Prudentópolis

5 a 8 jan 2011 4 dias 273 km

Toda pessoa guarda uma lista daqueles "porfazeres" aventureiros - potenciais histórias que um dia, quiçá, se tornarão realidade. Mesmo que negue, mesmo que diga que está velho demais pra isso, mesmo que esconda dentro da sua cabeça, a lista está lá. Agora pare por um minuto e pense na sua lista, planejante leitor. Estás cumprindo com o prometido? Por quanto tempo um projeto fica incubado nela? Uma semana, um mês, um ano? Essa interacionística introdução tem tudo (e mais uns anos) a ver com a nossa ucraniosa visão de Prudentópolis. Esse sonho odoisíaco existe desde antes de haver “expedição” no cerne do “odois”. Não consta nem no velho testamento do odois. Na verdade esse anseio precede eras ciclozóicas tão antigas quanto a Era Disco e a Tomada da Pastilha, importantes fatos históricos do meio ciclístico.

Decidimos realizar o sonho de Prudentópolis (não o da cidade, o do odois mesmo), ainda que quebrando paradigmas deste castiço grupo (é, o odois). Desesperados por alcançar tão desejado circuito de gigantescas e intermináveis cachoeiras, abandonamos a indestrutível saída-sempre-pedalando-da-terra-natal e aceitamos humildemente viajar de Princesa. Assim, pela primeira vez na história do odois a expedição começa antes de começar: partimos de Curitiba a Prudentópolis princesamente na heialidade uma noite antes, iniciando a expedição propriamente dita já em terras avanço-planálticas.

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Prudentópolis
A 207 km de Curitiba, a cidade de Prudentópolis situa-se em uma região que abriga um dos poucos remanescentes significativos de Mata de Araucárias no país. Colonizada no final do século XIX, a cidade cresceu em torno do povoado de São José do Capanema, entre o primeiro e segundo planaltos paranaenses, sendo ocupada progressivamente por mais de 17 mil colonos ucranianos, poloneses e alemães. A região é considerada um pedaço da Ucrânia no Brasil, uma vez que cerca de 80% da população local tem esta descendência. Esta influência é fortemente observada na peculiar arquitetura e numerosa quantidade de igrejas do município, algumas ainda preservadas em madeira, verdadeiras relíquias. As igrejas típicas podem ser identificadas por uma base octogonal e uma torre central sobre os telhados, acabando com uma cúpula que parece a silhueta de uma pera.
Ainda que seja considerada uma Capital de Oração pela quantidade de igrejas e santuários, ou mesmo um expoente da cultura ucraniana no Brasil com importantes grupos folclóricos (como o Vesselka), Prudentópolis é popularmente conhecida como a Terra das Cachoeiras Gigantes - título que certamente não é atribuído à toa. A geografia da região contribui com o terreno bastante acidentado, rios de águas caudalosas que serpenteiam e caem pelas diversas escarpas e cânions abruptos. Prova disso é a região abrigar a cachoeira mais alta do sul do Brasil, além de outras cinco que também estão entre as vinte maiores do país.

Fontes:
Paraná, Brasil: Turístico, Ecológico e Cultural - Empresa das Artes, 2005
Paraná Espaço e Memória: Diversos Olhares Histórico-Geográficos - Bagozzi, 2005
Gazeta do Povo

As belezas naturais e históricas da região deram o tom mágico da viagem, uma aventura recheada de divertidas superações e salpicada com curiosos causos - cenas do animado vídeo e das páginas vindouras, folheândrico leitor e, porque não, paginática leitora (sim, não esqueçamos as leitoras!). Independente do sexo e das listas de porfazeres, estejam prontos para mergulhar nessa molhada expedição que representou muito mais do que apenas um item na lista deste tobateístico grupo amante da boa natureza, da boa serra e das praládeboas águas verticais!

Mapa & Tracks

Vídeo

1Estrada Velha da Serra da Esperança 1 dia 78 km
DIA 1 prudentópolis, estrada velha da serra da esperança, guarapuava

Pense e calcule conosco, hipácica leitora, talético leitor: o que acontece quando nos planejamos durante 8 anos para uma expedição de 4 dias? O quê? Acontece o óbvio: 70% das decisões são tomadas na última semana. As outras 25% são tomadas no dia anterior à partida (e as restantes nem são tomadas, são engolidas pelo caminho, mesmo). E assim, nos momentos finais da preparação do roteiro surge uma filosófica fonte quintenária de informação que indica a existência de uma possível ligação epetacular entre Prudentópolis e Guarapuava. Uma tal de estrada velha.

  • Redator II: Interrompemos o apaixonado-por-caminhos Redator I por omissão de tópicos relevantes.
  • Redator I: Quê? Nem comecei ainda! Quequeu tô omitindo?
  • Redator II: Então quedelhe o tal "dia 0" de ônibus?
  • Predator III: Ô ô ô pessoal, seis não vão contar que eu e o Thiago fomos de carro, hã?
  • Predator III: Ôo, desculpa, hã, não pode escrever em primeira pessoa, hã? Posso usar "como diria o outro", hã?

Ok, ok, voltemos ao "dia 0", fim do dia à lusco-fusco e 18ºC: Du e Lulis entram na sala de embarque da rodoviária de bicicleta (não, não uma rodoviária de bicicleta, uma de ônibus mesmo) e megazordicamente transformam um par de cicloturistas em dois malas médios, uma grande mala grande e duas desmontocicletas. Muito bem assessorados pelos funcionários da princesa (súditos da realeza), ciclo turistas e bagagens rumam seguros em excesso para Prudentópolis. Não muito distante dali, Mr. Heil e Thiago rumam (como um raio) para o mesmo destino. Uma bela noite de sono em hotel, todos na expectativa de começar a saltitante expedição (e que saltos!) no dia a seguir. Dia que tinha como objetivo, diga-se de passagem, a "Estrada Velha da Serra da Esperança" (rá!).

Advertência
Se você não conhece Curitiba e região pode pular o parágrafo a seguir (dê um salto e ganhe outros).

A tal estrada velha é mais ou menos uma torta assim: pegue a Estrada da Graciosa, reserve uns 15 anos parada, só passando uma pincelada de charrete por cima. Misture um pouco de caminho do Itupava pra engrossar o mato. Decore o traçado à lá BR277, com inclinação leve e curvas brandas. Acrescente porteiras e mata-burros à gosto, salpicando alguns bi-trens de madeira nas extremidades (da estrada, não do bi-trem). Pronto: você acabou de assar, digo, achar a estrada velha na sua mente!

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Estrada Velha da Serra da Esperança
A "um dia estrada" (hoje trilha) velha da Serra da Esperança liga a região conhecida como Relógio (arredores de Prudentópolis) às proximidades da cidade de Guarapuava (e vice-versa), transpondo do primeiro para o segundo planato paranaense. O trecho todo tem 25km de calçamento de pedra - pavimento ora em ótimo estado, ora destruído (principalmente próximo às encostas). Dadas as condições precárias em alguns pontos é recomendado percorrê-la de bicicleta (aprovado pelo odois), moto ou um veículo 4x4.
Da estrada é possível avistar algumas quedas d'água, como o Salto da Fazenda Araúna, além da Serra da Esperança e o famoso Morro do Chapéu. Quem inicia o percurso partindo de Prudentópolis enfrenta uma subida dos 770m de altitude até os 1220m do fim da estrada. Apesar da diferença, a inclinação é leve na maioria dos trechos (leia-se pedalável com carga).

Acesso
Subindo: No sentido de Prudentópolis para Guarapuava, o acesso está no lado esquerdo da via, 1km antes da Praça de Pedágio do Relógio, na BR277.
Descendo: No sentido de Guarapuava para Prudentópolis, o acesso está logo após a Polícia Rodoviária da região de Guará, no lado direito da via. Nota: como há algumas bifurcações pelo caminho, é melhor ir perguntando ou utilizar nosso mapa.

Apesar desta gastronômica descrição da estrada velha, o vídeo e as fotos ilustram melhor o quão gostoso é o caminho. Contudo, pandórico leitor, esse abandono de 15 anos só tende a piorar a situação da estrada (ou melhorar a da mata): mais uns 10 anos e talvez não haja mais pedra-ao-lado-de-pedra pra contar história. Assim, se a estrada agora está na sua lista de porfazeres, é bom ir conhecê-la ainda nesta década.

Um dia de poucas águas, com alguns riachos ao longo da estrada e o Salto da Fazenda Araúna ao longe. Ou melhor, nem tão poucas: a chuva gelada no final do dia e da estrada caiu como um balde de água fria. O plano, claro, era água de cachoeira e de caramanhola, nada mais. Mas a chuva vai e o ânimo vem. Paradinha no posto pra lavar as enlameadas bicicletas e desembarcar bonito na epicêntrica Guarapuava e lávamos nós: que água fria, que nada, a partir de amanhã é coqueluche de cachoeiras!

2Guairacá e Salto São Francisco 1 dia 87 km
DIA 2 guarapuava, estrada do guairacá, guairacá, salto são francisco, prudentópolis, linha paraná, recanto perehouski

Finalmente vai começar (hã?) o Tour das Cachoeiras - uma expectativa não de duas páginas, eufórico leitor, mas sim de 8 anos! Agraciados com um belo amanhecer, partimos para o primeiro grande objetivo (sem dúvida enorme, episcopal, ou, simplesmente, a cachoeira mais alta do sul do país!): Salto São Francisco. Nessa hora você, dialético leitor, tenta entender o que esses infelizes (ou não) foram buscar em Guarapuava para chegar em um salto em Prudentópolis. A chave? Não. A queda está em uma tríplice fronteira (incluindo Turvo também), sendo que o melhor acesso é via segundo planalto. Tudo devidamente explicado, partimos pela simpática Estrada do Guairacá.

O asfalto de uma faixa (mão única, sóquedupla) nos guiou pelo caminho inicialmente bucólico e posteriormente caótico até o Salto. O transtorno não é rebeldia nossa, mas sim do peculiar relevo da região que oferece apenas duas opções: ou sobre pra caramba, ou desce pra caramba. E essa lei vale até a última hora da expedição (faz sentido ter muita cachoeira por lá).

Chegando no parque seguimos pelas trilhas mata adentro, esperando por um "descortinar" que viria em breve. E descortinou mesmo. O Salto São Fransciso é, sim, tudo que dizem - e mais o que não dizem. Expressar em linguagem escrita, fotografada ou mesmo videolada é difícil. Um belo e gigantesco vale é a vista que aquela queda tem todos os dias, e neste vale certamente há montanhas que passam os dias a admirar a beleza do imponente salto.

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Salto São Francisco
O salto mais alto do sul do Brasil, com seus 196m de altura, localiza-se na tríplice divisa entre Prudentópolis, Guarapuava e Turvo, dentro do Parque Natural Municipal São Francisco da Esperança (847 mil m²). O parque oferece estrutura de lanchonente, banheiros e trilhas sinalizadas para visitação do mirante no topo da queda do Salto São Francisco, além do acesso ao pequeno Salto dos Cavalheiros, rio acima. Há uma trilha para chegar na base do São Francisco, mas é preciso tempo (muito) e experiência, pois além de não sinalizada é de grande dificuldade técnica.

Acesso: O melhor caminho (ainda que mais longo) é via Guarapuava. A partir do centro basta seguir pela Estrada do Guairacá, com asfalto quase até o parque (há sinalização na estrada).

E então, arriscar descer a trilha até a base do Salto? Quanto tempo mesmo? 2h pra descer e 3h pra subir? Ah, desculpa, vai ter que ficar pra outra oportunidade! Um pouco acima, no rio São Francisco, ainda visitamos o Salto dos Cavalheiros, bela queda por onde gotas inocentes deslizam sem saber o que lhes espera à frente...

A êxtase do encontro com as águas, selada com um bom e merecido descanso na lanchonete do Parque, recarregou parcialmente as pilhas cicloturísticas. Sim'bora curtir mais algumas dezenas de km nas entranhas da Serra da Esperança? Mas sabe, né? Se subimos a serra por caminhos alternativos, a descida não pode ser diferente: lá vem mais estradinhas!

Falando em "lá vem", choveu denovo. Lá vem chuva! E lavou. Lavou ciclista, câmbio, corrente... lavou de barro, mas lavou. E parou. Mas o barro que secou, esse a gente que levou. E depois? Depois cabum!!! Não, não era mais chuva, era o pneu traseiro do Thiago, explodindo (de felicidade? não, hoje não). Depois de um remendo reforçado com um manchão tradicional seguimos felizes serra abaixo. Ou não. Porque chegamos em uma ponte. E, seguindo a teoria geral do cicloturismo, mais uma vez comprovamos: ponte = f#d!. Sobe?

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f#d!
Princípio comum às teorias gerais do cicloturismo arcaico, prosáico e neoclassíclico que, baseado na observação pragmática latejante, reza que:
ponte = f#d!
O princípio sugere abolição do substantivo "ponte" na descrição de caminhos cíclicos, recomendando enfaticamente a adoção da interjeição "f#d!" em seu lugar. Diz-se que a substitução do termo foi originalmente proposta por não representar com relevância a posição geográfica em referencial altimétrico, enquanto "f#d!" exprime perfeitamente a posição dequátrica e soltastírica que corresponde à realidade cicloturística dos fundos de vale.

Sol poente, seguíamos recortando e colando caminhos para chegar no tal Recanto Pereósqui (ainda não sabíamos pronunciar). Atrasados e empurrando, praguejávamos com as serrinhas e também sorríamos com a paisagem. O GPS, determinado, avisava: só faltam 1.500m! E de descida! E.... Cabum!!! Não, não era chuva, era a vez do pneu do Lulis estourar. Mais um. Sem manchão, sem saída e sem sem luz, o negócio foi optar por uma caminhada noturna. Chegamos no Recanto desfalecidos (o recanto era Perehouski desfalecidos estávamos nós). Lá fomos muito bem recebidos pela Dona Izabel que, em instantes, conseguiu criar um típico jantar ukraíno para o restabelecimento do sistema motriz do odois. Comemos. E como. E como cansa!

Nota de sustentabilidade energética
Ávido leitor, se um dia for visitar o lugar usando o nosso roteiro, tenha a decência de pedir informações na medida em que se aproximar do Recanto Perehouski. Adquirimos uma serra e alguns quilômetros a mais que poderiam ser evitados com uso de atalhos nas proximidades.
3Recanto Perehouski, Saltos São Sebastião, Mlot e Manduri 1 dia 47 km
DIA 3 recanto perehouski, linha paraná, linha são sebastião, salto são sebastião, salto mlot, linha paraná, linha manduri, recanto rickli, salto manduri

Não é porque o dia nasceu bonito que as bicicletas voltaram a funcionar. Os pneus estourados também não ressurgiram das cinzas a plenos pulmões. Com planejamento mais apertado que shorts de ciclista, tivemos que elaborar (e executar) uma estratégia de reintegração da estrutura de avanço ciclotobateístico. Depois de muitas audiências, ficou acertado que o Lulis pegaria uma carona com a Dona Izabel até o centro de Prudenville, em busca de dois pneus novos. A carona da volta ficaria a cargo do destino. Os estáticos deveriam lavar as bicicletas e documentar a cachoeira do Recanto Perehouski.

Ao contrário da concepção desconfiometrista de uma carona na capital, o Lulis conseguiu retornar para o recanto em pouco tempo. Bicicletas em pé (pé-neus), seguimos na crença de que não seríamos afetados pelas intempéries e chegaríamos a todas cachoeiras planejadas.

Saindo no fim da manhã, retornamos na estrada até o Salto São Sebastião. O salto, ainda que com pouca infraestrutura (ao contrário do São Francisco), apresenta uma beleza tão peculiar e interessante quanto o vizinho de município. A vista do salto a partir do mirante animou o grupo a descer a trilha até a base. Logo no início Mr. Heil e Thiago abortaram a missão, mas não sem motivo: era realmente perigosa a trilha-córrego, praticamente uma cachoeira à parte.

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Salto São Sebastião e Salto Mlot
Os dois belos saltos ficam frente a frente, despencando pelo mesmo cânion. O Salto São Sebastião pode ser visto da sede da propriedade, em um mirante na mesma altitude do topo da cachoeira. Ambos possuem cerca de 120m de altura cada, impressionando pela quantidade de mata nativa que os cerca por todos os lados. Para conhecer o Mlot é necessário enfrentar uma hora de trilha muito íngreme, com alto grau de dificuldade técnica (cordas e degraus), e chegar à base dos dois Saltos. Há estacionamento no local, sendo cobrada uma módica taxa pela entrada.

Acesso: Siga pela Linha Paraná e depois pela Estrada de Jaciaba (há sinalização na estrada).

Mas pra quem foi, valeu cada escorregada. O São Sebastão é enorme e imponente. Na frente dele (isso mesmo, um olhando para o outro o dia inteiro!), o Salto Mlot impressiona pela largura e beleza. Cada um com suas qualidades, criam mais um cenário prudentopoleskamente incrível.

Trupe junta, retomamos a direção do centro da cidade. Como toda boa pedalada em sol de rachar, gasoso leitor, essa também foi regada à refrigerante vagabundo. Parada mais que emergencial num bar desplaqueado, diálogo épico entre o geolocalizador du e a tia do balcão:

  • du: - Como é o nome aqui?
  • tia: - É linha anta gorda.
  • du: - E do seu bar, como é o nome?
  • tia: - Aqui o pessoal não liga pra nome não, o povo gosta mesmo é de beber. E pinga pura!

Uma lição para o du e uma boa risada para os demais. Não ríamos era do combo de subidas que tínhamos que vencer (e não perdemos nenhuma!), frutos do característico relevo acidentópolis da região. Já fora de hora, paramos no centro para repensar o planejamento (e repesar o estômago). Repensado: a partir dali, em uma ação tagnightheística para aproveitar melhor a cidade, o du conduz o grupo por vias não convencionais até o acesso do terceiro lote de cachoeiras.

A estas horas da vida, da noite e da expedição dá pra soltar as tiras. Transferimos uma cachoeira para a manhã do dia seguinte, procurando armar a barraca no Recanto Rickli e conhecer o salto local. Agora, pensa num trem largo, sô leitor! Pensa numa queda que é tão larga que num cabe nos óio do mirante (nesse caso, o mirante é você). Esse é o Salto Manduri. Após bons momentos de contemplação, o odois parte para um momento ímpar de relaxante vadiagem expoente: banho solpoêntico de piscina. Aí você fica se perguntando: os caras foram tomar banho de piscina na terra das cachoeiras? Pois é. Deixa pra lá, compensamos isso no dia seguinte.

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Salto Manduri
Com apenas 32m de altura, o Salto Manduri impressiona pela largura: é o expoente da região com cerca de 100m entre as margens do Rio dos Patos. A área é isolada em função da represa da usina hidrelétrica anexa, sendo possível vislumbrá-lo a partir do Recanto Rickli. É o salto mais próximo do centro de Prudentópolis.

Acesso: Linha Manduri, a partir da BR373, entre Prudentópolis e Guaramiranga (há sinalização na estrada).

4Saltos Barão do Rio Branco, Sete e São João 1 dia 61 km
DIA 4 recanto rickli, linha manduri, salto barão do rio branco, linha manduri, linha ivaí, linha nova galícia, salto sete, vila ucraniana, salto são joão, recanto cassiano, linha barra bonita, prudentópolis

Se você é um leitor assíduo do odois, assíduo leitor, já deve prever esse texto de último dia. Muita rodovia, poucos atrativos, despedida, tristeza. Previsível, não é? Pois é. Então. Está errado!

Largamos na retomada do planejamento do dia anterior: a busca do épico Salto do Barão do Rio Branco. E, olhe, valeu ter deixado tal espetáculo para um momento de mais calma e iluminação. O Salto é um dos mais marcantes, com a água correndo com muita força a partir da represa, caindo em um cenário impressionante - salpicado com centenas de andorinhas. O acesso, tanto para o topo quanto para base, é facilitado pela infraestrutura da usina anexa (leia-se escadaria infinita). E agora? Sim'bora começar bem o tal último dia depois de descontar os débitos de ontem?

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Salto Barão do Rio Branco
Com 64m de altura, o Salto impressiona pela força da queda e pelo cânion desenhado à frente pelo Rio dos Patos. Ao lado do salto funciona uma pequena hidrelétrica, o que rende ao local uma boa infraestrutura de caminhos. É possível acessar com facilidade o topo da cachoeira, com uma bela vista para o cânion. A base do salto é acessada a partir de uma escadaria com cerca de 450 degraus (e vale cada um).

Acesso: Linha Manduri, à partir da BR373 entre Prudentópolis e Guaramiranga (há sinalização na estrada).

Por arranjos cânihonlísticos e numerológicos, para chegar ao próximo Salto (Sete (é o nome, não a contagem)) foi necessária uma baita volta passando pelo centro novamente, revisitando o caminho de onde um dia viemos (e de onde um dia certamente partiremos, independente de crença). Em direção ao não-tão-conhecido Sete, vivenciamos uma pegadinha épica do Google Earth versus mundo real:

Google Earth: uma reta só, no planalto (plano, veja só!) que beira o cânion do Rio dos Patos.
Mater Natura: uma reta interminável, com extensos e profundos vales, muitas subidas a 6km/h e descidas a 60km/h.

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Salto Sete
Salto menos conhecido por se encontrar em propriedade particular e longe dos principais saltos. Com altura de 77m, fica escondido entre os paredões do Cânion do Rio dos Patos. O proprietário está construindo uma ecopousada e melhorando a infraestrutura para visitantes (construção de mirante, ajuste e sinalização de trilhas). Enquanto o espaço não é inaugurado (informações em breve no site saltosete.com.br), a visitação é permitida somente com autorização.

Acesso: Linha Nova Galícia.

E isso, aclimatado leitor, somado ao fator sol-de-torrar, para acabar com qualquer resquício de reclamação de chuva. Queimadeira à parte, ainda tivemos uma baita sorte: chegamos na porteira no momento em que o proprietário, com a chave, saía. E de bicicleta! Boa, motivo suficiente para uma negociação e autorização para conhecer o Salto Sete. Por poucos instantes a mais teríamos comprado todas as subidas à toa. Tempo curto, fizemos uma rápida visita ao mirante e seguimos na esperança de uma recomposição alimentar na “Vila Ucraniana” marcada no mapa.

Lugar marcado no mapa é um conceito subjetivo. Na média do conhecimento tácito universal aplicado ao movimento rural de desenvolvimento, lugar no mapa = igreja + boteco. Pois então, ali esqueceram do boteco. Secos, queimados, cansados e longe de tudo, estávamos esparramados sem esperança no pátio da igreja: ainda havia muito chão pra percorrer e tínhamos horário espremido por conta do ônibus. E foi nesta hora de desespero que tivemos uma visão coletiva:

  • O Salvador: É o carro do picolé que está passando! Déizpicolés por apenas treizreais! (vinheta divina de milagre tocando no fundo (do coração e do estômago))
  • Odois em côro: Para o carro, para o carro, páááaaara!

Tudo bem que não foi bem uma visão: começou com uma audição e terminou com uma refescante paladaração. Mas o que interessa é que a trupe foi salva no pátio da igreja, e no final da história, a moral: salvação virá, nem que seja de Belina!

Reabilitados, retomamos: ainda tinha mais um salto pra visitar, o Salto São João (com tanta igreja e salto com nome de santo fica difícil entender porque não acreditávamos na redenção do picolé). Poucos quilômetros e aportamos no primeiro mirante, no acostamento da estrada. Víamos ali outro grande salto: uma queda forte e sonora que dava início a um vale tão impressionante quanto a do Rio Branco. Logo encontramos o acesso ao São João em uma pousada homônima: um pedaço vai carro, depois só moto, depois só bike, depois só-co-pé mesmo. Se tem um mirante que assusta quanto à proximidade (e insegurança) é esse. Mas no topo do Salto São João, ouvindo a queda rugindo e o som batendo forte no peito, acaba valendo a pena.

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Salto São João
Salto com 84m de queda, iniciando o grande cânion do Rio São João. O Salto possui grande volume de água e pode ser visto de longe na própria estrada de acesso. Na entrada para visitação há uma pousada com infraestrutura de banheiros, lanchonete e piscina, sendo cobrada uma taxa de acesso para o Salto. A trilha para o mirante no topo é tranquila e curta (15min), mas é importante ficar atento aos desfiladeiros, principalmente às margens do alto da queda.

Acesso: Linha Barra Bonita, acesso à partir da Linha Ivaí (há sinalização na estrada).

E no fim das contas (esse sim é o parágrafo de último dia) foram cachoeiras e cachoeiras pra mais de metro - dá quase quilômetro somando todas. Ainda extasiados e tentando absorver a experiência, seguimos para a Prudentópole dividindo o grupo entre os que voltariam de carro e os que voltariam de Princesa. No final, descobrimos que a quedinha que o odois alimentava por Prudentópolis não era à toa: esse não era um projeto para se riscar da lista dos porfazeres aventureiros - era, sim, um projeto para se orgulhar!

Serviços #

Viação Princesa dos Campos. 0800-42-1000, princesadoscampos.com.br.

Hotel Burack. (42)3446-4029, hotelburack.com.br. Av. São João, 2897 - Prudentópolis - PR.

Hotel Princesa. (42)3623-9755 (42)3623-2296, hotelprincesa@yahoo.com.br. R. Vicente Machado, 1798 - Guarapuava - PR.

Restaurante Canjão. João (42)3623-5003. R. Dr. Laranjeiras, 841 - Guarapuava - PR.

Recanto Perehouski. Possui infraestrutura de banheiros, área para camping, churrasqueiras e quartos para alugar. O rio que corre dentro da área tem algumas quedas baixas onde é possível tomar banho. Como em todos os serviços da região, é bom agendar a visita previamente. Izabel, (42)9122-2994. Linha Paraná Sede - Prudentópolis - PR.

Recanto Rickli. Possui área para camping, banheiros, restaurante e lanchonente, piscina e trilha sinalizada de acesso ao mirante do Salto Manduri. (42)9962-6615, (42)3446-4088, recantorickli.com.br. Linha Manduri - Prudentópolis - PR.

Expediente #

Texto e comentários por du e lulis, fotos e vídeo por lulis, roteiro por du, cachoeiras pordeusdocéu!

Pedalado por du, lulis, thiago, heil.

Publicado em 21 mai 2011.