Campos do Quiriri
Mais uma notória parceria da sucursal melhoridade com a nemtãomelhor conheceu a luz do dia e da noite. Com todo um traquejo para as serras catarinenses, Mr. Heil nos ajudou a desencalhar um desejo antigo: galgar a Serra do Quiriri.
Neste desencalhe (ou não), contamos com a estréia do Mr. Roots em nossas viagens, além da presença dos agregados catarinas Willian e Beto. Quanto à tabulação do odoises, o estimado leitor notará algumas anomalias nas peças. O fotógrafo faltou, logo se vê (ou não se vê) pela ausência do du nas fotos.
- leitor: Mas ele é o roteirista, não o fotógrafo.
- sac: Justamente. Nunca se vê o fotógrafo porque alguém aparece no lugar dele. E se esse alguém não aparece, tomou o lugar do primeiro. Este último tomou assento em casa e Mr. Bigode, por sua vez, toma para si a capitania da nau.
Nessa viagem percebemos que o ciclo do Quiriri é marcha leve para subidas pesadas. É como subir o Anhangava e de lá ter mais os campos de altitude e mais uma serra pra pedalar e montanhar. E foi bem isso que fomos fazer lá!
- Campos do Quiriri
- Cadeia de montanhas que abrange as cidades de Joinville, Garuva e Campo Alegre. No total quase 30 cumes, com altitude máxima de 1.580m. Há diversas trilhas por ali que podem proporcionar desde caminhadas curtas (2h) até travessias de dias. Em tupy-guarani, Quiriri significa "silêncio noturno".
Acesso: Via litoral, o acesso mais utilizado é sair de Joinville em direção ao Monte Crista, em uma trilha que já servia de caminho para os jesuítas. Pelo planalto, o mais comum é ir até Tijucas do Sul, seguindo depois em direção à localidade de Postinho. Dali começa uma subida (850m-1350m) até os campos de altitude.
Pedalando num sol quente e de quebra, um dia de muitas quebras. No começo, as mecânicas. No final, as mentais.
O Arce inaugurou seu alforje alemão, fixado num bagageiro china que insistia em se desgarrar do quadro. O cabo de câmbio do du se entregou nos primeiros 10km. Mr Heil, no ritmo, parou pra resolver um pneu furado. Dos novatos Beto e Willian, rolou um movimento central solto como forma de integração. Quem inventou moda mas não participou da catarse mecânica foi o Thiago, usando alforje padrão carrinho de supermercado - apenas dianteiro.
Pra bom entendedor, qualquer quilometragem em Santa Catarina basta: basta, vamos parar pra descansar! Não se tratou apenas de chegar ao pé da serra e subir. Várias nuances altimétricas foram degustadas antes disso. Somente na hora certa, na altitude certa (850m) e no calor certo (quente), começou a ladeira rumo aos Campos do Quiriri. E bota subida!
Dali pra frente virou um compensador empurrabike. Curva à curva, a paisagem só faz ficar melhor. Pros carregados vira uma caminhada, a bicicleta é só uma cargueira com rodas. Hora ou outra, encostá-la e ficar olhando pro horizonte - enquanto o corpo descobre outras posições de inclinação - é gratificante.
Duas horas e 400m verticais depois...
Pensa numa amplitude térmica. E multiplica. Do sol escaldante da subida à travessia gélida nos campos, reforçada pelo vento frio e pela neblina que baixou instantaneamente. Ainda com um pouco de vista da serra ao fundo (serra sobre serra), começou uma desanimadora prosa:
- Então aquele lá é o morro que vamos subir de madrugada? Aquele que você disse que levaria 1h?
- É. O que acha?
- Chuto umas 4h.
- Acho que 6h, pensa no Caratuva de baixo. 5 num ritmo bom. E vocês?
- 6, 6tão louco.
O imensurável alvo é um pico na borda da serra, um dos maiores dali. Divergentes fontes nomeiam "Morro do Quiriri", "Morro do Bradador" ou "Morro da Antena". Divergências que se randomizam entre os picos vizinhos, como no morro mais comum aos pedalantes (logo à direita de quem termina a subida) que, como muitos outros, leva uma antena - e a respectiva alcunha. Esquecendo um pouco dos rótulos, a dúvida do tempo de caminhada foi sanada numa conversa com o caseiro:
- Quanto tempo leva pra chegar lá no topo do morro?
- Sem muita pressa, 1h.
Fomos dormir rediscutindo os nosso conceitos de proporção de paisagem. Que venha o cume.
- Casa do Quiriri
- No Alto Quiriri há uma casa para alugar. Tem louça, geladeira, fogão, camas e colchões (roupa de cama tem que levar). suelen.machado@hacasa.com.br, (47)3145-1919, Imobiliária Hacasa.

thiago sem alforje, adriano com alforje? isso não parece fazer sentido por aqui

pera aí, thi, você tá pedalando a bicicleta ao contrário?

ah. esse é o novo sistema de cargas padrão carrinho de supermercado

primeira parada pro deleite da população local

demorou mas vamos conhecer todos os integrantes dessa expedição. tirando o fotógrafo

o convidamos à encontrar duas capelas nessa foto

voltando a falar de alforjes, willian, cadê?

arce tentando descobrir se, como na bicicleta do thi, tem um alforje escondido no beto

parece muito mais coeso o thiago pedalando contra a maré

ok thi, ninguém vai mais falar sobre sobre levar atrás ou na frente

ao que tudo indica, sobe-desce domina tudo aqui, não se trata apenas do quiriri

uma parada estratégica na localidade de postinho

thiago pensando com qual dos três vai seguir viagem

lulis, se tivesse vindo, diria: - cruzamento com cinco pontas? merece uma rótula

adriano, sempre desconfiado, se inteirando melhor do roteiro

ah, o cume do quiriri nos espera!

pena que aquele não é nem o cheiro do suspiro do cume

é apenas uma aproximação, um dar conhecimento

esse então, é só a decoração do portal da subida

arce, conhecedor de montanhas, sabe que o cume mesmo só veremos daqui horas

uma pequena respirada e já comemos cem metros de altitude

fotos e seu poder mind fucking: uma inclinação de rolar, mas na foto passa como plano

mais alguns tantos metros de altitude arquivados e muitas curvas depois

ah, esse é o qu... Não, essa é mais uma decoração da subida

a lógica aqui é subir, subir e subir

pormaisque pareça que uma hora isso não tenha mais lógica

aha! tudo tem um motivo!

e um dos nossos motivos é essa torre aí. subida, sim

parece que alguém aqui tá com muito calor, mas animado com a conquista

quem disse que não ia ter vez pro fotógrafo?

falando em sobe e desce, lá vai o meninu ao longe

olhando pra trás é que se vê o que fizemos nessa tarde

e pra frente, pensando no que vamos fazer de madrugada

uma pequena contenda sobre montanhas, distâncias e visadas

equipe de efeitos especiais, ativar máquina de fumaça!

paranoossaalegria as nuvens não paravam quietas e logo se dispersaram

o que não quer dizer que elas de dissiparam

lávemoarce após cruzar a cortina de nuvens

essas horas o thiago já buscava consolo na população local

panorama da foto anterior com um enquadramento muito, muito, muito mais aberto

parece que as nuvens vão dormir por aqui também

outra que veio toda cheia passar a noite foi a lua. boa
Dentre as vantagens de se ter o Mr. Heil no crew se destaca a capacidade de levar regras de horário a sério. Na intenção de ver o sol nascer no cume, tomando como base o tempo revelado pelo caseiro, às 4h já se ouviam as bigodadas à porta.
Facilitamos o trecho inicial - 2km - de bicicleta, até onde era pedalável. Dali pra frente, lucro só caminhando. E não é que num bom ritmo, em 40 minutos estávamos ao lado da torre do cume, esperando o astro rei dar as caras por ali? Uns 15 minutos depois e... surpresa. Começa a produção de uma pequena indústria de nuvens, encobrindo sol e visada, colega a colega.
Impedidos de ver o sol nú e cru, logo iniciamos a descida. Não muito distante do cume, fomos privilegiados pelo tempo abrindo novamente, descobrindo toda a vastidão e beleza dos campos de altitude. As formações realmente impressionam, coisa pra Araçatuba nenhum botar defeito.
Chegando na base, em função do arruma e desarruma das coisas, ainda deu tempo pra dar mas um voltinha em outro morro mais baixo, esse sim untitled e isento de discussões. Na volta, bike-mode on e o início da tão esperada descida rumo à cota 900m. A declive é tão violento, mas tão violento, que o Willian acabou sendo violentado no caminho e se ralou todo. Chama aí a substituição pessoal:
Sai uma tampinha do braço e da perna, entra o kit de primeiros socorros.
Dermicamente ajustado, William foi liberado para seguir viagem. E não tinha vida boa por aí, não. Optamos por retornar por um caminho diferente, mais inóspito e próximo da serra do mar. Não deu outra, o papinho de que o Quiriri tinha judiado de nós começou a se aplicar à rota. Não raras vezes precisamos subir pequenas serrinhas até chegar no asfalto.
Alguns quilômetros depois e mais um ciclo concluído. Desde o despertar do bigode, 4h da matina, até aquelas 4h da tarde, muita serra e muita coisa bonita vista - e empurrada. Como bem ilustrado por um certo FsFslósofo, o Quiriri é o último pinhão do cassete. Mas vale cada dente!

thiago. tremendo num tremendo frio

a lua já tava vendo que era hora de passar a bola

o sol, por sua vez, ainda em observação

outros que estavam em observação era os ciclistas convertidos em montanhistas

uma discussão sobre onde nasce o sol

uma não-discussão sobre a fábrica de nuvens que estava por acabar com o evento

mr. heil, já um pouco desengando com a hipótese de um nascer do sol acessível

um roots escondido dentro de uma fantasia de garibaldo, ou de girafa, ou de lêmure

depois de muita espera, nasce ou não nasce

vai dissipar! vai dissipar! vai dissipar!

que é isso fotógrafo, foi dar atenção pra polêmica do nome no meio do nascer do sol

esperaram até agora e vão fugir?

capitão bigode, falta muito pra chegarmos no sol?

finalmente chegou a hora de conhecer o que tinha no meio da subida

afinal, no meio da noite não se enxergava muita coisa

estão com pressa aí meninus? só porque falta descer uma montanha e uma serra?

vamos curtir um pouco a cota 1500m!

eita, lá vem a fabriquetinha de nuvens

ah, deu tempo pra uma panorâmica na descida

lá está o cume. agora talvez dê pra ver o sol

deixa o sol pra lá, tem muita coisa pra ser ver panoramicamente aqui

logo ali vão os apressadinhos

quem é esse?

isso aí, finalmente colocamos o roots em seu habitat montanhístico natural

beleza, panorama a alguns passos da casa (o ponto branco)

algum tempo desde a foto anterior hein?

transição para o ciclotur, demorou

deixando a casa pra trás de volta e rumando para outro morro

panorama do cume, sem todo sofrimento do morro da madrugada

vamos lá, não é um graandes morro assim

mas tem alguma coisa pra ver, afinal, tá todo mundo olhando

toda equipe envolvida na viagem, adeus casa

adeus morro que gerou polêmica sobre tempo de subida

e logo mais começa o adeus altimetria level hard

então é agora que vai começar a descida de verdade?

ainda não, né arce? tem aquele topetezinho ali

pessoal ainda meio desnorteado em relação ao caminho

porque não colocar uma subidinha pra aquecer?

falta pouco para a viradinha fatal da montanha russa

uma épica curva à direita, aprendeu com o gerador de cenários do capivari

parece que aqui é o ponto de despedida oficial

adriano se posicionando um tanto quanto blasé em relação ao comentário

agora o castelinho do quiriri já ia ficando pra trás

aqui o willian ainda estava inteiro, com toda a pele que ele chegou

aqui, um pouco mais embalado e propício ao sinistro que viria

falando em sinistro, sente o panorama da curva mais simbólica do relevo

o fotógrafo só parou pra poder descansar. os freios.

agora já era, alguns metros pra baixo e já estávamos no rio

e tentando ajeitar o willian que se perdeu em alguma curva

falta pouco, não vamos desanimar com o fim da descida

todo mundo esperando. a vontade de continuar.

a montanha russa logo recomeça por aqui

a escolha do caminho de volta, mais próximo da serra, não foi muito santa

daqui pra frente tudo é lucro, missão mais que cumprida

pormaisque podia ter pego mais leve nesses 48 do segundo tempo, né?

no jogo dos sete erros: um asfalto, faixas pintadas e subida. não, subida já tinha

finda expedição. beto foi literalmente coroado pela família
Expediente #
Texto e fotos por du, comentários sem comentários, hospedagem agilizada pelo willian, roteiro por du e heil.
Pedalado por du, thiago, arce, heil, adriano, willian, beto.
Publicado em 3 jun 2015.