Guartelá
Esta viagem é a realização do primeiro sonho do odois. Um projeto que pareceu utópico pelas grandes proporções e desafios - como a longa distância, o trajeto alternativo pela rodovia do cerne, o desconhecimento das condições das estradas e pouso - mas que resultou na mais completa e gratificante viagem do grupo até então - tá, foram poucas até então, mas valeu a intenção!
Partindo de Curitiba, pela rodovia não asfaltada do cerne, rumamos ao Parque Estadual do Guartelá, em Tibagi. Voltamos por Ponta Grossa, totalizando 5 sofridos mas divertidos dias de viagem até o retorno à Capital.
Capítulos
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1Primeiro Cerne 1 dia 95 kmDIA 1 curitiba, bateias, abapã
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2Serra acima 1 dia 92 kmDIA 2 abapã, castro, tibagi
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3Cânion Guartelá 1 dia 43 kmDIA 3 tibagi, cânion guartelá
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4São Damázio 1 dia 110 kmDIA 4 tibagi, são damazio, castro, ponta grossa
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5Miojo de Caneca 1 dia 115 kmDIA 5 ponta grossa, são luiz do purunã, curitiba
Partimos cedo de Curitiba rumo à vila de Abapã, via estrada de terra - Rodovia do Cerne (PR-090). Esta rodovia foi a primeira do estado do Paraná, utilizada antigamente para o escoamento da produção de café. A primeira parada foi na igreja de Bateias, até aqui tudo tranquilo, até fácil demais.
Através de pesquisas tinhamos a consciência de que até chegar em Abapã teríamos que subir a serra que divide a planalto que compreende Curitiba daquele iniciado em Ponta Grossa - o que não sabíamos é que seria tão complicado. Chegamos a parar e ficar cerca de 2h em uma mercearia no meio do caminho, fugindo do sol. Dali em diante foi um trecho muito crítico, só chegamos na vila ao anoitecer, mortos de cansaço, e acabamos por acampar no galpão semi-coberto da igreja local.
O verão paranaense estava muito instável (como se não fosse sempre assim) e sofremos as consequências disso na pele. Durante a subida a chuva começou a cair sem aviso prévio e, como a estrada é meio deserta, abrimos uma das nossas lonas, abrigando-nos (em 4) junto com as bikes. Penamos um bom tempo pois corria água morro abaixo justamente na encosta onde ficamos. Ao final tudo certo, exceto por algumas dores nas costas...
Em outro trecho, quase chegando em Abapã (10km), a chuva voltou a cair mas, por sorte, dessa vez encontramos uma casa abandonada. Uma calamidade, totalmente podre, caindo aos pedaços, mas ao menos nos rendeu risos e descanso.
Na chegada ao galpão da igreja, no caso, o nosso local de pouso segundo melhores indicações locais, o único objetivo era montar a barraca e descansar. O local estava coberto somente pela metade, em construção - ficamos na parte coberta. A chuva começou e, ao contrário da proteção que pensávamos ter, havíamos montado a barraca no lugar em que empoçava a água da chuva que escoava da parte descoberta do barracão. Conclusão: o du e o cheps durmiram úmidos (entenda, caro leitor, que a cena compreendia a entrada de água pelos buracos da barraca, eu disse, da barraca, tornando o espaço úmido e, portanto, os componentes ali inseridos também) no cantinho da barraca, o bruno em cima de uma tábua do lado de fora e o lulis em cima da lona, abraçado com um morro de terra.
Após uma noite terrivelmente mal dormida (chegamos a cogitar ser a última da viagem), acordamos com muita lama, mas tempo bom e um sol que nos motivou a continuar! Tomamos banho no banheiro do bar/restaurante da cidade, sendo o nosso café da manhã os marmitex que não pudemos buscar na noite anterior devido a chuva.
O caminho até Castro era apenas lavoura, algo que nos tranquilizou, pois o terreno é muito menos acidentado.
A 10km de Castro o pneu do Lulis estourou - até trocamos com nosso kit-remendo mas ao encher percebemos que estava saltando uma bolha no lado do pneu, e concluimos: o pneu estava cortado devido ao peso excessivo (alforjes + barraca + lulis...). Teríamos que fazer um manchão (uma reforço na parte interna do pneu para reter a câmera) mas, o que colocar? Não tínhamos nenhum pedaço de pneu velho para fazê-lo como comumente se faz, então, o Du lembrou de algo que vira na internet: utilizar um cartão telefônico. Pronto! Colocamos a roda felizes até descobrir que o eixo furado estava partido, mas deveria suportar até Castro. Chegando lá rodamos até encontrar uma bicicletaria decente, fizemos o manchão com pneu e trocamos o eixo por um maciço.
Almoçamos no parque (pausa para mais uma chuvinha) e partimos rumo ao Guartelá - o presumido destino final. Chegamos a perder mais 1 hora esperando a chuva (que não veio) sob nosso melhor ensaio de proteção por lona e prosseguimos. Após sofrermos um pouco subindo a escarpa devoniana fomos agraciados com o brando relevo do planalto.
No cair da noite chegamos à entrada e, devido a novas restrições do parque, fomos providenciar um camping nas cercanias. Como estava muito tarde, e nada interessante por perto, após reunião relâmpago sob relâmpagos ameaçadores, decidimos fazer uma sessão "Night Bikers" até Tibagi e procurar uma pensão.
O trecho foi muito divertido devido ao relevo - praticamente apenas descida por 17 km. Chegando lá, após muita conversa, indicaram-nos o "Pouso Municipal" pra tentarmos abrigo. Conversamos com o vigia e conseguimos, além de cama, banho quente e um grande alívio comparado à noite anterior.
Acordamos, juntamos nossas coisas e seguimos para casa da Aixa, uma amiga da Marcelle (irmã do du/lulis) em Tibagi mesmo. Chegando lá sua mãe, Dnª Olimpia, nos recebeu muito bem e presenteou-nos com um almoço delicioso. Ficamos conversando até 13h e deixamos as bagagens ali mesmo, pra não carregar até o parque.
Passamos a tarde conhecendo e apreciando o parque, conhecendo um pouco mais da belíssima paisagem. Tomamos banho de chuva embaixo de ponte e banho de rio (de cueca) em um dos arroios do Rio Iapó. O mesmo Iapó que, ao longo de séculos, foi o responsável pela modelagem do relevo espetacular do cânion.
Voltamos para Tibagi antes de anoitecer e conseguimos novamente autorização para dormir no pouso municipal. Até tomamos café da tarde na Dnª Olimpia e, exaustos, fomos dormir.
Partimos após tomar café no recanto do arroio da ingrata, limite de Tibagi. Voltando, passamos a entrada o parque e, no caminho, antes de seguir pra Castro, decidimos passar em "São Dama".
Para nossa surpresa o lugar era ainda mais fantástico que o próprio parque do guartelá. Ficamos um bom tempo tirando fotos e desfrutando da imensa e paradisíaca beleza do local.
- Faz. São Damazio
- A Fazenda São Damazio, conforme indicações de guias do parque guartelá, abriga a continuação do cânion do rio Iapó. Os proprietários, Frederico e Herta, recebem os turistas com ótimas histórias sobre o local, cobrando pequenas taxas para visitação, camping e mesmo café da manhã colonial. Foi considerado para nós, de beleza maior que a própria unidade de conservação.
Contato: Dna. Herta e Sr. Frederico Zens. (42) 9961-3040 / 9981-1874.
Seguimos para Castro cerca de 11:30h. Esse trecho foi dificultado por causa do sol à pino, realmente muito forte. Na cidade almoçamos e deitamos sob o abrigo de um restaurante, descansando e aguardando a repentina chuva torrencial passar. Saímos atrasados, cerca de 18h, com destino à Ponta Grossa, parando apenas na praça de pedágio de Carambeí e em mais uma troca de pneu do Lulis.
Acabamos por nos perder dentro de Ponta Grossa, errando a entrada secundária, e perdendo ainda mais tempo. Tínhamos como objetivo chegar na universidade (UEPG) ou no quartel (13ºBIB) para procurar abrigo pois anoitecera e não conseguiríamos acampar. Não tivemos sucesso e seguimos para o centro, onde jantamos na garagem do módulo policial em frente ao terminal de ônibus.
O Du e o Lulis foram novamente em busca de pouso, desta vez, no serviço social da cidade. Fomos todos encaminhados ao albergue "Casa da Acolhida", na perifeira, onde passamos uma noite mal dormida devido às precárias condições, apesar de gratos pela presteza dos voluntários que nos receberam passada meia-noite... O Lulis foi presenteado com uma infecção facial por estafilococos que incomodou por algumas semanas.
Saímos o mais cedo possível pra evitar transtornos piores no albergue onde dormimos. Ainda pela manhã o Du e o Cheps correram atrás de um pneu novo pro lulis (o manchão não dura muito). registramos passagem no centro de Ponta Grossa e seguimos para o último dia de pedalada.
O sol do meio dia nos castigou novamente, chegamos exaustos na praça de pedágio Witmarsum. Em um S.A.U. indecente (uma cabine como as de cobrança com água e café) repousamos até o sol baixar.
Depois de 20 km estávamos na praça de São Luís do Purunã, esta sim com um S.A.U. apresentável. Sentamos no sofá, tomamos café, chegamos à fazer miojo utilizando a água quente da máquina de café e saímos, muito tempo depois, rumo aos 38 últimos km da expedição.
No final da descida da serra provocamos um acidente interno, entre nós mesmos. O Lulis vôou por sobre sua bike caindo à frente, no acostamento. Nada muito grave, mas o grupo ficou um pouco abatido e o Bruno acabou por seguir embora sozinho, na frente.
Du, Lulis e Cheps seguiram tranquilizando-se pouco à pouco (e enchendo o pneu do lulis pouco à pouco também, pois estava esvaziando vagarosamente). Ainda perdemos mais 1 hora em um ponto de ônibus em Campo Largo, esperando a chuva passar para concretizar a viagem.