Passo Santana

25 jul 2009 1 dia 108 km

Internamente conhecido como "projeto Votuverava", este passeio era a menina dos olhos do odois nestas férias julinas. Data escolhida para comemorar o aniversário de 1 ano do garagem, trajeto proposto para soltar todas as tiras e tobatear extensamente pelo confins de Rio Branco do Sul, atrativos naturais escolhidos para surpreender, encher os olhos e a estória.

Então, essa era a proposta. Mas no final entramos em tantas furadas, surtando as tiras ao molho frio-chuva-sujeira, que nós só vimos de longe a menina dos olhos, e cheios de remela. Mas nem por isso a estória foi prejudicada, adversidades acabam alimentando bons contos. Então não perca tempo: leia o livro "Passo Santana e a Invasão das Samambaias", versão volkswaginística traduzida do original alemão "Passo Santana mas a Kombi Fuca, digo, Fica".

Começa o dia com a espectativa de chuva, pois chovia. E de frio, pois congelava. Mas havia tempo que não pedalávamos somente com, com, com ponentes, que insistimos em acreditar que melhoraria. Erramos!

Partimos estrada afora, bem contentes, até Rio Branco do Sul. Lá bolacheamos com os cachorros e partimos, molhados, em busca da Gruta de Lancinha pelas estradas de terra e trilhas sem nome da região. Chegamos em uma residência próxima, perguntamos pela gruta e soubemos que tínhamos que voltar. Voltamos. E subimos, e procuramos, e atolamos, e mateamos, e procuramos, e nada. Gruta? Nada. Só buraco de tatu. Nada. Mas nos vamos, porque ainda temos muito que nos molhar, digo, pedalar.

Nota da trilha
Trilha sonora recomendada para leitura: 1) Danzel - Put your tapes in the air; 2) C&C - Everybody tapes out; 3) Kiss - Tapes off; (trilha nota 8: oito, oito, oitopresoaqui).
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Trilha Untitled
A região de Rio Branco do Sul é repleta de áreas de reflorestamento, um cenário perfeito para trilhas - principalmente de jipeiros. Essa trilha é uma boa alternativa para aqueles que vão (de bike, moto ou jipe) para Gruta de Lancinha, partindo da sede do município, e querem ainda mais emoção.

Acesso: Chegando ao centro de Rio Branco do Sul, vindo de Curitiba, siga a avenida principal até o terminal de ônibus urbano. Tome a primeira rua à direita (sobe!), siga por 1km e tome o desvio à direita (foto 8). A trilha termina nas proximidades da suposta entrada da Gruta. Veja o mapa por garantia.

Mais estradas e, então, uma saída quase passa desapercebida - a próxima trilha do dia, já bem escondida. Depois de matear, tobatear, escorregar, ser agarrado pelas samambaias (as de verdade, sem alusões ao funkclore brasileiro), ser loucamente ancorado, arrebatado, amarrado, preso, rasgado e torturado pelas samambaias, cada um dos componentes parou, descansou, quase chorou, e seguiu em frente. Dois passos depois estávamos ainda perdidos, todos sendo novamente agarrados, acaceteados, amordaçados, arranhados, enfim, samambaiados. E as bicicletas não sofreram menos: as peças que não foram danificadas, praticamente devoradas pela vegetação rala (e como ralou!), foram literalmente arrancadas da bike (como o espelho do lulis, o paralama do lulis, o suporte de lanterna do lulis e o próprio lulis).

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Trilha da Samambaia
Se você prestou atenção no nosso relato, já deve ter percebido que essa trilha não existe mais.

Mas a samambaiada uma hora acabou. Acabou com todos nós! E então, compensando toda a imobilidade que nos afligira, agora deslizávamos. E deslizávamos muito, escorregando nas lisas subidas trilhadas. Andávamos tanto para trás, mas tanto, que certamente prestamos uma homenagem póstuma involuntária ao Michael fazendo uma legítima moonwalking trail.

Depois da batalha vegetal, voltamos à estrada. E voltamos com direito a acidente do Arce - uma quedinha, só para alterar as estatísticas de segurança do grupo, mas ficou tudo bem (não é, rapaz?). E teve também corrente arrebentada do Lulis! E pneu furado do Lulis! E corrente arrebentada do Thiago! E corrente arrebentada do Lulis e do Thiago (não é repetição de texto, não, é repetição de fato: as correntes partiram quatro vezes! e alguns elos partiram para não mais voltar!). Problemas decorrentes da situação precária.

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Samambaiar
v.t. (lat. polypodium suffodiant) 1. Ato ou efeito de não poder realizar ato ou efeito algum em função dos atos e efeitos das samamabaias ao redor. 2. Esboçar energia cinética, mas permanecer na estática por forças naturais. 3. Ser loucamente segurado, agarrado, ancorado, arrebatado, amarrado, aprisionado, acorrentado, acaceteado, amordaçado, arranhado, aliciado, almodóvarzeado, bloqueado, barrado, detido, torturado, rasgado, represado, retido, ricocheteado, pobrechateado, preso, chumbado, chapiscado, consumido, pipetado e esporado por samambaias - tudo ao mesmo tempo. 4. Tobatear, só que sem a tobata e com as samambaias.

Já era tarde quando chegamos. Chegamos ao começo da outra trilha planejada, na região de Passo Santana. Não, não havia mais condições. Todos optamos por deixar isso para uma próxima (uma próxima vida, talvez). Começamos a voltar, já entre cansados e desesperados, todas as tiras já soltas de tanto tobatear e samambaiar.

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O Passo Santana
Quer saber mais sobre o Passo Santana? Que coincidência, nós também!

No caminho encontramos um pessoal que também sentiu o drama do dia: uns 10 camaradas em uma kombi, ou melhor, fora da kombi, tentando empurrar e desatolar a bendita VW ladeira, digo, lameira acima. Depois de muito empurra-empurra e pneu queimado, uma sugestão de murchar o pneu, com uma forcinha dos cicloturistas (que, imagine, já nem se encontravam cansados...), foi providencial: a kombi foi! É, foi! E nós ficamos. Ainda mais exaustos, molhados e sujos.

O problema da kombi ficou claro: ela é praticamente um veículo, só que sem a tobata.

Passou a kombi (passo santana também), pedalamos mais um pouco e assumimos que estávamos fritos, digo, ensopados de qualquer jeito. Molhados, paramos para denscansar e comer no meio da estrada (literalmente no meio da estrada). Bolacheamos o que tínhamos e partimos para, ao menos, chegar ao centro de Rio Branco dos Sujos (nós mesmos, esses) ainda de dia.

Ao chegarmos no centro de Rio Branco (rio pra não chorar) estávamos bem: bem molhados! Mas apesar disso estávamos bem: bem longe de casa! Mas apesar disso, ainda estávamos bem: bem cansados! Mas na verdade, no final ainda estávamos bem: tá, tá, estávamos bem ferrados, mesmo! O retorno se foi, com chuva e frio, congelando, com lanterninha onde desse... Chegamos exaustos, tentando lembrar porque sempre esquecemos de como é pedalar em dias frios e chuvosos assim (talvez seja porque as estórias, no fim, sempre acabem sendo divertidas de se contar e ler...).

ATRATIVOS curitiba, almirante tamandaré, rio branco do sul, passo santana, trilha da samambaia

Mapa & Tracks

Expediente #

Fotos e texto por Lulis, comentários e reprojeto (adaptado de Hideson) por Du, ancoramento por Samambaias, parada no santana por Kombi.

Pedalado por du, lulis, thiago, arce.

Publicado em 14 ago 2009.