Costa Verde e Mar

4 a 9 jan 2010 6 dias 667 km

Longe se vão os dias que marcaram a última grande viagem do odois: Vale Europeu, o circuito de cicloturismo brasileiro mais comentado da época - e, quiçá, de hoje também. Bela e saudosa viagem, incitou-nos desde então o anseio por outra aventura de tamanha proporção...

Para nossa alegria, toda incitação tem um clímax. E nesse clímax de anseio, em setembro de 2009, o CCB terminou de aprontar (no bom sentido) mais uma aventura cicloturística: Circuito Costa Verde e Mar, o "1º Circuito de Cicloturismo a abranger Litoral e Interior" (conhecido informalmente como "Vale 2: o Europeu vai à Praia").

selinho

Incitados e climaxtizados, saimo-se-me-nos em dois odoises, gozando da companhia experiente de Mr. Heil (que aqui posa de legítimo anfitrião-guia nas paragens lá de Enjoyinville, mas já havia dado as caras por ali, acolá e acolalá). E ao longo do caminho ainda pudemos rever velhos amigos (como o velho Sr. Luiz mais engraçado do mundo), reviver velhas piadas (uma mais piçarra que a outra), reaver velhos sentimentos (como o "sinto-me exausto") e reverter velhos sentidos (como o sentido convencional da digestão).

Acompanhe aí: 6 dias, 6 anos de odois, 6centos e tantos quilômetros, motor 6.0 do Mr. Heil, 6 rodas, 6 pernas, 222 fotos (que, seisgundo a numeróloga, fica 2+2+2=6) e, bah, o6 vejam como o2 conta bobagem pros o20. Mas vamos logo contar do primeiro dia, que até o 6 tem muita coisa por aí...

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Circuito Costa Verde e Mar
Costa Verde e Mar é uma região de desenvolvimento turístico nascida da associação de 11 municípios catarinenses da região da foz do Rio Itajaí. A iniciativa, que adota o título de Rota do Sol Catarinense, agregou em 2009 um circuito de cicloturismo planejado e implementado em parceria com o Clube de Cicloturismo do Brasil.
O circuito abrange 270 km a serem percorridos em 6 dias, varando (e variando) entre paisagens interioranas - com serras, cachoeiras e áreas preservadas - e belas e agitadas praias do litoral catarinense. A experiência do CCB na implantação do 1º circuito do gênero no Brasil, o Vale Europeu, foi aplicada na concepção deste novo que é alardeado como o 1º Circuito de Cicloturismo do Brasil a abranger Litoral e Interior. E faz juz: o trajeto corta 8 cidades litorâneas (Baln. Camboriú, Piçarras, Bombinhas, Itajaí, Itapema, Navegantes, Penha e Porto Belo) e outras 3 interioranas (Luis Alves, Ilhota e Camboriú).
Ao iniciar o circuito, em Baln. Camboriú, o cicloturista retira uma cartilha com planilhas e informações sobre todo o trajeto. A cartilha inclui uma área reservada aos carimbos / selos que devem ser recolhidos pelo viajante na passagem por cada município, requisitos para a obtenção do certificado na conclusão do circuito.
A maioria dos cruzamentos encontra-se bem sinalizada com setas amarelas (muitas nos postes, detalhes que só o cicloturista percebe). Ainda assim, recomenda-se acompanhar as planilhas e/ou traçado no GPS para garantir a permanência na rota.

Fonte: site oficial do Circuito Costa Verde & Mar e Clube de Cicloturismo do Brasil.

Mapa & Tracks

Vídeo

1Quebrando raios em busca de Heil 1 dia 134 km
DIA 1 curitiba, garuva, joinville

Se você prestou atenção no mapa, cartográfico leitor, já percebeu que este primeiro dia de viagem foi praticamente uma escala. Apesar disso, vale lembrar que descer ao litoral pela BR376 está longe de passar voando: os tradicionais cinquenta-e-tantos quilômetros pré-Vossoroca sempre se arrastam na pista antes de decolar na serra...

Ainda antes da serra, parada para investigar um barulho no traseiro do lulis (no pneu, no pneu!): um raio partiu para o raio que o parta, o pá! Retomamos a estrada até que...

  • du: Pô lulis, você não é capaz nem de tirar um raio quebrado! Tô vendo ele solto daqui!
  • lulis: Ah! Capaz! Eu tirei o raio e joguei fora, você tá vendo coisas!

Sim, estava. E a coisa era mais um raio quebrado. Quem disse que o raio não cai duas vezes do mesmo lugar? É... Olhando assim dá pra dizer que a viagem que mal começou começou mal, ó raios!

Fé na roda e serra abaixo, desembocamos na rodoviária de Garuva (palco do maior espetáculo ciclocoreográfico da história do odois). A esta altura o calor servia ciclistas gratinados e cozidos ao bafo litorâneo, mas o negócio era pedalar: fé na roda e fator 30.

No caminho, um tenso (hipertenso) estouro de pneu de caminhão à queima-roupa nos deixou quase surdos (hã? repete que eu não ouvi!). Mais à frente, no complexo gastrônomo-turístico Clube-resort-spa-palco-anfiteatro-posto Rudnick, encontramos nosso correspondente em Joiville: Mr. Heil (leia-se “mister raio”). Seguimos sob sua batuta por entre as entranhas locais (enjoy ville!), curtindo a tranquilidade e beleza da Estrada da Ilha na região não-industrial-e-nem-urbana no município.

Pausa na bicicletaria para uma geral nos raios que se-me-los-han-partido. Fim da pausa (foi rápido).

Em seguida fomos recebidos carinhosamente pelo restante da Família Heil: Margarete, Bruno, Thaís e Floofi (ou Flurfy, Foo flight, ou Flor fee, enfim...) nos trataram tão bem que nos sentíamos menos sujos e molhados do que realmente estávamos (ainda assim, o banho não era dispensável). Apreciamos (e como!) os maravilhosos dotes culinários de Miss Heil enquanto encantavamo-se-me-nos com o caminho da luz (já encaminhado ao departamento de projetos!). Enfim, cama - afinal, hoje enjoy ville é só uma escala!

2Meio noite, meio molhado 1 dia 102 km
DIA 2 joinville, barra velha, piçarras, luis alves

Se ontem foi praticamente uma escala, hoje certamente é dia de conexão. Isso porque, assim como no Vale Europeu, fizemos adaptações no roteiro oficial para viabilizar nossa viagem, reduzindo o tempo de permanência (mas não a distância). Fizemos a conexão com o circuito oficial diretamente no 2º roteiro (Piçarras - Luis Alves) - o mesmo local em que, três dias depois, desconectaríamo-se-me-nos dele, fechando então o ciclo (turismo) pela Costa Verde (e Mar).

A primeira perna (uma boa pernada) foi de Enjoyville à Piçarras (passamos voando pela velha Barra Velha). Sol à pino, paramos antes de começar oficialmente o roteiro homologado e aproveitamos para comer um churrasco (e para não virar churrasco, também). O calor rendeu até uma soneca depois do almoço, algo bem raro no odois (fazer o quê: mesinhas no meio dos eucaliptos (pormaisque fossem pinheiros), cansaço, calorzzzinhzz..zzzzz...).

Acordatis, habemos pedalare ad circuitum! Finalmente, terra à vista! Embora o impiedoso sol fritasse os três ciclocavaleiros, estes viam em cada sombra, cada gole d'água e nas ininterruptas belas paisagens motivos suficientes para celebrar uma tarde alegre. Não tão alegre frente ao temporal que se anunciava (e se anunciava alto: KABUUUUUM, tô chegando, fuja lôco!), mas a alegria foi retomada na providencial chegada à pequena vila com um grande bar (couberam ciclistas e bikes carregadas lá dentro, só ficaram de fora as nuvens carregadas - ou melhor, descarregando...).

Nota profética
Apesar de chover o que tinha para chover, as nuvens escuras ainda faziam o dia parecer meio noite (ou meio que parecia noite, mas certamente não parecia meia noite). Passada a tormenta, uma revelação: Mr. Heil surge em uma bicicleta magnífica, mostrando simbolicamente a todos (osdois) que a viagem seguiria triunfante, independente de quaisquer adversidades! (vide revelação nº 53)

Mr. Heil revelava-se cada vez mais entrosado com o espírito do odois, iniciando-se definitivamente na Arte do Autoescracho. E a viagem rendeu muitos outros momentos reveladores - se você já viu o vídeo, youtúbico leitor, já tem uma boa noção do potencial do bom velhinho...

Uma serrinha depois, chegávamos à capital catarinense da cachaça (pormaisque ande virada em banana). Acomodamo-se-me-nos no Hotel Colinas, no centro histórico, e ainda ganhamos uma carona até a Vila do Salto para jantar (no centro velho a única coisa que tinha para comer era hóstia). Lá encontramos dois cicloturistas mineiros (que também faziam o roteiro) com uma filosofia um pouco diferente da nossa:

  • "...Nosso negócio é pedalar de tarde, sô. A gente só pedala pra onde tem farra. E a madrugada é pra curtir, num é? Tomar todas e pegar balada até o dia amanhecer. Depois nós vamo durmi - e só depois pedalá, uai..."

De volta ao hotel, o negócio foi lavar um pouco de roupa, bater foto, bater cabeça e dormir que amanhã tem muito mais (mas, óia, muito mais mesmo)!

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A Arte do Autoescracho
Popularmente, escrachar significa esculachar, esculhambar, desmoralizar, zoar, tirar sarro, sacanear. O ato consiste em aproveitar uma fraqueza, vacilo ou debilidade de alguém para gerar uma situação cômico-vexativa. Escrachar o próximo pode ser relativamente divertido, mas muitas vezes é ser considerado imoral, inadequado ou mesmo preconceituoso.
Neste contexto divergente surge a milenar¹ Arte do Autoescracho, linha ciclofilosófica criada pelos seguidores do Tobateísmo que prega o escracho efetivamente escrachado, só que praticado para com o próprio escrachista. O objetivo não é divertir-se às custas dos outros, mas sim divertir os outros às suas custas. Linhas de pensamento similares, como a comédia stand-up, têm levado a arte do autoescracho às grandes massas. Diz a sabedoria aoutoescráchica:
"Escrachar os outros é fácil, escrachar a si mesmo é difícil, mas escrachar a si antes que os outros o façam é uma arte."
Um exemplo clássico da apĺicação prática do autoescracho é o uso do Pormaisque. Outro exemplo é um sitezinho de cicloturismo que nem valeria mencionar se não fosse ele o próprio berço da Arte do Autoescracho.

(¹) Pormaisque seja relativamente nova e não tenha sido criada por nenhuma Milena.

3Rodovia Antônio Heil (ele mesmo) 1 dia 115 km
DIA 3 luis alves, ilhota, camboriú velho, serra do encano, itapema, meia praia, perequê, porto belo, ponta de porto belo, bombinhas

Um dia de muitas, muitas partidas. Logo cedo partimos para um bomcafé, pois o dia seria longo. Sim, um longo trajeto que reuniria mais de dois dias do circuito oficial (quase três, até). Partimos de Luis Alves e percorremos bons trechos de terra, passando por alguns pequenos vilarejos e belos cenários, como o peculiar morro do baú.

Chegando em Ilhota, de Balsa, concluíamos o 3º Trecho do circuito oficial ainda antes do meio-dia. Esperando almoçar na cidade, terra da moda íntima e moda praia, partimos a cara - aparentemente a única coisa comestível que se vende por lá é calcinha. Paramos bem adiante, em um pequeno bar interiorano que, como reza o bom costume de quem sabe viver de forma pacata, fecha para o almoço. Com uma mesa emprestada e algumas compras na vendinha ao lado (vai logo, antes que feche!), conseguimos almoçar sem ter que mastigar lingerie.

Ainda antes das 13h partimos - e rachamos o côco suando no calor escaldante. Para compensar um pouco, partimo-nos de rir dançando a famosa dancinha do Mr. Heil. E isso às margens da rodovia que, além de levar à sua cidade natal, leva (nada mais, nada menos) do que o seu próprio nome próprio (não o seu, asfáltico leitor, o do Sr. Antônio Heil - vide o vídeo!). Na leva, aproveitamos o ensejo para oficializá-lo como um membro oficial do nosso oficialíssimo Conselhoo.

Passamos por Camboriú, ponto final de mais um dia (o 4°) do roteiro oficial (mesmo que na prefeitura não tivessem noção disso). Trocamos algumas idéias com cicloturistas da região (trocamos elas por água gelada) e, mais uma vez, partimos. Pedalamos um bom tanto (e uns bons morros) até que...

  • Ô, ô, ô du! Ô, lulis! Peraí que a corrente partiu aqui!

Partiu, sim, partiu um elo (e mais outros 4 partiram dessa pra uma melhor). E o câmbio traseiro quase partiu junto (episódio que, como o vídeo prova, partiu o coração do bom velhinho.)! Para dar um jeito, partimos pra ignorância e meio que arrumamos no braço, a fim de aguentar até Itapema, ao menos.

Chegamos em Itapema perto das 18h. Lá deixamos Mr. Heil, em casa de família (família dele), encarregado de resolver o problema do câmbio na manhã seguinte (perto do almoço estaríamos por lá novamente). Com destino a Bombas, partimos e rachamos a cabaça dando uma "esticadinha" até a ponta de Porto Belo por uma estradinha costeira com muito sobe-desce-sobe-desce, um trecho opcional do roteiro que rendeu mais uma alongada neste já longo dia.

Nota partidária
Partindo do princípio de que já não é mais tão fácil reunir os componentes por vários dias, repensamos algumas coisas nesta viagem. O trajeto denso, com muito esforço por dia, nos fez ver que realmente seria mais proveitoso partir pedalando de um ponto mais próximo (como Joinville, neste caso) e curtir os destinos com mais calma. Da próxima vez, repartiremos melhor.

Depois de chegar à ponta (que era uma ponta bela, mas naquela altura fazia só uma ponta no filme do dia), voltamos (e voltava, voltava!). O sol partiu e atravessamos exaustos o morro que leva de Porto Belo à Bombas (um parto!). Loucos para descansar, ainda rodamos mais de 11km para encontrar um camping ativo. Já eram 22h quando montamos a barraca e partimos para a principal, em busca do jantar. Sanduíches com suco e uma boa buffetada de sorvete, para encerrar a noite. Exaustos, caminhávamos com a impressão de que todos falavam castelhano e tinham a cara do Maradona. Melhor ir dormir.

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O Conselhoo
O Conselhoo, ou Conselho do Odois, constitui extensão jurídico-administrativa do odois, ora composto por personalidades intimamente relacionadas com as atividades, inatividades ou mesmo passividades do próprio grupo1. Outrossim, não é exigido que seus membros sejam cicloturistas. Outrotrossim, podem sê-lo.
Decisões que extrapolem a esfera dos componentes são levadas ao Conselhoo para deliberação3. No entanto, conclaves são tão raros que, desde sua criação, nunca ocorreram4.
Na instituição do Conselhoo5, a realizar-se em data a ser definida5, serão outorgados5 os graus de Conselheiroos apenas àqueles indicados por unanimidade5. Entre outras, são comentadas5 promulgações irrevogáveis5 de títulos vitalícios aos ilustres Mr. Heil (o motor 6.0 do odois), Dr. Athaíde (o advogado do odois) e Sir Vina (o vinícius do odois). Dado que o Conselhoo é naturalmente ótimo6, seu estatuto encontra-se em pauta5, assim como a inclusão dos membros na constituição do grupo7.

(1) Só que sem o grupo.
(2) Isso não é uma nota.
(3) A responsabilidade deliberar é toda deles.
(4) Divergências atuais o grupo leva na vara especial.
(5) Pelo Conselhoo.
(6) Se fosse bom a gente vendia.
(7) Atualmente constam apenas os bustos.

4Expedição Gástrica 1 dia 75 km
DIA 4 bombinhas, mariscal, morrinhos, zimbros, porto belo, sertão do trombudo, itapema, morro do areal, intepraias, estaleiro, taquaras, laranjeiras, baln. camboriú

O odois já comeu de um tudo nessa vida expedicionária. Podemos dizer que não temos qualquer preconceito quanto à cor, idade, textura, consistência ou família dos alimentos que ingerimos. Com exceção do du, que diz não pedalar com as pessoas que pedalam com ele (ainda que existam divergências sobre esta máxima), todos os cicloturistas aceitam tudo de bom grado por aqui. Já provamos de quase tudo, e ainda podemos provar (e provar com fotos, ora veja (veja mesmo: no outrélio aqui ao lado))!

Apesar do nosso indigesto histórico, nunca houve registro de overflow ciclo-alimentício. Nunca, até a manhã deste dia. O du acordou combalido (ou macambúzio, como diria o outro) e foi brincar de chafariz com o diafragma logo cedo. Sem vontade de tomar café ou de cantar uma bela canção, saímos sabendo que era dia de transpor muitos dos morros matadores do circuito. Recém passada a primeira subida, de Bombas à Bombinhas, o du não tomou algo para ver se melhorava e, pombas, outra bombada!

Nota gástrica
Acaso conheces, bílico leitor, o efeito da combinação de gatorade com sal de fruta? Praticamente o mesmo da mistura de mentos com coca-cola. Não tente fazer isso na sua casa (e nem no seu estômago).

O alívio só veio com uma consultoria farmaco-homeo-esteto-somática: chá de boldo concentrado (praticamente uma cápsula de energético de guaraná, só quem sem o guaraná). Uma hora parados, aguardando reações. Efeitos com laterais (e com, com componentes): enquanto o du começava a melhorar, o lulis começava a ficar proporcionalmente pior. Suspeitas recaem sobre a água do suco da noite anterior que, procurada pela equipe, preferiu não se pronunciar (embora tenha saído da boca pra fora).

Animados assim, encaramos o roteiro mais difícil e tenebroso do circuito. Cinco das cinco subidas planilhadas eram indicadas em vermelho, que naquela condição mental e física nos soou como "ó, mas que lindo dia para caminhar!". E assim foi, mais tempo empurrando a bicicleta do que pedalando...

Mas como nem tudo são floras (como diria o intestino), ao menos um consolo: passada a metade do dia pudemos contar com a disposição e o apoio do bom velhinho. Mr. Raio reavivou sua máquina austral pedalalálica antes mesmo de precisar recorrer a outros meios e, nas cercanias de Itapema, juntou-se (ah, o espírito join vilense!) ao comboio dos sem-apetite.

Tocamos rasgando (e se rasgando) pelos morros, com destino à interpraias - a estrada que revolucionaria e substituiria para sempre a expressão legal "é oito ou oitenta" (bem legal, por sinal):

Lei do "é 30 ou 30"
Promulgada na Constituição Ciclística da Interpraias, discorre sobre o tempo necessário para transpor subidas e descidas na referida. Reza que são necessários cerca de 30 minutos para transpor os trechos de subida embora, em contrapartida, o percurso das descidas deva atingir, em média, 30 segundos.
Lei do "é 3 ou 70"
Discorre sobre as mesmas condições, embora refira-se às velocidades médias (km/h).

Passado o apuro (leia-se interpraias), a tarefa era chegar a um camping em Balneário Camboriú (embora muitos, a exemplo de Bombas, já tivessem transcendido). Depois de mais 8 km, 1 pneu furado, alguns desencontros e muita chuva, chegamos ao único camping remanecente no município. Mr. Heil acomodou-se em casa de família (a sua) enquanto ficamos negociando. Turca daqui, turca de lá e (truco!), trocamos o acampamento por uma noite no dormitório do camping (perfeito para os dois, quebrados e molhados).

Para encerrar o dia, uma recompensa: um jantar com a graciosa família da Grace (dona da caixinha), incluindo ninguém menos que o advogado do odois (o velho mais engraçado do Brasil!), dignos de nota por aqui. Alimentamo-nos bem, principalmente à alma: muitas histórias e boas risadas (muitas risadas - e gostava, gostava!). Anotamos duas promessas: uma de retribuir a visita (mesmo que a gente não acredite que eles venham de bike) e outra de documentar em vídeo (gravava!) o depoimento do nosso sapiente (leia-se também hilário) guru, legítimo acadêmico do recém instituído Conselhoo.

Carona e, enfim, cama: fim de um dia muito, mas muito cansativo (tão cansativo, mas tão cansativo, que até você, pestanejante leitor, deve ter cansado de ler!).

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Gás O² Tronômico
Pequeno compêndio dos hábitos alimentares típicos do homo cicloturísticus.
  1. Jantar estilo festa havaiana, sopão de terreiro e siri satírico;
  2. Macarrão de pote, de pedágio e de saco;
  3. Lanches estilo uniforme frutinha, morangos roubados e exclusão social;
  4. Especiarias como pinhão sapeca e cachorro-quente molhado;
  5. Aniversários com diminuto defumado e panetone coreografado;
  6. Paradas estilo refri de beijinho, outras porcarias...

(²) E gostava, ah gostava!

5Fim do circuito 2 dias 241 km
DIAS 5 e 6 baln. camboriú, morro da rainha, praia brava de itajaí, navegantes, penha, costão da praia vermelha, piçarras, barra velha, joinville, curitiba

Ah, noite que passou foi realmente proveitosa (muita calma na interpretação, desconfiado leitor)! Depois de cozinhar-se-me-nos na barracada da noite anterior (e na estomacada macambúzica do dia), um quarto (inteiro) com ventilador e chuva (lá fora, mas refresca) foi suficiente para criar o ambiente ideal para um bom descanso.

Pazes feitas com o estômago (embora houvessem resquícios (no desempenho, não nas roupas íntimas)), iniciamos um dia que prometia ser mais traquilo, com algumas vermelhas subidas, embora curtas (praticamente súbitas, ou súbidas, ou subitas, como preferir - mesmo preferindo descidas).

De Balneário para Praia Brava de Itajaí mudamos da água para o vinho, ou melhor, do asfalto para a terra (mesmo que depois tenhamos passado praticamente pelo mar, literalmente). Foi como mudar de um prédio mega-ultra-tower (só que sem elevador) para um sobrado duplex (que ainda assim, não se engane, tem lá suas subidas). Após a passagem pela praia, a fábrica de triturar grãos de começou a operar nas transmissões das bikes. Algumas praias calmas, poucas súbidas e, enfim, a balsa Itajaí-Navegantes.

Nota britânica
Mr. Rod (Mr. Raio, ou Rod. Heil, como preferir - mesmo preferindo pedalar), um homem de muitos contatos, havia combinado com um amigo uma visita para um café da manhã tardio em Navegantes. Fomos muito bem recebidos pelo famoso Mr. Bean (só que sem a inglaterra, mas com cicloturismo). A conversa foi de vento em popa, encerrando a visita (e o café) praticamente na hora do almoço.

O vento sur se ia a toda e, felizmente, a favor. Antes de chegar ao Alberto Roberto Carreiro World, mais um pequeno desvio do circuito. As blasfêmias proferidas em mais uma subida logo deram lugar a interjeições e sorrisos maravilhados com a beleza do local. O desvio da Penha foi, sem dúvida, um dos trechos mais bonitos do circuito todo. Dia calmo, chuvoso, praias vazias.

Paramos adiante, em Piçarras, para um pseudo-almoço na "ponta da casa". Nesta hora decidimos dar um fim no Albino, um chocotone candidato a Incólume Objeto Itinerante que frequentava o alforge do lulis desde a véspera do primeiro dia. Depois de cinco dias viajando pelas paradas catarinenses, o heróico quitute natalino encerrou sua viagem a poucos quilômetros de concluir circuito.

Panetone eliminado, seguimos até o posto de informações turísticas de Piçarras, onde atingimos o marco de 100% de circuito Costa Verde e Mar concluído. Muita alegria e comemoração, mas tivemos que irmo-se-me-nos logo: ainda faltava um bom chão (molhado) até Joinville.

Acompanhados por muita chuva, ao menos tivemos o prazer de remendar um pneu furado de Mr. Raio utilizando o incrível sistema facilitador "pica-fora-rápido-esse-alforje-alemão". Terminamos o dia molhados em Chuvaville, mas com ânimo suficiente para finalizar o circuito com chave de ouro em um rodiziático heililílico jantar.

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Os Incólumes Objetos Itinerantes
É de conhecimento de qualquer caminhante e pedalante sujeito a cargas anexadas (independente de sua natureza, volume, peso ou opção sexual) a existência de certos objetos que costumam percorrer longas viajens intactos, pormaisque tenham sido incluídos no intuito de supostamente serem consumidos.
Estes víveres inabaláveis, denominados Incólumes Objetos Itinerantes (IOI), costumam materializar-se sob a forma de itens como pacotes de miojo, sucos em pó, bolachas salgadas, pacotes de orégano e similares.
Embora muitos acabem por sucumbir após o retorno da expedição, alguns são notadamente persistentes. O IOI mais antigo do grupo é o Mário Alberto, um pacote de Tang laranja meio aberto que já participou intacto de três passeios, duas viagens grandes e uma reunião doméstica.

Chega o sexto dia (nem o6 aguentam mais é 6 stória). Nessa altura (à altitude de Joinville) estávamos bem cansados e ainda em fase de recuperação do trauma da revolução-e-rotação-gástrica. Acordamos cedo, acolhendo a sugestão do Mestre Raio (que nos acusa de constantemente partir tarde demais), e constatamos que a megalópode catarinense realmente faz juz ao apelido de chuvaville...

Agraciados pela Cia. Heil de cicloturismo até o complexo-hidro-episcopal Rudnick, despedimo-se-me-nos tomando a BR101 (e a chuva também). Restavam apenas 100km e 900m de altitude (leia-se "problemas"). Na tradicional (praticamente tombada) parada em Garuva, sentíamo-nos como quem já percorreu o dobro disso, embora os instrumentos cagoetassem apenas 15km e -20m.

A subida da serra foi recordista: N paradas pra descansar (perdemos a energia e a conta) e velocidade média de 6km/h (sim, os quenianos passeiam muito mais rápido). Tanto "desempenho" culminou posto na altura da Vossoroca's Mountain, onde almoçamos antes de pedalar os 60km restantes.

Mais à frente, parados para esperar a chuva passar (passe logo, passe por cima, passe mal - mas passe!), ouvíamos atentos os contos de um motorista de auto-socorro. Exaustos e molhados, seguimos mesmo sob chuva (antes que autoçougueiro cortasse, digo, contasse mais alguma peça). Findamos o sexto dia com a sensação de missão muito comprida: o circuito devidamente circuitado e ciclistas devidamente verdes e mareados. E que venham as próximas bombas: pedalaremo-se-me-las! =)

Serviços #

Hotel Colina's. Marlene e Walter (47)3377-1178, hotel.colina@uol.com.br. R. 18 de julho, 1112 - Luis Alves - SC.

Camping Sombra Mar. (47)3393-6211. R. dos Canários, 4 - Praia de Bombas - Bombinhas - SC.

Camping Oásis. (47)3366-3028 . R. Malásia esq. com Av. do Estado (altura nº 2800) - Baln. Camboriú - SC.

Expediente #

Texto, comentários, viagem, fotos e vídeo por Du e Lulis, roteiro por Du (adaptado de CCB), coreografia por Mr. Heil.

Pedalado por du, lulis, heil.

Publicado em 7 fev 2010.