Represa do Capivari
Entre as boas dívidas das que vale a pena ter (sim que as há, não?!), eis aqui uma expedição que estávamos devendo há tempo. Dívida daquelas que contraímos de nós mesmos, em auto-promessas de assistir tranquilamente uma curta-viagem, respirando ares pacíficos, cultivando humor do bom... Hora de pagar!
Há tempo namorávamos uma capivariante pedalada por estas bandas, escalando e represando projetos com identidades duvidosas: um dia de passeio puxado? uma viagem de dois dias tranquila? Passando por Bocaiúva e Campina Grande do Sul, acabamos optando pela viagem tranquila, acampados nas encantadoras margens da Represa do Capivari. Mas com tempo e clima sorrindo ainda mais para nós do que nós mesmos a eles, decidimos pagar a dívida com juros (e com gosto) e alongar a volta visitando a serra do Capivari, que tanto se pronunciava por ali.
- Represa do Capivari
- Localizada no município de Campina Grande do Sul, a cerca de 50km de Curitiba, a represa do Capivari armazena as águas do rio homônimo desde os idos de 1970, totalizando um volume de 150 milhões de m³. Suas águas alimentam as turbinas da usina hidrelétrica subterrânea Governador Parigot de Souza, em Antonina. Esse significativo deslocamento de água é viabilizado por um túnel de 15,4km que atravessa a serra do mar, desembocando a 740m abaixo, no rio Cachoeira (daí a antiga denominação da usina: Capivari-Cachoeira).
- Ao longo das margens da represa existem diversos recantos com infraestrutura para prática de pesca e esportes náuticos, áreas de lazer e churrasqueiras, incluindo o recanto público Parque Municipal Ari Cotinho Bandeira, entre as pontes da BR-116.
Fontes:
COPEL - Geração, 2008
Prefeitura de Campina Grande do Sul - Turismo, 2011
Se a dívida foi paga? Bem, caro leitor, os recibos estão aqui, em palavras em imagens... Que tal conferir por si mesmo?
Uma vez decidido que a expedição à Represa do Capivari seria parcelada em dois dias, bastava dar entrada na organização das coisas e ir! Com o clima não muito amistoso, asfaltamo-se-me-nos de Curitiba a Bocaiúva por estradas velhas conhecidas temendo a chuva que - maravilha! - não deu as caras.
Por outro lado, estradinhas de terra afora fomos curtindo o melhor do cicloturismo: as próprias estradinhas, elas mesmo em pedra e pó. Comendo a represa pelas bordas, chegamos nela de verdade quando caímos nos braços da BR-116 (as grandes pontes, braços literais da rodovia sobre a represa). Apreciação tranquila, das pontes até o poente ficamos admirando a represa e as montanhas que circundam, protegem e enfeitam a massa de água (por todos os lados, pormaisque ao contrário - uma desilha!).
Procurando um recanto, encontramos o Tio Maneco. O próprio. Boa gente, pura imagem da humildade interiorana. Morava no fundo do vale antes da água tomar conta de tudo (a outra face da bela represa está lá, em pequenas vilas fantasmas sob o espelho dágua). Submerso o antigo canto, Maneco agora cuida do seu re-canto, do bar do recanto, da cordinha que separa o recanto do resto do mundo. E antes de nos deixar, prometendo uma moda de viola, convida:
- Voltem aí outro dia...
Comentário ingênuo, feito como se não soubesse que estávamos de bicicleta, que vínhamos de Curitiba, mas sim como se fossemos vizinhos de sítio. E ainda completou:
- Vão até Antonina amanhã?
Todos rindo, dissemos que não. Mal sabíamos que ele estava certo. Armamos a barraca na beira da represa, enquanto um temporal se armava ao longe. Caminhamos na borda da represa à noite, as luzes da cidade se projetando nas nuvens ao longe, as luzes das nuvens relampejando ao norte (ou ao mar, mas lá estavam e assustavam). Tranquilos, dormimos esperando a manhã.
- Relativalidade
- Termo que nomina a questão aberta semântico-existencialista da filosofia láctea primordial: Considere encarar um iogurte fora do prazo de validade, relevando as consequências gastro-intestinais e demais propagações de caos fisiológico. Quem, efetivamente, deve ser considerado vencido: o iougurte ou você?

beleza, beleza, vamos começar isso logo ou não?

descidas, maravilha, aí vamos nós!

aparição incomum, prova fotográfica de que não foi uma viagem solo

ok, babe, desce mais uma!

aparição ainda mais incomum, uma releitura do paleo-clássico coelhinho

falando em clássico, essas nuvens não têm uma dinâmica um tanto quanto familiar?

grande bocaiúva, nos recebendo meio que de portais meio abertos

outro clássico, embora acima do custo médio da nossa costumeira REVERrefrilosofia vaga

pois chega de asfalto, agora é terra e mato

se é que se pode chamar um pinhal de mato

escuta aqui, prestenção, menino! é tudo mato, tudo mato!

pois se não fosse ainda cedo, já tinha onde dormir!

e não é que era tudo mato, mesmo? mato acima nessa terra!

essa terra aqui tá quase asfalto de tão trafegável

vai um caqui marrento aí? bico doce, mas bico fechado!

num vai furá os óio das montanha dos otro, minino!

embora o objetivo do dia fosse a represa, o capivari (capivarão?) ficava todo se mostrando

daora a vida? nada, dureza o cascalho: pedras pra que te quero!

olhando por cima parece que chove, mas no fundo no fundo tem sol

pois se chegamos na rodovia quando acaba a faixa adicional, pra baixo é só alegria!

não que não tenha sempre mais um pouco a subir...

até que enfim, a dita represa! repleta de montanhas por todos os lados

panorama da face oeste da represa sobre uma das pontes da br116

e agora, como é que faz pra chegar lá embaixo?

pordeusdocéu! descendo, que tal?

D3: uebaaa, explodiu um submarino!

falta uma roda porque junto com o submarino explodiu uma câmera também

não gosta de batalha naval? jogar tampinha, então? não? ah, vai pescar!

que tal brincar de pedalar então, ahn?

fim do dia, tá na hora de sair da piscininha!

o jeito agora é ir voltar pra depois voltar a ir

panorama leste da represa, com os complexos do ibitiraquire, do capivari e do odois

voltando a volta, praticamente a vista da foto 23, só que com cara de pano de fundo

tão complexo que não se sabe onde começa o capivari e acaba o capacete

o sol já se escondia enquanto buscávamos um recanto pra barraquear

falta sol mais um pouquinho, vamos lá!

bela vista do sol deixando o recanto às margens da represa

agora sim, escureceu. acampamos aqui, então?

então arruma tudo rapidinho que já anoiteceu!

festa no outro lado da represa: quem vem buscar a gente?

os últimos suspiros de luz do sol ou de alguma cidade próxima?

vê as montanhas? vai, garanto que forçando até o barquinho você vê!
A manhã chega e não decepciona: sol e lua se exibindo no céu azul, a mata verde fresca, tudo isso espelhado na tranquilidade da água e embalado no animado canto dos pássaros. Como a volta seria mais curta e o dia prometia, um pequeno adendo ao roteiro: vamos ao Capivari (seja qual for, seja ate onde der!).
Depois de algum trecho de asfalto (subindo, sem dúvida) e concreto (mais subida, dúvida alguma) chegamos às antenas que enfeitam a metade o caminho ao topo do Capivari Grande. Deixamos as bikes e seguimos um bom trecho campeando trilhas até atingir mata fechada.
- Nota abrasiva
- Chegar na mata fechada não quer dizer que o campo até ali estivesse aberto - o capim a meia altura era literalmente capaz de lixar canelas (e assim foi).
Projeto antigo, momento histórico, mas estávamos despreparados. Por questão de tempo, precaução (leia-se cobras e nada cobre-se) e dor (ardor, no caso, ou melhor, nas canelas), decidimos repousar e fazer um lanche em um mirante no meio do Capivari Grande (literalmente no meio, não alçamos o topo). Pausa para a bela vista, nuvens crescendo rápido... O pico fica pra outro dia, o importante é que o Tio Maneco tinha razão: estávamos em Antonina.
- Capivari Grande
- A Serra do Capivari é o maciço de montanha isolado mais meridional de toda Serra do Mar paranaense, sito imediatamente ao norte da Serra do Ibitiraquire (vide Pico Paraná), em Antonina. Entre as cinco montanhas que compõem o complexo, destaca-se o Capivari Grande, no extremo norte do conjunto, com 1.621m de altitude.
- O acesso ao Capivari Grande é feito pela BR-116, por uma estreita estrada de concreto que leva às torres de telefonia na face norte da montanha. A partir das antenas o caminho é feito por trilhas pouco frequentadas, muitas vezes difíceis de distinguir. A vegetação oscila entre os arbustos pequenos dos campos de altitude (embora pequenos, cortantes) e a mata fechada próximo ao cume.
Nota: o mapa indica apenas o caminho percorrido, não cobrindo os últimos 600m até o cume (mata fechada).
Fontes:
MAACK, Reinhard. A Serra do Mar no Estado do Paraná, 1972
Alta Montanha - A Serra do Capivari, 2008
Resultado da investida surpresa: belas paisagens, ótimos papos, uma boa volta e alguns quilômetros de bônus. Lanches no caminho, pernas em carne viva (não como um bife, mas que fez casca, ah, isso fez), cansaço e alegria acima dos níveis normais (embora ainda toleráveis para indivíduos normais como nós mesmos).
Chegamos à noite em Quatro Barras (assim como em Curitiba, é certo), mas com a alegria incontestável de pagar uma dívida pessoal com boa folga. Claro que o inocente convite do Tio Maneco é praticamente uma dívida de retorno, assim como a promessa do cume do Capivari Grande... Bem, no fim, levando tudo em conta, que temos aqui? Ou melhor, caro leitor: contando tudo, no fim, quitemos aqui? No fim das contas, convenhamos: não seria justamente esse o tipo de dívida que vale a pena ter, meu caro?

que chuva, que nada: amanhecer perfeito à beira da represa

uma linha sutil divide a imagem e multiplica as formas

que céu! até a lua resolveu dar as caras!

pregação sobre as águas!

há divergências sobre onde começa e acaba o reflexo da árvore

humn... alguém andou mexendo nas coisas por aqui!

panorama místico da represa vista do recanto do tio maneco

na foto anterior já dava pra ver: só tem nuvem ali pra onde a gente vai...

vendo antenas: morro acima, aí vamos nós!

panorama 180º da estrada: no fundo a gente sabe onde vai acabar...

por hora, subindo: força na empurrada!

um caminho meio concreto, meio abstrato, tá bonito!

umas 6 torres de telefonia e mais uma de nuvem

cumes (ou não) próximos (ou não), vamos abrir caminho até lá!

não precisava ser tão literal... caminho fechado é apelido, isso aqui tira lasca!

peraí que esse mato corta!

panorâmica do mirante, entre as antenas e os cumes um horizonte vasto

planos para a próxima montanha, gostinho de "um dia chego lá!"

há quem diga que é possível ver o du escondido nessa foto

meditação, daniel sam? roteiristas georeferenciados e suas rotas mirabolantes

panorama do cume (ou não) até onde quase chegamos (ou não)

essa definitivamente foi uma viagem de muitos panoramas!

e agora, pra onde? pra baixo!

voltando (e saindo) das antenas: caracóis me mordam!

tente encontrar a estrada e então tente entender a diversão!

estrada pro fim do mundo, não?

mas não acabava ali, ainda tinha bem mais!

essa é gêmea da foto 53, só que vista pelo lado bom!

de volta a estrada, agora sim é hora de voltar pra casa

ou já passou da hora... ao menos tem a luz do poente pra fechar bem!