Cercado e Rio do Salto

10 e 11 out 2009 2 dias 221 km

Em um ano atípico, de poucas viagens (das duas, 50% chuvosas), uma revigorada seria bem vinda. E foi: em apenas dois curtos dias de sol, uma breve expedição à vizinha Palmeira mostrou que esticar as varetas (tanto dos ciclistas quanto das barracas) para explorar o próprio quintal e pode ser muito divertido!

Ah, Palmeira - um destino há tempos fora do alcance de nossos olhos (e GPSs), tão próxima e tão distante. Reapareceu em uma repescagem de projetos engavetados: exaustiva busca em guias, análise de cartas do IBGE, explorações GoEthicas e, finalmente, sai um projeto de dois dias com promissores atrativos naturais nas cercanias de Cercado e da represa do Rio do Salto.

Pergunta
Responda rápido, caro leitor: Qual foi a última viagem de 2 dias do odois com todos os 4 componentes? (tudo bem, tudo bem: pode colar da lista de expedições... o Thiago levantou a questão e até mesmo nós levamos um dia inteiro para acertar (com dica e tudo)... parece besteira, caro leitor, mas pasme: há apenas uma expedição que atende a estes dois requisitos! (tá, tá, agora são duas...))

Pra terminar (ou começar), levamos um Mc-Ciclista-Feliz de bônus: o Gassner, coadjuvante em outros passeios, entrou de cabeça (e bicicleta) na brincadeira, mostrando com quantos meio-alforjes se faz uma boa pedalada integral. Assista o vídeo, veja as fotos, leia o livro, escute a gente: você não vai se desencantar!

Mapa & Tracks

Vídeo

1Cercado 1 dia 109 km
DIA 1 curitiba, palmeira, cercado, gruta, rio do salto

Preocupados com a seriedade e pontualidade do colega Gassner, partimos às pressas. Alguns minutos depois (depois do Gassner ligar, ainda sonolento, tentando encontrar-se e encontrar-nos), o grupo todo (odois e outros Gassners) inicia a expedição rumo oeste. O tempo seguiu abrindo, e nesse ritmo o pneu do arce também abriu na subida da serra - um furo só pra animar, parada estratégica.

Quilômetros depois, parada para o café da manhã (alguns pães mal preparados e barrinhas de cereal, fato que assustou nosso convidado), mas não sem antes fazer uma gracinha no pátio (ai, como era grande!) do posto. Quer achar graça também? Veja o vídeo!

A primeira entrada (ou saída da estrada) prevista acabou em um imprevisto (a placa de "propriedade particular não entre" era clara). Felizmente, tínhamos alternativa: pouco à frente tomamos o acesso para a localidade de N. Sra. Das Pedras, famosa pelas festas que por ali ocorrem. Sol quente e o vento contra, cansamos nos 13km até a Vila de Cercado.

#
Cercado
A localidade de Cercado situa-se no extremo nordeste do município de Palmeira (cerca de 32km do centro), fronteira com Campo Largo. O vilarejo de Cercado acomoda-se no alto, defronte à Serra do Chapadão (altitudes de 1060m a 720m), posição que confere-lhe o merecido título de "mirante".
Na região encontram-se as “Grutas do Cercado”, escondidas em meio ao grande vale. O acesso, não sinalizado, é feito por caminhada em campo aberto seguida de trilha de difiuldade alta (íngreme e precária) em mata fechada. A entrada da gruta principal é feita por um pequeno e estreito acesso em que é necessário passar agachado (necessário lanterna). Passadas as dificuldades revela-se uma grande gruta (cabem uns 3 biarticulados lá dentro!), com uma cachoeira ao fundo. A entrada principal, responsável por um pouco de iluminação natural, é praticamente inacessível sem o uso de equipamento de segurança, dado o desnível do terreno.

Acesso: Pela BR376, sentido Curitiba - Ponta Grossa, a entrada para Cercado fica 4,5km após a praça de pedágio de Witmarsum, seguindo pela direita na estrada de terra em meio às árvores. Dali são 13km até o mirante e o acesso às Grutas (informe-se no local).

Estávamos chegando na Vila - e, de repente, a Vila passou! Sem comércio aparente, as poucas casas e a pequena igreja são suficientes apenas para o local passar desapercebido. Passamos o breve almoço (réplica do café da manhã) deliberando sobre tentar ou não chegar às Grutas, com vistas ao outro atrativo que encerrava a visitação às 17h (o paredão de N. Sra. das Pedras). Já que estamos aqui: grutas!

Seguindo indicações da população local, voltamos pelo caminho e chegamos em um “ajuntamento de casas” que seria o “portal” para trilhas de acesso. Fomos recebidos por um senhor (que apelidamos carinhosamente por nome impróprio, então chamemo-lo aqui de "Seu Alcunha") que gentilmente nos guiou até o início da trilha.

  • Seu Alcunha: [olha o relógio] Ceis vão té lá na gruta, lá imbaxo? Olha qué chão, cêis vão voltá de noite, si é.
  • Filho do Seu Alcunha: Ceis vão lá na maiorzona? Lá tem que descer pela árvore pra conseguir chegar...
  • Du: [reflete em pensamento] Nossinhora das Pedras que nos proteja, não quero nem imaginar o que é essa história de descer uma árvore pra chegar numa caverna!

Seu Alcunha havia exagerado um pouco, em 15 minutos estávamos nos barrancos, parte crítica (regada a escorregadas). E não é que a tal árvore estava lá? Não encaramos: tomamos um caminho lateral e, pouco à frente (e bem abaixo), já víamos a grande entrada da Gruta. Grande entrada, cercada de paredes por todos os lados, acesso inviável nas nossas condições... Então o desalento geral é quebrado pelo Gassner, gritando de dentro de um buraco que parecia uma toca de onça: "acho é por aqui, tô com a lanterna, o buraco segue apertado, mas segue."

E era isso mesmo. Descobrimos como é sujo estar por dentro das tripas (intestino, seu grosso!), até encontrarmos o estômago (só que pelo outro lado). Lá dentro o grande monstro cavernoso tomava água - no fundo escuro, ouvíamos a forte queda. Digerimos lentamente a estadia na gruta (de olho no relógio) antes de voltar para a terra do Seu Alcunha. De dia, felizmente, mas sem tempo para conhecer o Paredão (fica para uma próxima refeição).

Seguimos, chegando ainda de dia na Represa do Salto. A descida do vale foi tão impressionante quanto a beleza da região. Montamos nosso acampamento selvagem nas proximidades de uma grande queda - o próprio salto do rio do salto. Os pratos do jantar completaram o dia (pormaisque usemos canecas): macarronada ao fungi com amendoim (moitobão) e macarrão de viagem de sempre (menosbão).

2Palmeira 1 dia 112 km
DIA 2 rio do salto, palmeira, porto amazonas, curitiba

Graças à animação de todos e ao bom tempo que reinava em Curitiba, chegamos ainda de dia, felizes por mais um excelente expedição completada!

Calma, temporizado leitor, o dia não foi tão curto assim. Começar pela última frase poderia bem o uso do tempo “psicológico”, e não “cronológico” (aulinhas do ensino médio), mas foi somente um recurso alegórico. Isso tudo porque, segundo os critérios da ABNT do odois, não se pode iniciar um texto com aquela caixinha amarelinha de diálogo (essa que está logo aí abaixo).

  • Cena: Início de dia, dá-se início à incrível porcaria do Gassner.
  • Algo: schoc, shoac xoach, shoac, shoac, xoach, shoac, shoac
  • Compos do odois: (pensando) Putz, esse Gassner faz barulho, hein? Coitada da mulher dele! Parece que pra acordar o cara sai de dentro de umas 10 sacolas plásticas!
  • Gassner: (pensando) Putz, esses caras resolveram me zoar agora? O que é essa zona que estão fazendo aqui do lado da barraca? Pô, vai tomar no seu alcunha, vou sair logo ver o que esse povo tá aprontando...
  • Gassner: (2s depois, gritando) Caramba... é um porco!, SAIII, SAIIII PORCO, chispa... (odois): hahahahahahahaha!!!

E era, mesmo. Um porco gigante virando sacolas de lixo ao lado da barraca dele (do Gassner, não do porco) e, conseqüentemente, segundo o mesmo (o Gassner, não o porco), comendo a barraca. Pelo porte era praticamente uma vaca, mas com um corpo de porco (só que sem a vaca). E de corpo malhado (o porco, não o Gassner), segundo nosso convidado (o Gassner, não o porco). E o medo de encarar uma porca-vaca malhada? Se pelo menos fosse listradinha...

Passada a porcaria do café-da-manhã (tomamos um leitão!), desacampamos e seguimos para o centro de Palmeira. O clima estava ainda melhor - alegria de uns, tristeza de outros (o du tomou um torrão tal que precisou pedalar todo o dia com blusa de manga comprida sob o sol a pino). Parada na praça para reforçar o café e eliminar o almoço, além de conhecer um pouco dessa simpática cidade - por sinal, bem bonitinha em todos aspectos!

#
Represa do Salto
A represa fica em um vale a cerca de 17km do centro de Palmeira, na estrada que liga a BR277 a BR376. Construída para abastecer a usina hidrelétrica de uma antiga empresa de exploração de madeira na região, a Fapelpa, hoje pertence em grande parte à Trombini. A região é muito bonita e propícia para pescaria, banhos de rio e acampamento. Pouco à frente da ponte rodoviária que delimita a represa há uma grande queda no Rio do Salto, acessível por trilhas paralelas ao rio. O camping por lá é selvagem, não há qualquer tipo de estrutura. Para os mais animados vale seguir acima da represa para ver a rústica ponte ferroviária e os destroços da antiga estação Ângelo Lopes.

Para evitar a monotonia de voltar pela BR toda vida, o roteiro se alongou por caminhos rurais ao sul de Palmeira, tangenciando Porto Amazonas (lembra?). A região é muito boa para pedalar, com um relevo ameno e digerível. Encontramos alguns cicloamigos do Gassner no caminho (no melhor estilo "se tivesse combinado não te achava!"), fazendo algo parecido com o roteiro da ponte dos arcos, só que às avessas. Ainda paramos no recanto dos papagaios (esse você deve lembrar) para falar da receptividade do Seu Alcunha e bolachear (e comer também).

Na descida da serra o Thiago ainda conseguiu a façanha de furar o pneu com louvor (perfurou a fita de proteção - sempre quebrando paradigmas!). Parte da equipe ainda teve pique para almoçar no fim do dia - mas o final, final mesmo, bem, o final você já sabe desde o começo!

Expediente #

Texto e vídeo por Du e Lulis, fotos e filmagens por Lulis e Thiago, frutas secas e porcaria por Gassner.

Pedalado por du, lulis, thiago, arce, gassner.

Publicado em 16 out 2009.