veículo do dia! surpresa é o gaúcho ouvindo rádio. mas que rádio?

- corre que te pillo, cabrón!

tivemos que lagartodo y salir corriendo

até porque a sombra já tava acabando, mesmo

é, ficou lá atrás a sombra que quase já não tinha mais

o panorama era esse: montanhas pra todos os lados, e dentro da cabeça...

será que não dá pra pegar essas ditas das três toalhas pra fazer sombra, não?

finalmente se aproximado do objetivo visto lá na foto 173

do espanhol: tem uma reta infinita adiante, cuidado com a depressão

ela mesma: a reta infindável do belo valle noble

essas montanhas e árvores você viu (viu?) na foto anterior

enfim, pouso! garagem do puesto DNV que, mesmo isento de vivalma, nos acolheu

o sol se ia, mas aparentemente teríamos abrigo do vento

wow! o panorama do tal valle noble vale a denominação, mesmo!

as sombras avançando rápido sobre as montanhas de cores

o satélite. observe que não tava pegando o sinal completo ainda

coisa bonita, sô. como cantava o bom abujamra: "a pedra tem vida, meu nêgo!"

recolhamo-se-me-nos para escapar do noturno frio andino, señores
O dia dentre os dias, o objetivo dentre os objetivos. Alçar a pântano charneca Vergara, no limite entre a Argentina e o Chile. Chegar ao ponto mais alto da viagem para, enfim, cruzar os Andes e desbarrancar-se Chile adentro.
As paisagens só foram melhorando, hora após hora. O relevo andino ficou mais acentuado, a estrada menos arenosa. As sombras, definitivamente, evadiram de lá há décadas. Acompanhando agora o Rio Valenzuela, ascendemos em direção ao pacífico na companhia do vento contra argentino, pontualmente britânico. A muito custo chegamos às Termas del Azufre, um espaço de lazer (longínquo, é verdade) que fora fechado pela vigilância sanitária. Nosso acampamento de almoço estava a salvo.
Fechado, mas não morto, apesar do cheiro de azufre enxofre. Lulis, etimologista, nos explica: a denominação água termal vem do fato da água termalcheiro, mesmo. Ainda assim, encaramos o banho. Rebatizamos o lugar como termas de olor muy malo con aguas de color muy feo. O cenário impressionava, com o vulcão Peteroa no plano de fundo. Relaxamento merecido e justo, que só não durou mais porque não dava pra aguentar o cheiro. Da água.
Como não só de enxofre vive um homem (não nós, pelo menos), seguimos em direção à aduana argentina. Estávamos preocupados, apressando o passo para atravessar a aduana antes das 17h. Era isso ou sentar e esperar até as 8h do dia seguinte. No fim sobrou tempo, considerando a pressa do fiscal argentino em nos despachar dali. Burocracias à parte, logo estávamos oficialmente em lugar nenhum: saídos da Argentina, mas sem dar entrada no Chile.
Nem tão rápido assim, batmá. Os 8km faltantes para o marco da divisa não sairiam barato. Muita subida, estrada arenosa e, lógico, um vento como nunca antes visto na história desse país (ou seria daquele? ou seria nenhum?). Como se não bastasse, nosso roteirista conseguiu encontrar, no único desvio de todo o Paso Vergara, uma opção pior.
O editor ficou possesso só de lembrar. Faz questão de publicar a história, pra ver se o roteirista aprende alguma coisa.
O desvio percorrido se afasta da cordilheira, com menos altimetria. O não-desvio, por sua vez, apenas evita um gigantesco túnel de vento contra entre duas montanhas enormes! Pra encurtar a história e alongar o caminho, o lado ruim rendeu apenas sofridos 1,5km em 30 minutos infindáveis.
Superado (ou quase) esse assunto, restavam exaustivos 5km até a divisa. Com o sol quase se pondo, finalmente chegamos ao marco. O ponto mais alto do paso é um lugar paradisíaco e curioso. Culmina em um pântano que dá origem a dois rios, correndo um para cada nação. Clima e vegetação, até então muito secos, dão lugar a uma extensa grama verde. Um pequeno abrigo de pedra é o acalento de quem pernoita por ali.
Boa noite, Chile. Boa noite, Argentina. Boa noite, nenhum. Oficialmente estávamos em nenhum.

iniciando os trabalhos com un poquito más de valle noble. o moço aí a frente é o cerro mesa

nossa última espiada no vale que abriga o rio grande

o cerro mesa decidiu que daqui pra frente vamos é subir o rio valenzuela. sem moleza!

uma pequena interrupção para fazer propaganda do nosso patrocinador: lençóis maranhenses, o paraíso é aqui

que lençol, o quê? é o fotógrafo que tinha se torcido inteiro pra fazer aquele efeito céu de areia

mexeu com o fotógrafo, agora a interrupção é pra registra uma rara aparição florense

cerro bayo adelante. más a la izquierda, la cumbre

aqui no vale do rio valenzuela as coisas são mais apertadas

só o passo que não, o passo é lento em pleno paso

pena que ainda tá muito cedo, senão já saia mais um acampamento almoço nesse galpão

súbídá começando a acentuar

népornada, mánumtem risco de, ocasionalmente, a estrada sumir com um ventinho?

- ôÔô du, tens certeza que é por aqui?

- confiem em mim, alfred e robin!

cada vez que bate um ventão aqui eles podem fazer uma estrada nova, confere?

realmente esse rio valenzuela está aqui parazualos

tão apressadinho, os menino. parece que viram alguma coisa diferente

uma flor aqui nesse lugar seco realmente é algo diferente

essa pequena formaçãozinha ai na frente, vulgo cerro cordón del cura, vai com a gente looooonge

kindófmagic

mais um pequenino braço do cordón del cura

vocês também estão tentando entender aquele cercadinho alienígena LÁ no cume?

esse negócio que vai do vale ao topo da foto é o tal do gradiente, é isso?

mr. heil atendendo ao chamado dos céus: levanta-te e andes!

até o rio dá uma paradinha panorâmica aqui pra descansar, porque nós não?

finalmente uma vista do cume do desdelonge cordón del cura

ainda não deu pra entender como apareceu aquela flor da foto 225

corre du, corre que é sol hoje!

se isso é uma montagem, ficou ruim. se não for, como assim??

e não é que conseguimos sair daquela sem ter que atravessar uma parede?

falando em parede, dá um oi pro peteroa (azufre, para os antigos)!

agora é gelo, não venha com papo de areia

isso é areia! vulcânica, mas é areia

isso é... o que é isso companheiros?

valenzuela ficou mais calminho agora

mas também, quem não ficaria com o panorama del complejo planchón-peteroa (derecha)

com vulcão ou sem vulcão, o du saiu correndo pra almoçar

melhor ir de bike mesmo, tá longe

mesmo com zoom, as termas del azufre continuam longe

que gourmet vocês visitarem uma estância termal no meio dessa rooteza

mas não se enganem pelas aparências, que já não enganam muito

parece que o dono, por termal administrado a questão sanitária, teve que fechar

toda aquela sombra e nós fugindo pro meio do mato?

nada! além de sombra queremos água fresca! fresca?

- ôÔô du, vais fugir do banho?

nada, encarando o banho apesar de termalcheiro

a água, não o du. pormaisque depois do banho, todos ficaram com a lembrancinha do enxofre

tirando a água de malcheiro com água nãotãolimpa

retornemos à base, hora de pedir um belo almoço e um quarto para repousar

o serviço de quarto aqui é um pouco precário

cordón del cura, ainda ele

vamos ter que deixar o cura pra trás, nosso negócio é com o planchón

só relembrando que aquele ventinho está à mil nessa hora

desse muro pra lá, chamam de chile!

mas não vamos por esse aí não, nosso negócio é a opção flocos de neve

- você tá vendo o que eu tô vendo?

gauchada reunida na gendarmeria nacional - grupo el azufre

de maneira resumida: aduana da argentina

fotógrafo entretendo-se enquanto os trâmites pra sair da argentina estão em curso

ué? ela nem foi nessa viagem?!

a nuvem. vai ter que correr bastante o carrousel de fotos pra achar

é aqui que o caminho era pela esquerda e o roteirista optou um péssimo desvio pela direita?

- ôÔô³ DU, podes escolher um trajeto que tenha caminho?

e o caminho ruim ainda tinha duas vertentes: a péssima e a impossível. essa escolha ele acertou

fotógrafo parado pra pegar um fôlego

roteirista: - pessoal, só escolhi por aqui pra poderem contemplar com muuuuita calma El Planchón!

chega de reclamação, falta pouco pra chegar no cume

nem tão pouco, parada pra tomar uma água beeem geladinha

só pra tomar, banho agora nem pensar

finalmente um visada da meta: o vale mais alto do paso vergara está logo aos pés do grandalhão

mas nada é de graça. pode faltar 3km, mas são 3km sofridinhos

estão gostando da caminhada aí pessoal?

mrdu em conversa milimétrica sobre os milímetros finais

chegooooooooou! é o marco da divisa, o pântano que separa geograficamente os dois países

os quase donos da casa aproveitam os poucos meses que não tem neve por tudo aqui

pelo visto não é o gelo que mantém a vegetação tão baixa aqui

lulis dando um gelo no não-fotógrafo com gelo ao fundo (da foto)

então esse é o camping da noite. bem protegidos, os meninu

mrheil tem vaga preferencial, montou a cama na peça maior

bicicletas na cozinha, família betts na dispensa

a vista também dispensa. comentários
O dia nasce no cume do Vergara e quem está ali, de olho no movimento? A resposta não é o gaúcho e nem o cachorro da primeira foto, mas sim El Planchón (4.034m). Ele domina tanto a quebrada que não raramente o caminho é chamado de "Paso El Planchón".
Descansados, nos dávamos conta de que estávamos no ápice do sonho. Após a célebre sequência de fotos no marco da divisa, seguimos quase flutuando pela charneca Vergara até o início da descida. A paisagem que se descortinou nas horas a seguir pode ser resumida em:
Qualquer lugar para que se olhe tem potencial de emoldurar uma foto top 5 da viagem.
O trecho ocidental do vergara é lindo - e muito mais abrupto. Para se ter ideia, a altitude que ganhamos percorrendo 150km desde Bardas Blancas, perdemos em apenas 20km do lado chileno. Só até a aduana foram 800m morro abaixo.
O editor vê importância em lembrar dos fiscais da aduana chilena, muito atenciosos. O Chile é rigoroso quanto aos produtos de origem animal e vegetal em suas fronteiras. Se você tem comida, não pode dar o famoso migué de assinalar "não" na declaração porque "é só uma barrinha de cereal". Nem que seja só um pacotinho de granola. No nosso caso, ela mesma foi barrada por não atender a rotulagem exigida (mesmo fechada). Tudo bem, ao invés de retê-la, liberaram para consumirmos ali mesmo. Ainda nos fizeram companhia e deram boas dicas do trajeto vindouro.
Horas a fio de descida e a paisagem começa a mudar. Depois de dias à seco, reencontrávamos árvores, sombra e umidade. Acertamos de descer no domingo, dia em que a rota fica lotada de turistas fazendo piquenique às margens do Rio Teno. Foi ali mesmo que fizemos o nosso último acampamento de almoço.
Tarde adentro encaramos os últimos quilômetros do Paso em uma estrada já muito melhor (ainda que de terra). Finalmente, depois de dias sem ver uma vila ou qualquer forma de comércio, chegamos ao Camping Tres Palos, em Los Queñes. Para comemorar o retorno ao sistema mercador, compramos duas tortillas. Matamos ali mesmo, esperando vagar um slot no agitando camping. O sossego, assim como o vergara, já era.

unados tres notables visitas por la mañana

el planchón, mostrando porque às vezes até o paso prefere ser chamado de El Planchón

pra cá da placa, lê-se e entende-se los hermanos

pra lá da placa (ou seria o cá, no caso desse ângulo?), los araucanos

um marco histórico no odois

de pensar que isso tudo vira gelo de maio a outubro

preparação para a descida, últimos instantes...

despedida oficial del planchón

alguns arroyos já começam a dar as notas do rio de vergara

testando os freios...

pequena pausa pro menino conhecer o gelo! primeiro e único contato imediato da expedição

o contato com a cuesta vergara surpreende tanto que a gente chega a se desprender do corpo

alguém ainda está com dificuldade de achar material pra aula de geologia?

última oportunidade! estamos disponibilizando o conteúdo em várias camadas

tá vendo esse córregozin? rio de vergara, nascido naquela charneca lá no pé del planchón

toma nota, de cima pra baixo: torre santa elena, morros verdes, cuesta vergara, du

durma com essa, senhor dos anéis!

mr aproveitou pra fazer uma caminhada matutina. que matuto, hein?

deve ser disso que trata o Cyclingthe6, quando fala que o Vergara é seu paso preferido

solta tudo aí, mr! só pare depois que baixar mais 800m de altitude

mas fica de olho da sinalização, hein? ao que tudo indica, será o caminho certo por linhas tortas

fotógrafo, avaliando se deveria mesmo ir direto ou seguir as linhas tortas

só ir reto não vai funcionar, definitivamente

freios são sempre bem vindos. vento contra agora nem pensa em aparecer, descida não é com ele

mrheil, secretamente fazendo merchandising para nike

carabineros del chile - paso fronterizo vergara. ou aduana chilena.

algo te diz que a recepção por aqui foi mais amistosa que na aduana de los hermanos, no?

panorama dos baños termales san pedro, no encontro do rio de vergara com o rio teno

daqui pra frente, descida oficial da costa do rio teno

impressão nossa ou essa queda abrupta de altitude está forçando aparição de vegetação?

só um golpe de vista, continua tudo seco por aqui

chi-chi-chi le-le-le

peraí! está esverdeando, sim. se duvidar aparece mais de uma árvore lado a lado

mira, mais um pouco vai ter a tal da sombra

sooombra, sombra, ainda não

calma mr., já vamos achar uma sombra profissional

uma foto do jabba, em homenagem aos nossos fãns starwarianos

calma, muita novidade: paisagem verde, estrada de areia não-fofa? ou melhor, de não-areia

... mrheil lavando a louça? ah, isso ele sempre faz

uma frondosa sombra, com o almoço a caminho

chegou!

gelo? daonde? tá mó verão aqui

clima de férias, todo mundo se apoiando

baita clima de férias, edição extendida e sem cortes no rio del infernillo

esbanjando morros verdes

falando em esbanjar, lavacar de bica? gourmet vintage moderno?

não bastasse ser quebrada, ainda ficar sem nome?

ah rio teno! se tivesse uma bóia, boiacross-o-aria

mrheil já estava de freio cheio de apertar o freio

mirador y monumento de cementos bio-bio (verdade!)

de algum lugar pra trás e acima nós viemos. daqui, finalizamos o Paso Vergara

cruzando o rio teno. já não estranhávamos tanto a paisagem

cobertura vegetal, uhu! camping tres palos, aí vamos nós! dormir

la luna en Los Queñes
O climão de fim de Paso começava tomar conta de los tres. Nossa viagem acabaria neste dia, em Curicó, não fosse por uma comunhão de motivos. Somamos a vontade de pedalar, o dia reserva sobressalente e a preguiça de estragar as bicicletas no ônibus. Resultado? Santiago do Chile, aí vamos nós!
A Ruta 5, nosso caminho até a capital, é o que se pode cunhar "espaço para pedal hermético". Sem subida, sem descida. Sem curva pra esquerda, sem curva pra direita. Sem vento. Sem mais com o que se preocupar ou reclamar, iniciamos uma discussão fitosófica ao observar produtos da economia local.
- Eles fazem caixa de madeira pra quê?
- Pra guardar madeira.
(25 km depois)
- Pra guardar madeira dentro da caixa de madeira?
- Pode ser. Mas uma caixa de madeira vazia, não guarda madeira?
- É, sendo de madeira a caixa, é uma forma de guardar madeira também.
(20 km depois)
- Então uma caixa de madeira, mesmo vazia, guarda alguma coisa.
- Pedala, confúcio, ou te guardo em uma.
De volta à civilização, tivemos que abrir mão do queridinho acampamento de almoço. Pena, estávamos nos acostumando ao 3R: Regime de Risoto Rústico. Os simpáticos chilenos nos indicaram, por ironia, um restaurante peruano. Nós, peruistas de primeira viagem, pedimos peixe. E quedêlhe o cozimento? Nos perdoem os amantes de ceviche, mas o peixe de peru cru não desceu tão bem quanto a estrada da véspera.
De almoço um pouco atravessado, seguimos pela rodovia hermética até Rancágua. A impagável dica de um frentista nos levou ao justo e bem cuidado Hostel El Parón. Entre radiantes e cansados, usufruímos de banho quente e cama limpa depois de tão inóspitos dias. Que venham bons sonhos, que venha a tacada final.

scooby doo be doo!

- mas não interessa que não tinha TV na távola, tô dizendo que é a van do scooby do! não teima!

agradecimento especial às barracas, que têm sua função suspendida a partir de já

daqui pra frente só vão barraquear na garupa

al fin y al cabo, isso aí já é asfalto ou só quase?

pode não ser asfalto, mas pra quem arrastou a bicicleta nas dunas, era um tapete

quando chegou o asfalto então...

la cordillera blanca, obrigado por tudo, ficamos por aqui de montanha

agora é só reto, reto toda vida

quase isso, teve uma direitinha ali, agora sim. ativar ciclista automático

hum, já estão se acostando, mesmo que o vento não atrapalhe mais?

tá explicado, melhor parar pra comer alguma coisa, mesmo que seja pouca coisa...

...peor es nada

até que deu aquela vontade de voltar pra lá, que tal...

... deixarmos pra próxima?

abestaaaaaado! sooooo eu!!!

um pequeno desvio para caçar um almoço civilizado em san fernando

mas? vocês não foram da argentina pro chile...

- é tudo américa latina, ô du. manda trazer um prato típico, aí!

- du peru?

- só quero uma água. do chile mesmo.

- engarrafada seria melhor, mas se precisar pegamos ali mesmo

- tô cansada...

- tô exausto...

- t... ZZzzzZZzzz

siga aquele astro!

esse?
Amanhecemos sem pressa em chegar. Menos de 100km nos separavam da transição de cicloviajante bruto para viajante com bagagem frágil.
A estrada mantinha o sabor do dia anterior, com algumas notas acentuadas de restrição à presença de ciclistas.
A existência de tais avisos havia sido levemente ignorada a fim de evitar o pânico. Mas agora, que já não tinha mais como fingir que não viu, parecia uma boa hora pra sair da via expressa.
Entramos em São Bernardo para sair do caminho do pedágio urbano de Santiago. Seguimos sentido centro, cruzando lentamente as províncias limítrofes da capital chilena. No caminho encontramos um cluster de bicicletarias, informação útil para quem logo precisaria embalar as bikes uma última vez na viagem.
Chegamos a Santiago sãos, salvos e realizados. Mal acabara a viagem e as notas de saudosismo já despontavam. Como já alertavam muitos amigos viajantes:
Conheça o Chile, a Argentina, e você estará comprometido para sempre. Não resistirá à primeira oportunidade de voltar.
A Santiago que havíamos deixado há alguns dias, ainda em ônibus, parecia a mesma. Nós, nem tanto. Nas graças (e gracinhas) da cruzada dos cavaleiros de duas rodas, proclamada por Sir Heil de Joinvilot, havíamos realizado um sonho. Com olhos mareados e coração sorrindo, perguntávamos se era mesmo verdade, se havíamos conseguido levar até o final, se caixa de madeira vazia guarda madeira. E a resposta parecia ser a mesma. Um sonho guarda o que você quiser.

bets,bets,mari,heil e a alegria da primeira manhã depois de uma noite bem dormida!

- mr eu comprei umas frutas pra evitar que a gente só consuma coisas industrializadas...

deixa pra lá. sede é tudo, obedeça seu patrocinador

cês tão achando que tão perto de casa, pra ficar brincando pra cá e pra lá na passarela?

um sonhador realizado, um roteirista mal humorado e um bobo achando engraçado

un adios desde la ventana del avión. saludos, odos expedición
Serviços #
Camping Tres Palos. (+56)9478-4489, link. Av. Freire, s/n - Los Queñes, Romeral - Chile.
Hostal El Parón. Mari. (+56)7275-8550, link. Av. San Martín, 135 - Rancágua - Chile.
Expediente #
Sonho, levante e roteiro por Heil (adaptado de Daniel Peig), texto e vídeo por Du e Lulis, fotos por todos e todos por um.
Pedalado por du, lulis, heil.
Publicado em 15 dez 2015.