Serra Dona Francisca
Optamos por um trajeto reduzido: pulamos São Bento do Sul, já visitado na viagem à Corupá, e privilegiamos um atalho de saibro (nem bem conhecido, nem bem registrado), passando por Bateias de Baixo. Com os cálculos em mãos avaliamos: uns 180km, com margem de erro deve render pelo menos 200km... Ilusão: depois da aventura descobrimos e comprovamos a lei da supremacia errática marginal...
- Lei da Supremacia Errática Marginal
- "Absolutamente TODO cálculo de distância está sujeito a erro e, reincidentemente, TODA margem de erro aplicada em correção de cálculos de distância sujeitará o resultado a erro e assim por diante, por mais que não adiante, indefinidamente."
- A lei representa a impossibilidade de estimarem-se percursos com precisão, uma vez que qualquer total corrigido pelo acréscimo de margem de erro deverá ser novamente, ao final, acrescido por uma margem de erro. Dado isso, recomenda-se a não utilização de fatores de correção para não alongar ainda mais os trajetos pretendidos.
Depois do trajeto tranquilo até Agudos do Sul, muitas perguntas levaram-nos aos infindáveis e inevitáveis sobe-e-desce propiciados pelo "atalho" tomado. Parece que todo atalho é um trajeto mais curto, mas nunca é um caminho mais fácil...
Atingida a SC301 - enfim! - ainda nos restava um bom trecho até o início da serra almejada. Exploramos com sedenta euforia uma bica na beira da estrada, ajudados por outros dois ciclistas que encontramos desidratando por lá. Depois de alguns sobe-e-desce (parece que em Santa Catarina não se respeita muito a conotação física do pleonasmo "descer para baixo") alcançamos afoitos a tão esperada serra!
- A Serra Dona Francisca
- A Serra Dona Francisca, localizada na região dos mananciais dos rios Cubatão e Piraí, foi decretada Área de Proteção Ambiental (APA) pelo município de Joinville em meados de 1997. Detentora de imensa biodiversidade, belezas naturais e paisagens absorventes, a APA é cortada por uma estrada que lembra, em muitos trechos, a serra da graciosa e a do rio do rastro: muitas curvas fechadas, em ângulos por vezes além dos 180°, completando o desnível de aproximadamente 600m em 11km de extensão. A rodovia, outrora considerada perigosa em função da má qualidade do asfalto, passou por um projeto de reformulação e reconstrução concluso em 2002. As obras incorporaram, além de recapeamento e medidas estruturais, providências para o incentivo à visitação turística, como mirantes e trilhas para cachoeiras.
Embasbacados com a depressão absurda do vale e com as inúmeras curvas - aparentemente dispersas em todos os lados, ângulos, vértices e faces possíveis - iniciamos a descida da Serra Dona Francisca. Salvo paradas no mirante e na cachoeira, a atenção se dividia entre observar a rara beleza da serra e segurar a bicicleta nas velozes curvas acentuadas.
Finda a serra, tão breve quanto íngreme, uma olhada para trás mostrava a grandiosidade do degrau que separa a planície litorânea do primeiro planalto... Despedimo-nos: longos caminhos planos nos aguardavam. Brindados com as clássicas e exageradas chuvas torrenciais de verão, nosso dia encerra-se com as dores dos excessos (de exercício, de água com vento, de frio) e a alegria das faltas (falta de noção, falta só mais um pouquinho... =)