Salto Morato
Nem atordoados nós sossegamos! Mesmo depois do triste adiamento do Projeto Contestado o grupo não desanimou: iniciamos 2005 realizando a aguardada expedição à magnífica Reserva Natural Salto Morato.
Seis dias em uma viagem imersa na mata atlântica - ou melhor: submersa. Chuva, chuva, chuva! Água de todo tipo, intensidade, visibilidade, direção e coloração! Descemos lentamente pela ensaboada estrada da Graciosa (PR410), quase desisitindo diante de tanta água no primeiro dia. Persistimos: atravessamos a precária estrada de Guaraqueçaba (PR405) com a nítida impressão de que todas bicicletas implodiriam-se, de dentro pra fora, a qualquer momento. Mas, enfim, tão alegres quanto aliviados e molhados, chegamos à Salto Morato no terceiro dia.
- Reserva Natural Salto Morato
- Se você não entendeu e ainda está se perguntando "Por que vocês viajaram pra lá?", "Por que o Morato pula?" ou coisas do gênero, a gente explica: A Reserva Natural Salto Morato é uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) localizada dentro da APA (Área de Proteção Ambiental) de Guaraqueçaba, área considerada pela Unesco como patrimônio natural da humanidade. A Reserva, mantida pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, protege parte da biodiversidade da Mata Atlântica e oferece infraestrutura para recepção de pesquisadores e visitantes. Os turistas são atraídos pela beleza imponente dos 130m de quedas d'água do Salto do Rio Morato, pela surpresa da Figueira que forma uma ponte natural sobre o Rio do Engenho e pela exuberância paradisíaca da mata local. Para mais informações visite a página da Reserva Salto Morato no site da Fundação Boticário.
Bem recebidos e instalados, reservamos um dia para visitação da Reserva. Ao fim deste dia adentramos as barracas com olhos extasiados pela exuberante beleza local, a mente impressionada pela imponente supremacia natural, a alma pacificada pela magna natureza original e os pés repletos da onipresente água pluvial... No quinto dia pedalamos até Guaraqueçaba, simpática cidade de onde literalmente embarcamos para Paranaguá. Recebidos festivamente em nome da ABCX, partimos para Curitiba no dia seguinte, serra úmida acima, através da velha conhecida BR277.
Capítulos
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1Cacatu 1 dia 83 kmDIA 1 curitiba, antonina, cacatu
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2Rumando para Porto Tagaçaba 1 dia 37 kmDIA 2 cacatu, porto tagaçaba
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3Serra Negra 1 dia 29 kmDIA 3 porto tagaçaba, serra negra, salto morato
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4Cachoeiras e Figueiras 1 dia 3 kmDIA 4 salto morato
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5Friends 1 dia 20 kmDIA 5 salto morato, guaraqueçaba, paranaguá
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6Sobe 1 dia 83 kmDIA 6 paranaguá, curitiba
Independente da previsão do tempo, desta vez não faltou aviso: duas quadras depois de iniciada a viagem (duas mesmo, sem mentira) desenrolavamos a lona que nos abrigaria da primeira chuva torrencial...
Prosseguimos pedalando sob chuva fina, chuva não-tão-fina e chuva nem-um-pouco-fina, pois quando passava disso parávamos providencialmente (malucos sim, mas não imbecis ou impermeáveis). Desta forma percorremos a BR116, descemos lentamente pelos lisos paralelepípedos da Estrada da Graciosa (PR410) e prosseguimos pingando até o primeiro destino desta viagem: o Recanto do rio Cacatu, município de Antonina, marco na historia do odois Expedição como objetivo da primeira viagem do grupo.
Desmonta apenas a carga molhada (até porque não tem mais carga seca), monta acampamento dentro do quiosque (pois acha que ali não chove), pendura pra secar tudo o que consegue (os varais, improvisa com as cordas), prepara o ensopado jantar (inaugurando seu fogareiro a álcool), toma banho frio e vai dormir (sonhando com dias mais secos). Assim é o cicloturista do fim deste primeiro dia, meio desanimolhado.

parada em posto da br116 para secar os componentes (ha!)

fugindo da chuva (ha!) na posto policial da graciosa

conhece pista derrapante quando molhada? olha e imagina

a mata da serra vista por uma fresta da mata da serra

thi cocoon claramente tentando abduzir os companheiros

graciosa, de curvas belas e perigosas... a estrada, a estrada

tentamos até encapar o ciclista, mas mesmo assim molhou

desça a serra da graciosa com o odois - só cuide com a pista lisa
Uaaahnn, acordamos todos meio doloridos - ou melhor, meio grupo acordou todo dolorido, afinal o arce e o bruno dormiram no chalé (bônus!). Finda a noite, mas não a chuva... Passamos a manhã cogitando a possibilidade de cancelar a viagem e voltar mais cedo pra casa.
A acolhida generosa no Recanto Cacatu proveu tempo para um almoço, digo, dois almoços diferentes. Um almoço conhecemos no café da manhã - tá ficando confuso, né? Vamos parágrafo por aqui para explicar.
Tio da Limpeza: simpático tio da limpeza que contou muito sobre como enche o rio cacatu, como é primitivo o exame psicotécnico, como tagaçaba é longe e sobre como dá dinheiro plantar banana no litoral, mesmo que se venda a preço de banana.
Almoço A: Risoto com salame, iniciação do arroz no odois!
Almoço B: Mas conhecido como Mosso, Au Mosso. Mascote adotado durante as indagações sobre como encorpar o risoto. Ficamos com dó e ele acabou comendo a casquinha do salame, razão pela qual ganhou o apelido secundário de tripa-seca. Não conseguimos o seu telefone, apenas uma foto (troféu simpatia da viagem). Redirecionaremos os e-mails para o fã-clube - Saudades, AU!
O lulis notou seu pneu dianteiro da bicicleta murcho e trocou com tanto capricho, mas um capricho tão especial, tão especial que demorou uns 20 minutos nessa operação simples. De tanto orgulho, inspirado, foi preparar o almoço (o risoto, o risoto). Enquanto isso o bruno substituia novamente a câmara de ar da bicicleta do lulis, fazer o quê, cada um na sua (mas com alguma coroa em comum).
A chuva persisitia após os almoços, mas não tem porque fazer muito mais drama porque você certamente já percebeu que a viagem não acabou no 2º dia (percebeu, né?). Decidimos continuar a viagem pois consideramos que águas passadas não molham o ciclista e, afinal, a chuva teria que cessar mais cedo ou mais tarde (ou muito mais tarde...).
Não muito decididos partimos, no meio da tarde, para Tagaçaba. Algum asfalto e, enfim, a estrada de guaraqueçaba! Saibro terra areia lama e, certamente, muita água... Subidas e descidas infindáveis, retas não menos infindáveis e avarias indecifráveis nas bicicletas... Uma verdadeira sinfonia de ruídos estranhos oriundos das regiões mais recônditas das nossas bicicletas, algo entre uma matilha de pipoqueiras selvagens e uma moenda artesanal pré-colombiana. Pedalando e molhando e ouvindo a canção!
Desespero desespero e belas vistas seguidas de desespero, acabamos em Tagaçaba ao anoitecer. Encontramos uma pousada: acampamento, banho quente, janta, piadas do júnior (filho da dona da pousada, piadista que só ele - conhece aquela do michael jackson?) e sono - mas hoje é todo mundo de barraca!

olha a estrutura do odois no cacatu, tá dominado, tá tudo dominado!

grande au mosso! e aquele berne, au, tá melhor?

arce na cerimônia de lavação da bike no cacatu

foto completamente cacatu em homenagem a 1ª viagem

agora sim, esse é o nosso terreno...

tagabagaça- bagaiaçaiada, aí vamos nós!

ponte tão importante que o rio faz volta pra poder passar embaixo

ninguém disse que seria fácil, limpo ou mesmo seco...

tudo que sobe tem que parar pra descansar antes de descer

e quando começa a descer, desculpa aí, sai da frenteeee

filosofo-ciclo-poesia: bikes observando o caminho percorrido

ciclistas reparando a tragédia resultante da filosofada

sentiu minha falta? então se consola com a paisagem...

o mais triste é que ele saiu da pista na hora da foto...
Agora sim, todo mundo inteiramente quebrado! Passamos a noite seguros, vigiados pelos cães de guarda da pousada - batizados por nós de jantar e desjejum matinal. Aliás, sabe o que é verde e branco por fora e vermelho e preto por dentro? É a melancia, júnior, a melancia...
Com a luz do dia (não, sol não, mas amanhece assim mesmo...) pudemos observar melhor a estrutura da Pousada Araribá, e agradecer por contar com tanta sorte apesar da chuva. O excesso de água já não perturbava mais nosso humor aquoso, o praticamente impermeável humorlhado.
Desmonta acampamento, almoço alternativo (não, não: aquele ficou no cacatu) na base do sandubão com direito a queijo quente. Lavagem e lubrificação das bicicletas para ver se elas aguentam. O passeio ao mercadinho de tagaçaba rendeu de margarina a pneu e paralama de bicicleta (versátil, não?). Mas, antes de partir, você sabe o que é branco por fora, preto por dentro e come criancinha? Essa é aquela do Michael Jackson, júnior, é essa...
As fotos podem falar pela estrada mas nenhuma representaria, por mais bela que seja, a sensação da vista da baía de Guaraqueçaba a partir do mirante de Serra Negra. Mais terra e, enfim, uma entrada para Salto Morato! Preocupados com a condição aparentemente tão molhada da estrada, percorremos o trajeto restante desviando das inúmeras poças.
Êêê, vitória, todo mundo em salto molhatooo!!! Bem recebidos e impressionados com a estrutura de camping da reserva, repousamos nossos traseiros calejados antes de montar acampamento novamente. Banho de rio fedido no ciclista, banho de chuveiro frio na bicicleta, banho de tanque nas roupas e banho (denovo) de chuveiro quente no ciclista! Agora vamos dormir que amanhã é dia de visitar a reserva...

olha que bonito o ancoradouro da pousada araribá

tem uma casa escondida no meio desse verde todo aí

lulis pai de santo incorporando a tia nastácia costureira

olha a gente comendo - viu, mãe, tinha salada de alfarce!

porto tagaçaba - olha o ghandi ali no meio! ghandi arce!

lá vamos nós... adivinha se tinha lama, tenta, vai

a ponte é legal, mas impressiona a montanha sem nuvens

olha a lama ali ó lá! adivinhão!

que tipo de medo bate quando o tempo fica assim?

olha a verticalidade gótica desse bosquisito

cansamos. opa, opa, quase não saí na foto, hein!

só pra ter idéia, porque tava pior, beem pior...

panorâmica linda do mirante de serra negra

olha a baía de guaraqueçaba em destaque aí, gente

quase na entrada para a reserva, com montanha e nuvens

estrada molhata e o salto morato no fundinho (da foto)

central de camping salto morato, qg temporário do odois, boa noite
O quarto dia foi diferente. Não que não chovesse, isso é claro, mas foi um dia sem pedalar: dia de visita à Reserva de Salto Morato.
Começamos recolhendo a barraca do arce que sofreu com alguma infiltração da chuva noturna. Acertamos os detalhes técnicos na recepção e conhecemos um pouco mais da reserva no centro de visitantes. Pela trilha bem definida chegamos ao imponente Salto Morato, cuja beleza pode ser esboçada nas fotos abaixo. Algum banho de rio e voltamos para o camping.
À tarde percorremos a trilha bem conservada que leva a figueira em ponte acompanhados e muito bem informados pelo estagiário futuro biólogo cicloturista Fabiano. Além das peculiaridades da fauna e flora local recebemos uma verdadeira aula sobre o processo de regeneração da mata atlântica que ocorre naturalmente na reserva. Fica a promessa de uma passada do odois em Navegantes (SC) para uma visita ao dedicado guia que nos levou mesmo sob chuva...
Anoitecer de manutenção nas bicicletas, mesmo sabendo que ainda havia alguma estrada ruim. Guardamos tudo como na noite anterior: tudo sobre uma mesa e lona preta amarrada em cima pra nehuma jaguatirica dormir no meio dos nossos alforges! Se bem que o thi jura que ouviu passos ao redor da barraca à noite...

a ponte pênsil-que-é-fácil no caminho que leva ao salto

chegando, deslumbrados, ao salto morato

dá uma olhada na desproporção dessa cachoeira...

mas não é o odois no pé do salto? aêêêê!!!

esse é o topo da foto anteiror, não coube tudo...

quem vê até pensa que estavamos com medo de nos molhar...

mais uma tentativa de capturar a queda inteira

uma foto beeem de perto do pé com direito à tudo embaçado

olha a gente na água, banho de descarrego na cahoeira

essa noite não chove na barraca do arce...

o arçassino e o corpo (de arcessórios) sob a lona

a figueira que atravessou o rio atrás de suas raízes
Acordamos assustados ouvindo o grito do jacu. E não era ninguém do odois, era um legítimo jacu da região. Sempre esperando a chuva passar (nem que seja passar e dar um oi), desmontamos tudo e partimos. Nos despedimos da equipe e tomamos o rumo de guaraqueçaba. No caminho advertiram-nos de que a travessia seria mais cedo do que esperávamos...
Sabe aquela estrada do 3º dia, a "aparentemente molhada"? Então, conhecemos o conceito de "completamente molhada". Água no pneu, na roda, nos pedais, nos tênis, ops, desmonta e carrega a bicicleta, putz, água na cintura no meio da estrada! O rio morato literalmente desviou o seu leito e seguiu a estrada... Foto nem pensar, afinal a câmera já estava com a lente umidecida (também pudera).
Depois da travessia sem barco e de mais alguma estrada de terra, enfim, guaraqueçaba. Mal chegamos e fomos recepcionados pelo simpático Telmo, que nos auxiliou no tour pela cidade (aqui começ.. e ali é o porto, acabou), acompanhou no almoço no Restaurante Barbosa, e acessorou na negociação com o Seu Zinho, que nos transladaria até Paranaguá.
O barco partiu às 14h e, depois de 2h30min de travessia, chegamos ao porto. Fomos informados da recriminação que sofre Seu Zinho por não ceder ao monopólio local de transporte hidroviário, na realidade nem mesmo a prefeitura mencionou o translado das 14h efetuado pelo friends. Manifestamos aqui nossa indignação e deixamos como sugestão aos visitantes: Guaraqueçaba - Paranaguá é às 14h!
Em Paranaguá fomos recebidos calorosamente pelo Sr. Rubens Filguth e sua esposa Marlene, em nome da ABCX - Academia Brasileira de Cultura e Xadrez, parceria realmente incentivadora do odois. Depois de um apetitoso e animado churrasco repousamos, bem como não fazíamos há dias, graças a hospitalidade de nossos anfitriões.

formação para a partida do local de camping

a equipe de salto morato, melhor uniformizado que o odois

uma pequena noção datravessia da estrada-rio morato

olha só, o odois embarcadinho no friends

e guaraqueçaba ficou para trás...

e essas outras ilhas também...

quase chegando no ponto final da linha

o mangue, pra quem não conhecia...

mr. zinho and arce, friends

nossos simpáticos anfitriões em paranaguá, e salve a abcx!
Então, encerramento da viagem. Com chuva, é claro. Depois de um belíssimo café da manhã (os bolos da Marlene, humnnn!) despedimo-nos com algumas boas risadas, responsabilidade do sempre espirituoso Rubens. E partimos, afinal, hoje é dia de maria!
Subimos a serra do mar pela costumeira BR277 e, mesmo com as juntas, vértebras e traseiros rangendo mais do que as nossas bicicletas, tivemos ânimo de levar um cacho de bananas (comprado a 1 real, como é que o tio do cacatu quer ganhar dinheiro?) no cargueiro do lulis, é claro...
Chegada molhada e, novidade, ponto final da viagem na casa do Thi! Despedidas e abraços com toda cara de "quero minha cama", depois de tanta água só nos resta pensar que somos brasileiros e não desistimos nunca. E nos secar. Mãe, uma toalhaaa!!!
Serviços #
Recanto Cacatu. O recanto conta com diversas churrasqueiras, chalés, acesso ao rio cacatu e piscinas com tobo-águas invejáveis. Fábio - (41) 9609-8209.
Pousada Araribá. PR045, Porto Tagaçaba. (41) 3414-1139. mais informações.
Pousada Brisa do Mar. Apesar de não nos hospedarmos, ele foi muito legal em nos receber e arranjar o barco e um lugar para nós almoçarmos. (41) 3482-1493.
Restaurante Barbosa - (41) 3482-1248, à beira mar.
Travessia Barco Friends, do Sr. Zinho (41) 3423-5857, muito conhecido na região e com certeza um dos mais recomendados na atividade.
Expediente #
texto por Du e Lulis.
Pedalado por du, lulis, bruno, thiago, arce.
Publicado em 6 mar 2005.