Rio Manso e Rio Natal

8 a 11 jan 2009 4 dias 318 km

Há coisas que naturalmente consideramos sagradas. Que eu lembre agora, olhando pelo lado odois da vida, viagens de férias são sagradas. Ah, são sim. Aquelas de começo de ano - ô! As de meio de ano, também - ô, ô!

Então. Essa estória aqui é sobre uma das sagradas sagas semestrais do odois: aquela em que saudamos os pedais de 2009 em ascensão. Descemos e subimos serra por estradas de terra, catarinando as estradas de Rio Manso e de Rio Natal. E como subimos. Ô, ô.

Olhe, subimos tanto, mas tanto, que nessa expedição chegamos até a subir a média de idade dos participantes! Por acaso você se recorda, caro amigo leitor, de um nome que pedimos para reservar lá no Vale Europeu? Então. Conheça nosso convidado especial master e entenda porque essa sua desculpinha de não pedalar por causa da idade não cola mais! =)

Mapa & Tracks

Vídeo

1Salto do Engenho 1 dia 110 km
DIA 1 curitiba, agudos do sul, bateias de baixo, campo alegre, salto do engenho

Há que se começar contando: essa expedição deu mais trabalho durante o planejamento do que no ato em si. Foi tanto “vai por lá”, “volta por cá” e “vem pra cá, vem pra cá!” que, no final das contas, todo planejamento ficou tonto e foi substituído pelas alterações de última hora.

A ida já não foi das mais tranquilas: o que esperar de janeiro além de um dia de calor-torra-ciclista? Sempre superando as expectativas, muita água foi pouco para resfriar os ativos cicloturistas nesse dia. O caminho até Agudos do Sul já fora feito no Vale Europeu há tempo-mas-não-muito-tempo. A parte da diversão seria encontrar Campo Alegre no meio da estrada de terra já-não-vista-há-muito-tempo-atrás, Dna. Francisca que nos diga. O sol do meio-dia na localidade de Bateias de Baixo denunciava a necessidade de mais uma camada de reboco de protetor solar.

Uma novidade assustadora que o nosso colega Google Earth não tinha contado: asfalto novo no trecho Bateias de Baixo – Campo Alegre. Uhu! Você quis dizer: um pouco de tranquilidade? Mas é claro que podemos somar intempéries para compensar essa calma, não? Então. O vento abafado se voltou contra nós. Pronto. Calor, asfalto fervendo, muita subida e alguém esqueceu o ar-quente da bicicleta ligado no último.

Mas no fim a gente sempre chega. Nem que seja chegar à conclusão que tá difícil pra caramba. Parada em Campo Alegre para esperar o Arce antes de seguir para o Camping no Salto do Engenho. Peraí, esperar o Arce? Mas ele não está sempre na frente?

A saga do ciclista desconectado
Ele não queria desistir da viagem, mas tinha que trabalhar até meio-dia (arceeupudesse!, dizia ele). Solução paleativa: deixar o arciclista sair depois de todo mundo, pegar carona-de-pai até um trecho e seguir pelo asfalto, encontrando o grupo no meio do caminho, viesse-pelo-lado-que-viesse. Caberia ao restante do grupo fazer contato explicando o lugar o camping. Mas... Na hora H... Quem disse que celular funciona? Foram 3 horas tentando ligar de tudo-quanto-é-jeito pra-tudo-quanto-é-lado e nada de Arce. O grupo parado no pátio de um restaurante em Campo Alegre, esperando um acontecimento Alegre. E aconteceu: aconteceu que anoiteceu e não teve jeito. O jeito foi ir-sem-arce: recados nas casas das famílias de todos mundos e seja lo que Dios quiera!

Seguimos pelo interior de Campo Alegre até atingir o Salto do Engenho. Para nossa alegria ou decepção, encontramos um camping, porém sem sequer um banho. Pô, banho é o básico pra poder chamar de camping! Tudo bem, deixamos isso meio resolvido com uma banho gelado de rio de fim de tarde no Salto.

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O Salto do Engenho
A cerca de 8km do centro de Campo Alegre, o Salto do Engenho é o local mais próximo para acampamento na região. A maioria dos visitantes frequentam-no somente para fazer um churrasco e passar o dia - e justo por isso a estrutura para camping é precaria (até mesmo sem chuveiro). Ainda assim, o rio e o "Salto" em si são muito bonitos e apropriados para um banho.

Acesso: O endereço é intuitivo mas não muito útil: Estrada do Salto, s/n. Há sinalização saindo da rodovia, mas não nas bifurcações da estrada de terra (muito embora reze a lenda que todos os caminhos levam ao salto). É melhor dar uma olhada no mapa ou fazer como o Arce: sair perguntando a partir do centro de Campo Alegre.

A saga do ciclista desconectado – a conexão
Mas e não é que o Arce conseguiu chegar no camping? Não, ele não conseguiu falar com as famílias de ninguéns. Seguiu sua intuição ciclo-farística, perguntando à quem podia se tinham visto três ciclistas sujos, e acabou chegando no camping no meio do nada. Mais sorte do que juízo (e do que sinal de rede, também)!

Depois muito estresse desencontrado, calor e sujeita, barracamo-nos. Afinal, ainda era o primeiro dia de viagem. E tinha muito mais, mas muito mais por vir.

2Estrada do Rio Manso e Parque das Aves 1 dia 79 km
DIA 2 salto do engenho, campo alegre, estrada do rio manso, schroeder, corupá, estrada ano bom, parque das aves

Com tanta bagunça no dia anterior, um café da manhã animado agitou o segundo dia. Logo durante o início da cerimônia recebemos parte do que estava por vir: o ilustre Mr. Heil. Sim, se você leu a introdução dessa história sabe que tivemos um convidado pra lá de especial. Nosso colega cicloturista joinvilense, com seu motor 5.9 de baixo torque (como se auto-intitula), montou seus equipamentos para nos acompanhar em dois dias da saga.

Seguindo o famoso princípio "saída de camping é sempre subida", lá fomos nós para o centro de Campo Alegre. Alguns quilômetros depois e lá estávamos, fotografando uma cachoeira no meio do centro da cidade - vá entender esses catarinas! (ops! Mr. Heil que não nos leve a mal).

Agora, antes de seguir a estória, pense: o que esperar quando alguém diz "o próximo passo é descer toda a bela serra do rio manso!"? Subida que não é, certo? Errado. Mais uma vez os catarinenses pregaram uma peça no odois (se tivessem pregado um freio não tinha segurado tanto...) e colocaram uma baita subida desde a cidade de Campo Alegre até o início da tal serra. Foram pelo menos 200m de ascensão - e, creia, isso cansa qualquer um que esperava descer uns 700m...

Nota sobre o motor 5.9
Contesta-se através dessa nota a especificação do fabricante que informou que o motor apresentava o baixo torque. Essa informação foi completamente refutada nos testes de campo (alegre).

E a descida? Ah, agora sim. Também, do alto da serra tudo é descida, pra tudo quanto é lado! E como desce! Desce de parar para descansar os braços...

O rio (que de manso não tem nada) começa a acompanhar a estrada e vice-versa. Em dado momento alguém resolve dar uma parada para olhar o tal rio (olhar de dentro mesmo, pra molhar). Qual seria o melhor lugar? Qualquer um, claro. "Isso inclui essa capelinha?" Humn... será que uma capelinha quer dizer "o rio está próximo" ou "só por milagre pra chegar ao rio"? Paramos e descobrimos: quer dizer os dois! Dali, uma trilha íngreme leva até a base de uma cachoeira surpreendente, daquelas que ficam na capa dos guias turísticos locais. Jamais encontraríamos se a estivéssemos procurando, mas no susto, por trás da capelinha, descobrimos um ótimo local para reforçar o precário banho de ontem.

E é claro que desce muito, muito mais. Os paredões da serra comprovam a forte ligação de Corupá com cachoeiras. Ok, se você está politicamente atento não estamos em Corupá e sim, em Schroeder. Mas não importa, é tudo meio junto (os corupistas e schroederistas que me perdôem).

O fim da serra representou a conquista de uma etapa. E só. Muito mais estava por vir, e muito pior... O calor da planície começou a desgastar demais. Muitos foram os quilômetros até parar em Corupá, na casa de velhos amigos do du (ex-chefona). Dava até vontade de rir, mas o desgaste era muito grande. E ainda faltava um trechinho - de subida, é claro.

Foram mais 200m de ascensão na Estrada de Rio Natal. Chegamos ao antigo ranário, hoje Parque Natural das Aves, já no município de São Bento do Sul. A estrutura do camping realmente nos surpreendeu: tudo muito limpo, grande e organizado, a um preço módico. A chuva começou forte logo em seguida. O negócio era dormir mesmo. Mas antes, para comemorar a presença especial, na janta, uma especialidade do odois: macarrão ao molho fungi (só que sem o fungi).

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Pq. Natural das Aves
O Parque se situa na localidade de Rio Natal (no município de São Bento do Sul), no coração da APA Rio Vermelho - Humbold. A estrutura do parque é baseada em sete programas sócio-ambientais, sendo eles: trilha de borboletas, dos pássaros, dos pomares e contemplativa; auditório-escola, pousada ecológica e camping.
O camping oferece completa infra-estrutura para os campistas que desejam tranquilidade junto à natureza: quiosques junto ao Rio Natal, galpão coberto para refeiçoes ou dias de chuva forte, cozinha com fogão a gás e geladeira, chuveiros/banheiros.
Boa estrutura, paz e beleza natural - e o valor cobrado para acampamento é praticamente simbólico. Pra que mais?

Acesso: Via Corupá (é só perguntar sobre o próprio parque ou seguir na direção de Rio Natal Fundos) ou via São Bento do Sul (seguindo até a localidade de Rio Vermelho, é só seguir a orientação anterior).

Fontes:
Wikipedia
Odois

Contato: (47)9115-8609 ou (47)9115-8550.

3Estrada Rio Natal 1 dia 61 km
DIA 3 parque das aves, estrada do rio natal, são bento do sul, agudos do sul

Subiu.

É, bem assim. O parágrafo anterior resume 80% do dia de hoje. Subiu. Mas, olha, penou. Partiu do parque das aves e penou. Mas partiu tão bem que até a corrente do lulis partiu. O arce conseguiu sacanear a blocagem e furar dois pneus, mas sacanagem mesmo era a subida. Estávamos em um buraco e não subíamos - digo, não sabíamos! Porque subir nós subíamos, sim! Nesse dia esse povo subiu. Ah, subiu.

Subir a estrada de rio natal não é fácil. Pra ninguém. Nem o bom velhinho (o Noel) teria rena, anão e trenó suficiente para subir essa estrada com tranquilidade. O nosso bom velhinho (outro, não o Noel) subiu a questionar quem era o autor daquela presepada...

Mas, como diz o outro (como diz o outro é como o bom velhinho (o outro) diz que alguém já disse isso), tudo que sobe tem que descer. E então nós descemos: descemos da bicicleta e empurramos. Empurramos as bicicletas, empurramos uns aos outros - olha, empurrávamos até o ânimo e as piadas na tentativa de disfarçar a subida. O clima até estava ameno, mas as subidas não. Então fazíamos: subíamos.

Subiu.

Paramos no mirante do alto da serra um bom tempo. E saindo do mirante do alto da serra a gente subiu, por mais absurdo que pareça. Quando terminamos a estrada de rio natal estávamos tão jingle bells que já pensávamos em pedir água. Então pedimos, tomamos e seguimos. Digo, subimos.

E, depois de muito subir, nós subimos mais um pouco, até São Bento do Sul. Na periferia da cidade subimos, nos bairros subimos e no centro subimos também. E para chegar à casa do Ricardo, sobrinho do Mr. Heil que nos esperava com a família de portas abertas (e pratos fartos), subimos uma derradeira ladeira legítima, de fazer cicloturista divagar na vida que roda e na roda que vira devagar...

Subiu mais.

Um farto banquete e muita conversa boa depois, a preguiça queria bater (mas nós não deixamos bater porque já tínhamos apanhado o suficiente das subidas). Deixamos Mr. Heil em boas mãos e partimos.

Nesta altura da viagem (imagine a altura, depois de tanto subir) já havíamos alterado o roteiro, nosso destino agora era "tão perto quanto possível de casa". Certamente que iríamos à Piên - se fosse possível chegar em Piên. Então acabamos em Agudos do Sul. Nos acomodamos em um dormitório, banhamo-se-me-los (cada qual a si mesmo) e fomos comer uma pizza - uma pizza que demorou tanto pra chegar, mas tanto, que chegamos a pensar que o motoboy vinha pela estrada de rio natal. De rena.

4Noite agitada 1 dia 68 km
DIA 4 agudos do sul, curitiba

O resultado da inteligente alteração do roteiro foi um quarto dia mais tranquilo, sem grandes responsabilidades absurdas quanto às metas de horário. Até que essa história de aliviar o último dia tem dado certo, vide Vale Europeu.

Agora cá pra nós, um diazinho assim sem nenhum emoção, é possível? Claro que não. Se o dia começa as 0:00h, lá pelas 3:00h um colega das estradas, daqueles que pilotam veículos grandes de carga, começou a choramingar no celular porque a mulher não o queria mais...

Cena 1
(divisórias do dormitório de madeira fina; cicloturistas exaustos espalhados aleatóriamente pelo chão em dois cubículos; no terceiro cubículo um homem, entre choroso, bêbado e desesperado, fala alto ao celular): "ôamô, nufalassim cumigo, eunumtôbeudonão, nufazassim cumigo, ôamô, falassimnão, ôamô, numemaltrata ansim, falassim queu numqueromais vivê, numfalassim cumigo, euvôsimatá, ôamô, sôvagabundonão, numfalansim, ôamô, miperdôa ôamô" (cicloturistas viram, retorcem-se, enfiam o travesseiro na orelha (deles mesmos)) (repetir ciclicamente a cena e o monólogo durante duas horas).

Fora esse episódio bizarro, a emoção do dia foi mesmo a chuva. Acordamos umas 6:30h e um temporal lavava a cidade lá fora. A vontade de sair era grande, mas não tinha como (só se fosse de snorkel). As horas foram passando, até que 9:30h a chuva deu lugar pra uma garoa safada. Pra aumentar a emoção do retorno, aquele ventinho contra que incomodou no primeiro dia voltou nesse, só que dessa vez nem tão quente. Pedalamos e chegamos. Agora não tem muito mais. Mais, mesmo, só quando tiver mais =)

Serviços #

Dormitório Posto Milcheski. Av. Pres. Getúlio Vargas, 200 - Agudos do Sul - PR. (41)3624-1431.

Expediente #

Roteiro por Du, texto e comentários por Du e Lulis, fotos por Lulis e Heil, filmagens por Thiago e Heil, videomaking por Du, participação especial por Heil, Heil por Heil, todo o resto por Tobata.

Pedalado por du, lulis, thiago, arce, heil.

Publicado em 19 jun 2009.