Campos do Quiriri

19 e 20 out 2013 2 dias 113 km

Mais uma notória parceria da sucursal melhoridade com a nemtãomelhor conheceu a luz do dia e da noite. Com todo um traquejo para as serras catarinenses, Mr. Heil nos ajudou a desencalhar um desejo antigo: galgar a Serra do Quiriri.

Neste desencalhe (ou não), contamos com a estréia do Mr. Roots em nossas viagens, além da presença dos agregados catarinas Willian e Beto. Quanto à tabulação do odoises, o estimado leitor notará algumas anomalias nas peças. O fotógrafo faltou, logo se vê (ou não se vê) pela ausência do du nas fotos.

  • leitor: Mas ele é o roteirista, não o fotógrafo.
  • sac: Justamente. Nunca se vê o fotógrafo porque alguém aparece no lugar dele. E se esse alguém não aparece, tomou o lugar do primeiro. Este último tomou assento em casa e Mr. Bigode, por sua vez, toma para si a capitania da nau.

Nessa viagem percebemos que o ciclo do Quiriri é marcha leve para subidas pesadas. É como subir o Anhangava e de lá ter mais os campos de altitude e mais uma serra pra pedalar e montanhar. E foi bem isso que fomos fazer lá!

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Campos do Quiriri
Cadeia de montanhas que abrange as cidades de Joinville, Garuva e Campo Alegre. No total quase 30 cumes, com altitude máxima de 1.580m. Há diversas trilhas por ali que podem proporcionar desde caminhadas curtas (2h) até travessias de dias. Em tupy-guarani, Quiriri significa "silêncio noturno".

Acesso: Via litoral, o acesso mais utilizado é sair de Joinville em direção ao Monte Crista, em uma trilha que já servia de caminho para os jesuítas. Pelo planalto, o mais comum é ir até Tijucas do Sul, seguindo depois em direção à localidade de Postinho. Dali começa uma subida (850m-1350m) até os campos de altitude.

Mapa & Tracks

1Subida do Quiriri 1 dia 54 km
DIA 1 campo alegre, saltinho, bateias de cima, ribeirão do meio, postema, postinho, campos do quiriri

Pedalando num sol quente e de quebra, um dia de muitas quebras. No começo, as mecânicas. No final, as mentais.

O Arce inaugurou seu alforje alemão, fixado num bagageiro china que insistia em se desgarrar do quadro. O cabo de câmbio do du se entregou nos primeiros 10km. Mr Heil, no ritmo, parou pra resolver um pneu furado. Dos novatos Beto e Willian, rolou um movimento central solto como forma de integração. Quem inventou moda mas não participou da catarse mecânica foi o Thiago, usando alforje padrão carrinho de supermercado - apenas dianteiro.

Pra bom entendedor, qualquer quilometragem em Santa Catarina basta: basta, vamos parar pra descansar! Não se tratou apenas de chegar ao pé da serra e subir. Várias nuances altimétricas foram degustadas antes disso. Somente na hora certa, na altitude certa (850m) e no calor certo (quente), começou a ladeira rumo aos Campos do Quiriri. E bota subida!

Dali pra frente virou um compensador empurrabike. Curva à curva, a paisagem só faz ficar melhor. Pros carregados vira uma caminhada, a bicicleta é só uma cargueira com rodas. Hora ou outra, encostá-la e ficar olhando pro horizonte - enquanto o corpo descobre outras posições de inclinação - é gratificante.

Duas horas e 400m verticais depois...

Pensa numa amplitude térmica. E multiplica. Do sol escaldante da subida à travessia gélida nos campos, reforçada pelo vento frio e pela neblina que baixou instantaneamente. Ainda com um pouco de vista da serra ao fundo (serra sobre serra), começou uma desanimadora prosa:

  • Então aquele lá é o morro que vamos subir de madrugada? Aquele que você disse que levaria 1h?
  • É. O que acha?
  • Chuto umas 4h.
  • Acho que 6h, pensa no Caratuva de baixo. 5 num ritmo bom. E vocês?
  • 6, 6tão louco.

O imensurável alvo é um pico na borda da serra, um dos maiores dali. Divergentes fontes nomeiam "Morro do Quiriri", "Morro do Bradador" ou "Morro da Antena". Divergências que se randomizam entre os picos vizinhos, como no morro mais comum aos pedalantes (logo à direita de quem termina a subida) que, como muitos outros, leva uma antena - e a respectiva alcunha. Esquecendo um pouco dos rótulos, a dúvida do tempo de caminhada foi sanada numa conversa com o caseiro:

  • Quanto tempo leva pra chegar lá no topo do morro?
  • Sem muita pressa, 1h.

Fomos dormir rediscutindo os nosso conceitos de proporção de paisagem. Que venha o cume.

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Casa do Quiriri
No Alto Quiriri há uma casa para alugar. Tem louça, geladeira, fogão, camas e colchões (roupa de cama tem que levar). suelen.machado@hacasa.com.br, (47)3145-1919, Imobiliária Hacasa.
2Morro da Antena 1 dia 59 km
DIA 2 campos do quiriri, morro da antena, postinho, cubatão, tijucume, vila laranjeiras, campo alegre

Dentre as vantagens de se ter o Mr. Heil no crew se destaca a capacidade de levar regras de horário a sério. Na intenção de ver o sol nascer no cume, tomando como base o tempo revelado pelo caseiro, às 4h já se ouviam as bigodadas à porta.

Facilitamos o trecho inicial - 2km - de bicicleta, até onde era pedalável. Dali pra frente, lucro só caminhando. E não é que num bom ritmo, em 40 minutos estávamos ao lado da torre do cume, esperando o astro rei dar as caras por ali? Uns 15 minutos depois e... surpresa. Começa a produção de uma pequena indústria de nuvens, encobrindo sol e visada, colega a colega.

Impedidos de ver o sol nú e cru, logo iniciamos a descida. Não muito distante do cume, fomos privilegiados pelo tempo abrindo novamente, descobrindo toda a vastidão e beleza dos campos de altitude. As formações realmente impressionam, coisa pra Araçatuba nenhum botar defeito.

Chegando na base, em função do arruma e desarruma das coisas, ainda deu tempo pra dar mas um voltinha em outro morro mais baixo, esse sim untitled e isento de discussões. Na volta, bike-mode on e o início da tão esperada descida rumo à cota 900m. A declive é tão violento, mas tão violento, que o Willian acabou sendo violentado no caminho e se ralou todo. Chama aí a substituição pessoal:

Sai uma tampinha do braço e da perna, entra o kit de primeiros socorros.

Dermicamente ajustado, William foi liberado para seguir viagem. E não tinha vida boa por aí, não. Optamos por retornar por um caminho diferente, mais inóspito e próximo da serra do mar. Não deu outra, o papinho de que o Quiriri tinha judiado de nós começou a se aplicar à rota. Não raras vezes precisamos subir pequenas serrinhas até chegar no asfalto.

Alguns quilômetros depois e mais um ciclo concluído. Desde o despertar do bigode, 4h da matina, até aquelas 4h da tarde, muita serra e muita coisa bonita vista - e empurrada. Como bem ilustrado por um certo FsFslósofo, o Quiriri é o último pinhão do cassete. Mas vale cada dente!

Expediente #

Texto e fotos por du, comentários sem comentários, hospedagem agilizada pelo willian, roteiro por du e heil.

Pedalado por du, thiago, arce, heil, adriano, willian, beto.

Publicado em 3 jun 2015.